terça-feira, 18 de setembro de 2007
GOSTAR DO BARREIRO
Também há muitas coisas que eu não gosto no Barreiro. Em alguns aspectos até sou crítico da gestão CDU. Mas tenho memória e conheço o Barreiro há quase 50 anos.
E não é pelo facto de ser membro do PCP e apoiante da CDU que te tenho menos legitimidade para defender, no essencial, a gestão que foi sendo feita ao longo destes quase 30 anos de democracia.
A revista “Única” do jornal Expresso, na sua edição do passado dia 6 de Janeiro, publica um artigo sobre as, supostas, melhores cidades portuguesas.
Trata-se de um trabalho de interesse relativo levado a cabo por 6 jornalistas.
Mas, nem todos os trabalhos, supostamente louváveis, passam disso mesmo. Aliás, os próprios autores assumem, desde logo, o elevado (digo eu) grau de subjectividade na apreciação/avaliação que ditou o ranking publicado na página 34.
Sem por em causa a idoneidade e seriedade dos referidos jornalistas bem como dos técnicos de que se socorreram, é sempre possível afirmar que, fossem outros os autores e fossem outros os técnicos, os critérios e a avaliação poderiam determinar outros resultados.
Mais à frente voltarei ao assunto mas, entretanto, gostava de referir as duas reacções que li no Rostos on-line. Um deles foi escrito pelo Nuno Banza e o outro pelo deputado municipal Humberto Candeias.
Aqueles que me conhecem melhor sabem que procuro não ser sectário e, por isso, assumo com clareza que gostei bem mais da análise feita pelo Nuno Banza. Talvez ele pudesse ser mais contundente pois até tem “massa crítica” para isso. Já quanto ao que o Humberto Candeias escreveu acho que, para além de uma certa pobreza intelectual, é manifestamente um texto oportunista e que não cuida em ir ao fundo das questões.
Tanto mais que quem ouve as suas intervenções, nomeadamente na Assembleia Municipal, fica com a sensação de que ele sabe bem do que está a falar. Depois, com mais calma, vê-se que não é assim. Não bate a bota com a perdigota.
Não só nas intervenções que faz mas sobretudo no que escreve, nota-se uma grande superficialidade e uma intenção “psicologista” de se servir de todos os argumentos para combater o PCP/CDU. Eu sei que o Humberto Candeias não vai gostar de ler isto mas, como sei que é um democrata, vai aceitar que tenho o direito e a legitimidade para poder concordar ou discordar dele com frontalidade.
O exercício que ele fez e que julgo caracterizar um pouco o Bloco de Esquerda, é um exercício gratuito de contestação e de oposição retórica à gestão do PCP/CDU nas autarquias do distrito. Serviu-se de um trabalho jornalístico, de mais que discutível objectividade e isenção.
Partir da “grelha” do Expresso para sustentar o que escreveu é um mau serviço que ele presta, não tanto aos eleitores da CDU mas, sobretudo, aos eleitores do Bloco de Esquerda e, já agora, pouco ou nada contribui para melhorar a “imagem” do Barreiro.
Eu concordo com o Nuno Banza que não se devem traçar fronteiras artificiais entre os que nasceram ou não no Barreiro. Já não é a mesma coisa se falarmos dos que gostam ou dos que não gostam do Barreiro.
Também há muitas coisas que eu não gosto no Barreiro. Em alguns aspectos até sou crítico da gestão CDU. Mas tenho memória e conheço o Barreiro há quase 50 anos.
E não é pelo facto de ser membro do PCP e apoiante da CDU que te tenho menos legitimidade para defender, no essencial, a gestão que foi sendo feita ao longo destes quase 30 anos de democracia.
Seria ridículo pensar que o Humberto Candeias ou o BE ou o PS ou o PSD pudessem criticar a CDU e eu não pudesse apoiar. Não tenho mais razão por ser maioria assim como os outros não tem mais por ser oposição. Costumo dizer que na China comem cães e que nós cá vamos ao veterinário para os salvar. Ambos vivemos no mesmo planeta. Os chineses por serem mais (cerca de 1.300 milhões) não tem mais razão por isso.
Posto isto volto ao artigo do Expresso.
Embora eu não seja nenhum especialista, fiz alguns pequenos exercícios.
Usei os mesmos 20 critérios e procurei “arrumá-los” com uma sistematização diferente. Procurei apenas situar o Barreiro em relação a cada um deles e não fiquei tão “desanimado” quanto o Nuno Banza pareceu.
Acessibilidades – 29º
Sinalética – 27º
Fluidez de tráfego – 37º (à frente de Lisboa e do Porto)
Oferta cultural – 31º
Espaços verdes – 14º
Qualidade urbanística – 37º
Comércio – 12º
Relação com a água e a paisagem – 30º
Equipamentos desportivos – 19º
Estacionamento – 37º (à frente de Lisboa e do Porto)
Segurança – 38º
Animação nocturna – 25º
Alojamento e turismo – 40º
Restauração – 29º
Equipamentos sociais – 32º
Governança e cidadania – 7º
Capacidade de atracção industrial – 31º
Desempenho económico – 32º
Qualidade dos espaços públicos – 39º
Na “grelha” do Expresso o Barreiro aparece em 39º do ranking.
Não vou discutir a forma como cada um dos jornalistas ponderou cada um dos critérios. Digo apenas que são subjectivos e susceptíveis de outra ponderação. Chamo apenas a atenção para meia dúzia de factores.
- Quantas cidades no país tem um movimento associativo (colectividades de cultura, desporto, recreio mas não só) tão rico quanto o Barreiro e tão antigo?
- Será que o uso que os barreirenses fazem das “tascas” do petisco, dos bares e snack bares, com as suas formas de exercício de convívio humano, não é animação nocturna?
- Em termos de transportes públicos, municipais, de massas quais são as cidades que tem melhor serviços que o Barreiro com os TCB?
- Quantos hospitais no país tem serviços de Radioterapia tão eficientes quanto o Barreiro?
- Quantas cidades tem o seu território “ocupado” por infra-estruturas com a dimensão da Quimiparque, da CP/Refer ou com os espaços de domínio público marítimo onde a Câmara quase não pode intervir?
Estamos a falar de um dos concelhos mais pequenos em território do país e um dos com maior densidade populacional (hab/ha)
Apenas mais um exemplo quanto a cidadania. Cito apenas resultados de votantes em 3 eleições distintas.
Parlamento Europeu (2004)
Barreiro 43,52%, Coimbra 40,24%, Lisboa 42,26%
Autárquicas (2005)
Barreiro 53,8%, Coimbra 57,32%, Lisboa 52,65%
Presidenciais (2006)
Barreiro 64,52%, Coimbra 64,38%, Lisboa 63,1%
(Dados do Ministério da Justiça e do STAPE)
Será que estas performances de cidadania não querem dizer nada? E se dizem como as compatibilizar com os critérios dos jornalistas do Expresso?
Volto ao início.
Provavelmente, outros jornalistas e outros técnicos teriam chegado a outras conclusões.
Aí vou mais longe que o Nuno Banza. O Barreiro do que menos precisa é de um olhar preconceituoso sobre a sua situação e sobre as suas capacidades.
Já agora e sem desprimor para nenhuma outra região, acho que património também é a história do povo e das suas tradições e, nisso, o Barreiro não fica nada a dever a ninguém.
Aqui paga-se mas “bufa-se” ainda que muitos possam achar que isso é sinónimo de revolucionarismo esquerdista.
Se alguma vez alguém fizer uma sondagem para saber se os portugueses gostariam mais de viver em Espanha do que em Portugal, não será de admirar que escolham Espanha. Como diz o ditado popular “ a galinha da minha vizinha é melhor que a minha”.
Por último mesmo, quero dizer ao Humberto Candeias, mas não só, que, muito provavelmente, a culpa do que somos e da situação em que estamos não é da gestão PCP/CDU. A culpa deve ser de D. Afonso Henriques que ousou fundar a nação que hoje somos.
Se ele o não tivesse feito se calhar nem o Bloco de Esquerda existiria.
José Encarnação
(Membro do PCP e apoiante da CDU)
Rostos
19 - 1 - 2007
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