sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Diz-me o que escreves


Um dos mais simplórios truques da propaganda, um truque sem cor usado por todo o tipo de totalitarismos e primarismos, de fascistas a maoístas passando por regimes “brancos”, consiste em repetir e fazer repetir a mesma mentira, em contextos diferentes, a propósito e a despropósito, contando com efeitos diversos na esperança de um dia se tornar “verdade”. Só pela força da repetição. E quanto mais não seja, por exaustão — ou perda de memória.
É o que sempre me ocorre quando leio frases como «da quase hegemonia da esquerda na comunicação social» (aqui).
Tenho visto a teoria amplamente ecoada nos últimos anos, na blogosfera, e nunca, and I mean nunca, vi um só número ou estudo que a sustente. Nem sequer um argumento que ultrapasse o nível da lengalenga, ou da afirmação minimal-repetitiva.
Já desafiei os estudiosos da Comunicação Social a produzirem algo que prove ou desminta tal tese. Debalde. Uma prova - eis o que não interessa a ninguém.
As respostas que recebi quando fiz notar que existem indícios de que não é assim, nomeadamente fazendo a contabilidade às direcções e chefias e cronistas — que produzem o essencial doutrinário de um meio, dando a cor à agenda e um rumo às investigações que conduzem a notícias –, foram: o número de jornalistas de esquerda é maior que o número de jornalistas de direita (o que admito empiricamente, mas não é essa a questão), e que se faz um jornalismo “social” e de “causas”, defendendo os “fracos” e “oprimidos” pelo capitalismo, esse odiado (pressupondo-se que este é um jornalismo condenável e que o “bom” jornalista seria aquele que entoasse panegíricos ao mercado).
Muito bem.
Constato, uma vez mais, que em certas regiões da blogosfera a fidelidade factual vem depois da fidelidade ao clã. Pelo “quanto depois” podemos medir quase cientificamente o nível de envolvimento de cada unidade no todo. Valha-nos isso.

Paulo Querido

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