sexta-feira, 21 de setembro de 2007
As jogadas enfeitadas geram discussão fora e dentro de campo. Dentro daquilo que é permitido pelas regras do futebol, tudo pode? Ou certas atitudes pegam mal? O que é recurso, o que é arte, o que é exibicionismo e o que é provocação? Kerlon, do Cruzeiro, deve continuar praticando a jogada espetacular que criou? Ou deve ser aberta a temporada de "caça às focas"?
O jogador Kerlon tem 19 anos. Seu crime? Ter inventado e praticar um drible que só ele, no mundo inteiro, é capaz de fazer. Ganhou o nome de Drible da Foca (foto). Tem cara de circo.
Mas é futebol. Apenas um futebol que tinham se esquecido de inventar, até o surgimento do garoto Kerlon. Não vai contra nenhuma regra do esporte e, até agora, ninguém descobriu a maneira eficaz de marcar.
“Muitos acham certo. Outros acham errado. Então, o que vale é que eu sei fazer, muitas pessoas gostam. Acho que isso é para o bem do futebol”, defende o jogador.
No clássico Cruzeiro e Atlético Mineiro, a Foca deu confusão. O Cruzeiro vencia o Atlético por 4 a 3, faltavam 10 minutos para o fim do jogo, quando Kerlon convocou a foca. E provocou a ira do adversário Coelho. E de outros também. Kerlon e a Foca merecem essa reação?
“Aquilo lá é bonito. Tem que fazer sempre no futebol. É isso que engrandece o futebol brasileiro”, diz um torcedor.
“Para mim, foi uma provocação”, aponta um mineiro.
Os jogadores do Atlético Mineiro, especialmente Coelho, não falaram sobre a caça à foca. O técnico Leão é que falou, logo depois do jogo. “Acho que ele está dentro da regra, nada a lamentar. Ele conseguiu seu objetivo, só que temo, no futuro, que ele fique fora, por muitos anos, se ele fizer isso e tomar um chute veloz, grave, no rosto, e nunca mais jogar”, disse o técnico Leão (foto).
“Por ele estar com a cabeça quente, ter perdido o jogo, favoreceu essa declaração”, contrapõe Kerlon.
No mesmo domingo, Dodô, do Botafogo, fez uma das jogadas mais bonitas do ano. Cá entre nós, humilhou o zagueiro Fábio Braz. A questão faz parte da interminável discussão do que é bonito e o que é desrespeito. O lance enfeitado é uma forma de menosprezar o adversário? Ou faz parte do show? Tudo é permitido? Toda firula é crime?
“É só saber diferenciar quando é abuso, desrespeito ou objetividade tirar proveito da qualidade que você tem”, opina o técnico do Botafogo Cuca.
Claramente, certas manobras só são tentadas quando o time está ganhando. Se estiver perdendo, tem que jogar sério. Mas alguns enfeites são absolutamente eficientes. Ajudam a chegar ao gol e a vencer. Enquanto outros enfeites, são só para enfeitar, mesmo. Ainda assim, será que um pode e o outro não?
“Eu pagaria de novo para ver o jogo”, comemora um torcedor do Cruzeiro.
“A gente pede arte. Ele podia ter feito quando entrou em campo, mas era o momento do jogo”, diz um brasileiro.
Parece um mal do futebol. Por que essa necessidade de "ter que ser macho", "para cima de mim, não"?
Em outras modalidades, a firula parece ser mais bem aceita. Mas, se alguém quisesse encontrar motivo para brigar, não poderia encontrar? Os dribles de Falcão, no futsal, são arte ou deboche? As pedaladas de Robinho são arte ou deboche? Os adversários que encontrem uma forma de abater suas focas. Mas dentro da lei.
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