terça-feira, 18 de setembro de 2007

Uma vida em cheio - Eusébio faz 65 anos


No dia 25 de Janeiro de 1942, numa altura em que o Mundo andava em guerra, nasceu no bairro de Mafalala, às portas de Lourenço Marques (agora Maputo, capital de Moçambique), um dos mais geniais futebolistas de todos os tempos. Puseram-lhe o nome de Eusébio da Silva Ferreira, mas ao Mundo bastou fixar a palavra Eusébio. Hoje, o ‘rei’ faz 65 anos.



A história de Eusébio poderia ter sido apenas mais uma, igual à de milhões de crianças. Nasceu pobre, num bairro periférico de uma cidade africana. Era o quarto de 11 irmãos a sustento de D. Elisa Anissabeni, pois ficou órfão de pai desde muito cedo. A paixão pela bola, contudo, moldou-lhe o destino. Consta que foi um vendedor de cautelas, seu vizinho, que lhe notou qualidades excepcionais, nas ‘peladinhas’ disputadas com bolas feitas de trapos, entre os coqueiros. Convenceu-o a jogar mais a sério e, aos 12 anos, o pequeno Eusébio passou a representar a equipa do bairro, que se chamava Os Brasileiros. Hilário, antiga glória do Sporting e também ele um dos grandes jogadores do futebol português, recorda Eusébio como “um miúdo simples e muito bem-educado. Eu tenho mais três anos do que ele. Por isso, os meus companheiros eram os irmãos mais velhos do Eusébio. E pelos mais velhos havia um enorme respeito”.Eusébio jogou por Os Brasileiros até aos 15 anos. Hilário garante que ele se distinguia de todos os outros. “Já era uma fera. Só queria bola, jogar e ganhar. Depois de Os Brasileiros foi para o Sporting de Lourenço Marques, para jogar nos juniores. Era o craque da equipa”, relembra. Antes, contudo, Eusébio foi por duas vezes prestar provas ao Desportivo, que não era mais do que o Benfica local. Em ambas foi recusado.Por alturas da chegada de Eusébio ao Sporting de Lourenço Marques, Hilário deixou Moçambique para jogar na metrópole e no Sporting Clube de Portugal. “Apesar da distância, continuei a ter notícias da evolução dele, através de informações do meu irmão Orlando, guarda-redes da equipa onde Eusébio jogava. Por isso, recomendei ao dr. Brás Medeiros, então presidente do Sporting, a sua contratação. Como resposta, pediram-me para falar com o Eusébio, no sentido de ele vir à experiência. Ele recusou. ‘Daqui só saio com contrato’, disse-me. Neste vem, não vem, surge o Benfica, que foi falar com a D. Elisa, a mãe, logo com um contrato na mão”, recorda Hilário. “Se os dirigentes do Sporting tivessem sido mais humildes, a história teria sido diferente. Ainda tentaram, depois, emendar a mão, mas era tarde de mais”, acrescenta.Eusébio estreou-se pelo Benfica no dia 23 de Maio de 1963, em jogo particular com o Atlético. Marcou três golos e os encarnados venceram por 4-2. Logo aí fez, literalmente, a diferença. No dia seguinte, a comitiva do Benfica partia para Berna, onde haveria de ganhar, pela primeira vez, a Taça dos Campeões Europeus. Eusébio ficou em Lisboa. Teve de esperar mais um ano para ter a sua primeira final e partir, então, para uma carreira fantástica, assombrada na parte final por sucessivas lesões que o obrigaram a seis operações ao joelho esquerdo. Correu o Mundo, mas perdura, aos 65 anos, como Património Nacional. PERFILEUSÉBIO da Silva Ferreira nasceu em Lourenço Marques (actual Maputo) em 25 de Janeiro de 1942. Jogou no Benfica entre 1961 e 1976, onde conquistou 11 campeonatos nacionais, cinco Taças de Portugal e uma Taça dos Campeões Europeus. Jogou depois nos Estados Unidos, México e em Portugal no Beira-Mar e U. Tomar. Representou 64 vezes a selecção nacional.ESPERAMVAM PELÉ... SAIU-LHES EUSÉBIOO Mundial de 1966, disputado em Inglaterra, catapultou definitivamente Eusébio para o trono dos deuses do futebol. A estreia do ‘Pantera Negra’ na Selecção aconteceu em 8 de Outubro de 1961, apenas dez meses volvidos sobre a sua chegada de Moçambique. Foi um dia para esquecer, com uma derrota no Luxemburgo, por 4-2, apesar do obrigatório golo na estreia. Marcaria mais 40, de quinas ao peito.Na pátria do futebol, contudo, os ingleses e o Mundo aprenderam a respeitar Portugal e a curvar-se perante Eusébio, que viria a sagrar-se melhor marcador do evento, com nove golos. Nesse Mundial, quando todos esperavam ver Pelé a brilhar, foi Eusébio a estrela mais cintilante do firmamento. O jogador português foi protagonista de momentos únicos e inesquecíveis, com jogadas que ainda hoje fazem parte dos compêndios universais da arte de bem jogar. O jornal britânico ‘News of the World’, referência da época, não perdeu tempo: atribuiu-lhe o título de ‘Melhor jogador do Mundo’.Um ano antes, já Eusébio tinha arrecadado a ‘ Bola de Ouro’, para o melhor jogador europeu. Em 1968 ‘calçou’ a primeira ‘Bota de Ouro’ (melhor marcador europeu), proeza repetida em 1972. PANTERA NEGRA E OUTROS MIMOSEusébio ganhou uma carinhosa alcunha, ‘Pantera Negra’, que acabaria por se tornar, entre nós, portugueses, tão popular como o seu próprio nome. O que poucos sabem é que a alcunha foi importada de Inglaterra, seguramente o país do Mundo que mais reverencia Eusébio, depois de Portugal, bem entendido. Foi um jornalista inglês, de nome Desmond Hackett, quem um dia lhe chamou ‘Black Panther’, em homenagem à sua forma felina de jogar futebol. O nome pegou e por cá ficou ‘Pantera Negra’. Já a alcunha de ‘King’, nome pelo qual o tratam os craques como Figo, Rui Costa ou Vítor Baía, deve-se ao facto de a marca de artigos desportivos Puma ter dado esse nome, ‘King’, a um modelo feito em homenagem a Eusébio. Quanto ao título de ‘Pelé da Europa’ sempre foi recusado: “O meu nome é Eusébio”, disse-o quando saiu a sua biografia, precisamente com esse título.
Mário Pereira

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