sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Dura batalha na França


Reportagem: Sônia Bridi e Paulo Zero (Paris)

O presidente da França, Nicolas Sarkozy (foto), sabe que tem uma guerra pela frente e está decidido a vencê-la, mas o adversário se arma. O que quer o presidente? Fazer a reforma trabalhista e na previdência. Os sindicatos dizem não.

Hoje na França, há mais de um milhão de aposentados no regime especial, ganhando mais do que os outros aposentados. A conta quem paga são os contribuintes. O rombo é de € 12 bilhões por ano.

É na poderosa Confederação Geral do Trabalho (CGT, sigla para “Confédération Générale du Travail”), que o presidente da França Nicolas Sarkozy encontra a maior resistência às reformas. Entre duas reuniões preparando uma greve para o dia 18, o secretário-geral Jean-Christophee La Duigou conta por que a central sindical esta cerrando fileiras para parar o transporte em Paris, os trens e serviços de eletricidade e de gás.

“Existe uma vontade do poder publico de atacar especificamente a algumas categorias de assalariados”, diz Jean-Christophee La Duigou.

O governo quer acabar com o regime especial que permite que alguns se aposentem mais cedo e ganhando mais do que os outros. Um condutor de trem, por exemplo, pode se aposentar aos 50 anos. Um eletricista pode ganhar € 2 mil, quando o trabalhador privado recebe € 1,3 mil de aposentadoria.

Sessenta e cinco por cento dos franceses são a favor da reforma. O governo quer elevar a idade média com a qual as pessoas param de trabalhar, que hoje é de 58 anos.

Chamado na França de “onipresidente”, porque comanda pessoalmente cada ação do governo, Sarkozy também ataca outra instituição francesa: a jornada de 35 horas semanais. Quem trabalha mais recebe o pagamento em folga.

Patrice Genvrin, que morou no Brasil, diz que teve que congelar salários. “A gente teve que bloquear o salário para poder ficar com uma competitividade razoável.”, conta.

Sem aumento, o francês foi ficando mais pobre – e o país também.

“A lei das 35 horas mudou o espírito dos franceses, ou de uma parte importante deles, em relação ao trabalho. O valor do trabalho não é tanto quanto era antes”, acrescenta Patrice Genvrin.

O governo diz que vai mudar a lei para permitir que quem quiser fazer hora-extra possa receber em dinheiro e espera aumentar a competitividade das empresas.

Ao contrário dos seus trens, a economia francesa anda muito lenta e perdendo posições. Foi ultrapassada pela Inglaterra e agora é a terceira da Europa. Em termos de PIB per capita, até a Irlanda é mais rica do que a França.

É esse sentimento de que alguma coisa precisa ser feita que pode ajuda o presidente Nicolas Sarkozy a aprovar as reformas, mesmo que o remédio seja duro demais e transforme o paciente em outra coisa.

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