quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Estou aqui para ganhar - Hillary candidata à Casa Branca


A senadora democrata Hillary Rodham Clinton anunciou ontem a sua muito esperada candidatura à Casa Branca. “Estou na corrida e estou nela para ganhar”, afirmou, numa declaração inserida no seu ‘site’ oficial da internet. A mulher do antigo presidente Bill Clinton declara assim a sua pretensão de tornar-se a primeira mulher presidente dos EUA, um dia depois de o rival democrata Barack Obama oficializar também a candidatura, tentando, por seu lado, ser o primeiro presidente negro do país mais poderoso do Mundo.

Os adeptos de Hillary consideram-na o rosto mais credível da oposição para acabar com oito anos de poder ultraconservador em Washington. Mas os cépticos lembram que ela é mais conhecida dos norte-americanos por causa do escândalo Monica Lewinsky (no qual representou o papel da mulher enganada que perdoou o marido) do que pelas suas posições políticas.

Para os cínicos, o facto de ter permanecido ao lado de Clinton, durante e depois o escândalo (apesar de hoje fazer uma vida muito afastada do marido), não foi um acto de amor, como ela afirma, mas de oportunismo político. Sem a ligação aos anos de poder do marido (1993- -2001) e sem os contactos que essa ligação lhe garante, seria apenas mais uma candidata, e ela sabe-o.

Em todo caso, Hillary tem hoje (nove anos após o escândalo do envolvimento de Clinton com a estagiária da Casa Branca) uma carreira política própria, na qual se destacam as vitórias esmagadoras nas eleições para o Senado (em 2000 foi eleita pelo estado de Nova Iorque, no qual nunca tinha vivido, e renovou o mandato nas intercalares de Novembro de 2006).

Conhecedora do impacto dos triunfos, depois de enfrentar campanhas, nem sempre limpas, dos rivais republicanos, Hillary começou a jogar o trunfo para se destacar da competição interna. “Após vitórias esmagadoras em Nova Iorque posso dizer que sei como pensam os republicanos e como vencê-los”, afirmou.

A candidatura de Hillary faz dela a primeira esposa de um ex-presidente a tentar chegar ao poder e, mais, a fazê-lo com reais possibilidades de sucesso. Obama, a estrela em ascensão da ala democrata, saudou a sua entrada na corrida: “Não é uma rival, é uma aliada no trabalho de recolocar o país no caminho certo.”

Entre os republicanos, o rival mais poderoso que se perfila, para já, no horizonte (George W. Bush fica de fora por ter acumulado dois mandatos sucessivos) é o antigo presidente da Câmara de Nova Iorque, Rudolph Giuliani. Embora muito popular, por ser o rosto da resistência no pós-11 de Setembro, Giuliani pode encravar na corrida interna, uma vez que desagrada à ala mais radical dos conservadores.

PERFIL

Hillary Clinton nasceu em Chicago, Illinois (1947) e foi educada segundo os princípios metodistas. O pai, Hugh Rodham, era um republicano convicto, o que a levou, em 1964, a apoiar o candidato republicano à presidência Barry Goldwater. Quatro anos depois, no entanto, era já uma democrata. Formou-se em Ciência Política em Wellesley, Massachusetts, e depois em Direito, em Yale. Aí conheceu Bill Clinton, com quem casou em 1975. Apoiou a carreira política do marido até à presidência e ao final do seu segundo mandato, em 2001.

BILL SERÁ O 'PRIMEIRO CAVALHEIRO'?

Hillary Clinton leva consigo para a corrida presidencial o apelido do marido e o peso político que ele arrasta. Mas ao fazê-lo corre o risco de introduzir no seu percurso, igualmente, as associações negativas com os escândalos que marcaram os anos de poder de Bill Clinton.

O antigo presidente tem-se mantido longe da ribalta desde o final do segundo mandato (em 2001), em boa parte para não atrapalhar a ascensão política da mulher, e vive sobretudo de conferências pagas a peso de ouro, que continua a fazer um pouco por todo o Mundo.

Mas, para lá da imagem popular do casal, colorida pelas tintas da sexualidade exuberante do antigo presidente, é pertinente perguntar (como fazem já os republicanos) o que será de Bill Clinton no caso de uma vitória eleitoral de Hillary (pressupondo que continuam casados). Aceitará Bill o papel de ‘Primeiro Cavalheiro’ da nação? Ou Hillary correrá o risco de ser vista como uma testa-de-ferro de uma nova presidência exercida, de facto, pelo marido?

MULHERES NO PODER

NANCY PELOSI

Aos 66 anos, foi escolhida para presidente da Câmara dos Representantes. É a terceira figura do Estado e a primeira mulher a ocupar o cargo.

SÉGOLÈNE ROYAL

Deputada aos 35 anos, ministra aos 38, candidata a presidente aos 53. Se vencer será a primeira mulher no Eliseu.

ANGELA MERKEL

Com 52 anos, a democrata-cristã Angela Merkel tornou-se a primeira chanceler alemã.

TARJA HALONEN

A presidente da Finlândia, de 63 anos, é a primeira mulher no seu país a ocupar o cargo.

MICHELLE BACHELET

Socialista, de 55 anos, é também a primeira figura feminina na presidência do Chile.

ELLEN J. SIRLEAF

A presidente da Libéria, de 67 anos, tornou-se a primeira mulher chefe de Estado em África.

OUTRAS CANDIDATURAS

DEMOCRATAS

BARAK OBAMA

O jovem senador negro do Illinois é uma estrela em ascensão no Partido Democrata. A inexperiência é muito bem disfarçada com uma espantosa eloquência que conquista audiências. Opõe-se à guerra no Iraque.

JOHN EDWARDS

‘Número dois’ de John Kerry em 2004, defende a plataforma antipobreza. Opõe-se à guerra.

REPUBLICANOS

JOHN MCCAIN

Ex-piloto da Marinha, o senador do Arizona é um veterano da guerra do Vietname. Apoia o presidente no reforço de mais tropas no Iraque.

MITT ROMNEY

Mormón e filho de um antigo governador do Michigan, o liberal Romney aprovou no Massachusetts a proibição de venda de armas de fogo.

SAM BROWNBACK

O conservador senador do Kansas opõe-se ao aborto e à utilização de células estaminais para fins científicos. Defende o ensino da teoria do criacionismo nas escolas.

RUDY GIULIANI

O antigo ‘mayor’ de Nova Iorque, que liderou a cidade na tragédia do 11 de Setembro, é o mais mediático e mais liberal dos candidatos republicanos.
F. J. Gonçalves com agências

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