quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Médicos trabalham pouco


O ministro da Saúde acusou os especialistas de Oftalmologia de pouca produtividade, atribuindo-lhes responsabilidade pela elevada dimensão das listas de espera para consultas e cirurgias oftalmológicas em Portugal.

Correia de Campos foi ainda mais longe, afirmando que “se cada oftalmologista trabalhasse mais meia hora por dia e fossem realizadas mais 0,6 por cento de cirurgias oftalmológicas diariamente em Portugal não havia listas de espera nesta especialidade”.

A declaração foi proferida durante a apresentação da segunda fase da campanha de informação sobre medicamentos genéricos, promovida pelo Infarmed, no decorrer da qual o ministro da Saúde disse ter em sua posse “desde Junho um relatório referente à actividade de Medicina Oftalmológica em Portugal, que contém números preocupantes mas esperançosos”, apontando culpas à pouca exigência praticada no sector e considerando que “a situação não é boa e é simplesmente o resultado de diversos erros acumulados”. Nesta área, o responsável pela pasta da Saúde considera que existe uma “escassa exigência na produtividade quantitativa”.

Admitindo que a falta de médicos que se observa actualmente em Portugal contribui também, em grande escala, para a situação que se vive, não só na área da Medicina Oftalmológica em particular mas no sistema de saúde português em geral, o ministro da Saúde adiantou que foram já tomadas algumas medidas de combate a esta tendência. “Iniciei já diversos contactos com médicos estrangeiros para praticar entre nós”, adiantou, informando que, paralelamente a esta medida, estão a ser preparados planos para formação e adaptação desses profissionais às exigências e necessidades da prática da Medicina em Portugal.

No final da apresentação, Correia de Campos voltou à questão, levantada recentemente, do controlo de assiduidade dos médicos. De acordo com o ministro, a nova medida, que prevê um controlo de presenças biométrico – validação do cartão de ponto por impressão digital – nas unidades de saúde, “é uma forma mais justa e equitativa para os melhores profissionais não serem prejudicados”.

Correia de Campos comentou também as recentes declarações do bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes, que reagiu ao anúncio dessa medida afirmando que “qualquer gestor, mesmo o mais ignorante, sabe que o recurso a métodos rígidos provoca uma diminuição da produção”.

O ministro disse não saber “que manuais de gestão foram consultados, porque não existe nenhum manual que diga que uma maior presença no local de trabalho provoque menor produtividade”. Deixou também um aviso à classe médica, declarando que “os profissionais de excelência nada têm a temer do sistema”, e garantiu “não ter dúvidas de que o sistema vai funcionar bem”.

IMPOSSÍVEL ALARGAR HORÁRIOS

O presidente do Colégio de Oftalmologia da Ordem dos Médicos, Florindo Esperancinha, reagiu às declarações do ministro da Saúde, afirmando ao CM que “quem trabalha na área da Oftalmologia em Portugal sabe que um alargamento dos horários é impossível”.

O mesmo dirigente adiantou que “a situação nos hospitais privados, neste momento, é suficiente para responder às solicitações, e só não o é nos hospitais públicos porque as condições não são as melhores”. Para Florindo Esperancinha, a solução não passa pelo alargamento dos horários mas pela “motivação dos funcionários”. “Não há modelos novos para pôr as pessoas a trabalhar mais tempo”, disse, adiantando que deviam ser estabelecidos “acordos entre os serviços e os hospitais e condições para desenvolver a actividade”.

O presidente do Colégio de Oftalmologia referiu ainda que “transformar os médicos em funcionários vai fazer com que muitos abandonem o Serviço Nacional de Saúde”.

GENÉRICOS APOSTAM NA CONFIANÇA

Foi apresentada durante a tarde de ontem, na sede do Infarmed, a 2.ª fase da campanha de divulgação dos medicamentos genéricos em Portugal. O presidente do Infarmed, Vasco Maria, realçou a posição de destaque que os genéricos ocupam já no País, fixando em 20 por cento a quota de mercado a atingir até ao final de 2008. Referiu ainda que o principal objectivo é aproximar os níveis de consumo de medicamentos genéricos em Portugal dos observados na Europa, onde chegam a ser de 40 a 60 por cento em alguns países.

Salientando a “necessidade de desenvolver o mercado destes medicamentos em novas áreas de intervenção e não naquelas em que o mercado já se encontra saturado”, o responsável máximo da autoridade nacional do medicamento realçou também a necessidade de “baixar mais os preços, que são ainda elevados quando comparados com alguns países europeus”.

A nova campanha do Infarned envolve principalmente a divulgação da qualidade, eficácia e segurança dos genéricos, e aposta numa mensagem de confiança.

SAIBA MAIS

5 milhões de portugueses – ou seja, metade da população – vêem mal ao perto ou ao longe ou sofrem de uma doença dos olhos mais ou menos grave.

32 093 É este o número de portugueses que aguardam em lista de espera por uma cirurgia de oftalmologia. Esta área é a segunda com mais procura no País.

MÉDICOS NO PRIVADO

O número de pacientes nos hospitais públicos é elevado porque os médicos existentes também exercem actividade no privado, de acordo com Florindo Esperancinha.

CEGUEIRA

Estima-se que mais de 175 mil portugueses têm cataratas e cerca de 150 mil sofrem de glaucoma, o que conduz à cegueira.

CONTROLO BIOMÉTRICO

As entradas e saídas dos profissionais de saúde são controladas por um dispositivo que permite reconhecer as suas impressões digitais.

Diana Paiva

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