sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Conhece a história dos relógios de sol?

A história, o património e a caracterização científica dos relógios solares em Portugal juntaram um jornalista apaixonado pela temática do Tempo e dois matemáticos numa obra inédita que será lançada no equinócio da Primavera.


O projecto resultou da constatação de que "não havia nenhum livro sobre Ciência Gnomónica em Portugal e o seu património", disse hoje à agência Lusa um dos seus autores, Fernando Correia de Oliveira.

Não sendo um levantamento exaustivo, o livro, profusamente ilustrado, revela "um património público de mais de 700 relógios de Sol em todo o país, mais a norte do que a sul", e mostra a evolução destes instrumentos e do seu relacionamento com a comunidade.

A gnomónica, cujo nome deriva de "gnómon" (ponteiro solar em grego), assenta basicamente na medição do tempo a partir da evolução da sombra de uma vara vertical ao solo, durante o dia e ao longo do ano, segundo a posição do "astro-rei".

"Embora as pessoas os ignorem, muitas igrejas portuguesas têm relógios solares nas fachadas voltadas a norte, sobretudo na zona do Porto e no Minho, em quase todas as aldeias", afirmou este jornalista e investigador, autor de uma já extensa obra dedicada à Relojoaria e ao Tempo.

Como exemplo desse alheamento, chamou a atenção para o caso de uma âncora existente junto ao jardim situado em frente ao Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, que em tempos funcionou como relógio solar, com marcas na relva.

Numa zona tão procurada pelos turistas, esse relógio "está completamente ao abandono e só era preciso arranjar a relva à sua volta para que pudesse voltar a funcionar", comentou.

Segundo o livro, os primeiros relógios de Sol terão entrado no território que é hoje Portugal através da conquista romana, para se tornarem de uso comum no início do século II, regulando a vida e o trabalho nas cidades.

Após o seu apogeu, no século XVIII, quando entram nos espaços de habitação e de lazer da nobreza e da burguesia, perdem importância com a industrialização, devido à mobilidade e precisão dos relógios mecânicos, que acabaram por ditar o seu declínio.

Porém, "tem-se assistido nos últimos tempos a um renovado interesse pela gnomónica", diz Fernando Correia de Oliveira: "Voltam a aparecer em lugar de destaque em espaços e edifícios públicos e privados, já não tanto pela sua função de marcadores do tempo, mas pela poesia perene que traduzem".

à história e à descrição do património, o livro junta explicações científicas sobre os princípios básicos da astronomia e da construção dos vários tipos de relógios solares.

Os outros autores do livro são Nuno Crato, investigador em estatística de séries temporais, docente, divulgador da ciência e presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, e Suzana Metello de Nápoles, também professora universitária e comunicadora de matemática.

Esta docente tem coordenado o projecto Sombras do Tempo, do Centro de Matemática e Aplicações Fundamentais da Universidade de Lisboa, de sensibilização das escolas para a Gnomónica, nomeadamente através de uma exposição itinerante sobre relógios de Sol e acções para a sua construção.

O livro "Relógios de Sol", a lançar a 21 de Março em Lisboa, com a chancela dos CTT, é ilustrado com fotografias de Jorge Correia Santos e inclui uma colecção de selos alusivos ao tema.

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