sexta-feira, 21 de setembro de 2007

UM NOVO MERCADO PARA O BARREIRO



Numa atitude pouco comum, um cidadão apresentou, na Assembleia Municipal do Barreiro, um projecto estruturado que pretende ser uma alternativa de localização para o mercado da Verderena, que encerra em Setembro, e simultaneamente um motor de revitalização do Barreiro Velho. Entre apoios e resistências, que estão a surgir cada vez mais, António Cabós Gonçalves promete não desistir e afirma-se disposto até a levar a sua proposta a referendo.

MS: Como e quando surgiu esta ideia do mercado?
CABÓS GONÇALVES: Há muitos anos que, por razões várias, me debruço sobre a questão do Barreiro Velho. Faz-me muita confusão, ao longo dos anos, nunca ter havido um ataque forte, com uma estratégia clara para enfrentar este problema, pois o que se vê são lamentos e as casas continuam a cair.
Quando surgiu esta questão do mercado, eu pensei: “Aquele mercado vai acabar. Há uma série de pessoas que ficam sem sítio para vender. Porque não levar essas pessoas, que ficam sem sítio para vender, para um conceito novo?”.
Claro que pessoas que queiram lá vender teriam de se sujeitar a um conjunto de regras.
Nunca me passou pela cabeça transferir o mercado da Verderena tal como ele é para o Barreiro Velho e, se as pessoas lerem o regulamento, percebem que não haverá lixo espalhado, nem carrinhas lá dentro. Segundo as plantas de implantação, os módulos a ser colocados na rua são guarda-sóis de 4x4 metros, ou de 3x3 metros, e haverá sempre espaço nos passeios e para veículos de emergência. Cada sector terá o patrocínio de uma marca.

MS: O mercado será, então, um motor de arranque para a revitalização do Barreiro Velho?
CG: Quando o Fórum Barreiro abrir, as pessoas podem passar o tempo todo lá dentro, ou podem sair para a rua, para o centro do Barreiro. A proposta do mercado é central, mas, englobada numa estratégia mais vasta relacionada com a regeneração, a recuperação urbana, a renovação e o desenvolvimento de todo o Barreiro Velho, considerado por decreto-lei como uma zona em perigo e a necessitar de recuperação, mas onde nada foi feito.
Se estimarmos duas mil pessoas por semana no mercado, aquele local passa a ser apetecível para abrir lojas e outras actividades.
Neste momento, o que se passa na Rua Marquês de Pombal é que 20 por cento das casas estão fechadas, entaipadas e a cair. Do comércio que lá estava situado, muito fechou. Só os restaurantes e os bares ainda resistem.

MS: Quais as principais características do novo mercado?
CG: Existirão quatro sectores. O primeiro sector apanha o largo de Nossa Senhora do Rosário, cujo terreno é da igreja. Já me colocaram algumas questões relativamente às cerimónias da igreja, sendo os velórios um problema mais complicado, mas que se resolve com a realização de velórios noutros locais, de segunda para terça e de sábado para domingo. Quanto aos casamentos e baptizados, digo apenas que, em todo o país, as feiras, as festas e os mercados fazem-se junto às igrejas, e não me consta que tivesse deixado de se realizar algum casamento ou baptizado devido a isso. Portanto, esse primeiro sector apanha o largo da igreja e o troço da Rua Marquês de Pombal até ao “Água e Sal”, não havendo módulos nos atravessamentos. Aí está destinado aos vendedores de roupas, calçado e adereços de lar.
O segundo sector apanha o largo do “Água e Sal” e vai desde o “Joaquim dos Petiscos” até à travessa a seguir aos “Moitas”, onde estará a secção de produtos naturais e biológicos, flores, frutas e legumes. Nos dois sectores a seguir estarão as antiguidades, artesanato, artes pictóricas, escultores.

MS: Mas como seria então gerido esse mercado?
CG: A estratégia é simples: criar uma empresa a que eu chamei Sociedade de Desenvolvimento do Barreiro Velho S.A., sendo o modelo adaptado de uma sociedade que se chama Azores Parque. Uma das características fundamentais é que a Câmara ficaria sempre com 50 por cento do capital mais uma acção, ou seja, com maioria absoluta. A Câmara entra com os imóveis no Barreiro Velho como capital e vai adquirindo os imóveis, cujos donos não queiram ou não possam recuperar. Neste sentido, é importante estabelecer uma estratégia, em relação aos proprietários, de pressão e incentivo à recuperação
dos imóveis.
A proposta que eu faço tem muito pouco impacto financeiro para a câmara desde que se encontrem os parceiros certos, como a Quimiparque ou a MD promotora do Fórum Barreiro, o que não me parece difícil.

MS: Quanto tempo levaria o projecto a ser posto em prática?
CG: A ser colocado no terreno 3 a 4 meses, a dar frutos nunca antes de um ano.

MS: Como é que a sua ideia tem sido acolhida junto dos feirantes?
CG: Muito bem. Há, desde logo, o apoio expresso da Federação Nacional das Associações de Feirantes. Tenciono entrar em contacto com o advogado dos feirantes para entregar uns inquéritos, de forma a ver até que ponto estão interessados. No entanto, devo salientar que este mercado também se destina a outro tipo de feirantes, como artesãos, artistas de rua, etc.

MS: E como está a ser acolhida a ideia junto dos moradores?
CG: Há aqui um problema de que ninguém quer falar. O que se diz por aí é “aquele doido quer trazer os ciganos para o Barreiro Velho”. Ora, primeiro, grande parte da população desta zona é de etnia cigana e depois eu nunca vi nenhum cigano a conduzir pela esquerda, o que significa que, desde que existam regras definidas e controlo efectivo, tanto ciganos como qualquer outra pessoa tem direito de vender no mercado.
Há, à volta deste assunto, uma enorme desinformação. Existe um abaixo-assinado num café contra a transferência do mercado da Verderena para a Rua Marquês de Pombal e eu só não vou lá assinar porque poderia ser entendido como provocação. Não faz sentido, de facto, a transferência de um local para o outro. O que eu pretendo é um projecto completamente diferente.
No entanto, tenho tido o apoio dos moradores mais informados. Sobretudo os jovens estão muito entusiasmados e têm dado muitos contributos.
Eu estou disponível para explicar o projecto e, em último caso, recorrerei ao referendo, para isso bastam menos de 600 assinaturas. Se há coisa de que eu não tenho medo é de ouvir as populações.

MS: E junto do executivo camarário?
CG: O que sei é que o presidente, que foi a primeira pessoa a quem expliquei o projecto, considerou-o muito interessante do ponto de vista teórico. Esta semana tivemos uma reunião e o presidente fez questão de dizer que não tinha dúvidas nenhumas de que a minha postura é de cidadania, animada das melhores intenções e com um trabalho sério, no intuito de apresentar contributos para solução dos problemas do Barreiro Velho.

MS: Como é que as diferentes forças políticas reagiram ao seu projecto?
CG: O líder do PSD no Barreiro, Miguel Amado, escreveu um artigo no qual fala da surpresa dos partidos políticos perante a proposta estruturada de um cidadão, que não se limitou a dizer mal.

MS: O que o levou a entrar desta forma no projecto?
CG: Depois de estudar a ideia aprofundadamente, concluí que seria boa para o Barreiro Velho e que resolveria alguns problemas da cidade. Sob pena da ideia ficar na gaveta e não ser aproveitada por ninguém, a minha obrigação é comunicá-la da melhor forma possível. O que não se comunica não existe, daí o meu empenho em torná-la visível.

MS: Sendo uma das figuras mais reconhecidas do PS Barreiro, por que não fez a proposta no âmbito do seu Partido?
CG: Em primeiro lugar, se eu tivesse apresentado isto no PS, hoje estaríamos na terceira comissão de avaliação depois da décima terceira reunião para decidir como é que a proposta iria ser apresentada. Em segundo lugar, se tivesse surgido de um Partido Político, porque existe uma visão clubista da política, iria ter logo a oposição de todos os outros partidos. Por último, porque a ideia é minha, ou seja, pelo seu sucesso ou insucesso respondo eu. No entanto, os benefícios do seu sucesso quero que sejam de todos porque eu não quero nenhum.

Irina Veríssimo
Margem Sul

1 comentário:

António Cabós Gonçalves disse...

Olá João

So agora vi a transcrição da entrevista neste teu blog, que não conhecia.

Como é hábito, vou acrescentar esta refrência na "badana" do blog do Projecto.

Um abraço do

António Cabós gonçalves

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