sexta-feira, 21 de setembro de 2007

O Centenário da CUF no Barreiro


Século e meio após a primeira Revolução Industrial,

Portugal acordou e deu por si no Barreiro”

Jorge Calado



Em 2007 iremos comemorar o Centenário da CUF no Barreiro. Durante este ano, o Jornal do Barreiro irá ocupar-se, com frequência, deste acontecimento.

Parece simples, dito desta maneira. E, no entanto, poucas terras deste nosso Portugal tiveram a sorte de assistir a actos fundadores de tão magno significado, como este por que a pequena vila passou, nesse já longínquo ano de 1907, em que a Companhia União Fabril começou a construir, em terrenos que aqui tinha adquirido, à beira-rio, um fábrica de extracção de azeite do bagaço, que arrancaria em 19 de Setembro de 1908.

A partir desse princípio modesto, a Empresa lançou-se num impressionante ciclo de desenvolvimento, que viria a transformar o Barreiro, em 50 anos, no maior centro industrial da Península Ibérica.

Para isso, foram necessários vultosos investimento, ao longo de muitos anos, a ritmos totalmente desconhecidos em Portugal, em diversas áreas industriais e comerciais, com relevo para a indústria química pesada, de modo a satisfazer as necessidades básicas do país em variados produtos vitais.

O Barreiro tornou-se também um poderoso foco de atracção para as migrações internas, à escala nacional, passando a acolher gente de inúmeros pontos do país, e fazendo aumentar a sua população de cerca de dez mil pessoas em 1910 até perto de noventa mil em 1980, numa das maiores explosões demográficas que Portugal conheceu.

Essa fixação local de mão-de-obra conferiu depois ao território características peculiares, de agregação de modos de saber-fazer e de diversos contextos culturais de origem, que o tornaram num ímpar caldeirão humano, e num poro de inovação tecnológica, em que tudo era possível montar e pôr a funcionar.

Aqui se juntaram grandes massas operárias, que geraram importantes elites, mas também inúmeros funcionários, técnicos e engenheiros, do melhor que o país alguma vez conheceu, sempre conscientes de que estavam a colaborar em estruturas operativas quase únicas no país.

Essa tarefa gigantesca, do erguer de raiz uma poderosa cidade industrial no Barreiro, à vista de Lisboa, na margem sul do Tejo, com acessibilidade portuária directa para o mar, apoiada na testa de ponte do Caminho de Ferro do Sul e Sueste, em comunicação directa com as minas das pirites alentejanas, foi obra, no essencial, da Companhia União Fabril.

O seu impulsionador, Alfredo da Silva, foi o maior génio industrial e financeiro do século XX português, como hoje unanimemente se reconhece. Dotado de uma enorme capacidade de trabalho, e com impressionante facilidade de gestão de recursos humanos e técnicos, foi homem de grande visão estratégica, expandindo sucessivamente as suas áreas de negócio, chegando o seu império à indústria naval, à aviação, à banca e aos seguros.

Nascido a 30 de Junho de 1871, só o seu falecimento em 22 de Agosto de 1942 viria por termo a uma vertiginosa carreira, em que tanto se distinguiu pela sua notável direcção de empresas, como pela instintiva capacidade de selecção de excelentes colaboradores, como pela sua permanente atenção ao bem estar dos seus funcionários e à expansão da sua obra social, de que os barreirenses em particular muito aproveitaram.

Corre impressa uma razoável biografia sua, em que se toma contacto com o homem e com a sua obra, e dá ocasião de acompanhar as etapas da construção desse império, de que o Barreiro foi a indiscutível capital.

Tanto assim aconteceu, que Alfredo da Silva escolheu ser sepultado no coração das suas fábricas do Barreiro, junto daqueles que com ele trabalharam, em vez de um tradicional mausoléu de família. E temos que convir que o seu túmulo, que aí continua, faz justiça à dimensão da sua figura.

A Cidade deu-lhe o nome à sua principal avenida, e ergueu-lhe uma invulgar estátua, na zona central dessa mesma artéria.

Outras terras criaram monumentos aos seus conquistadores, aos seus guerreiros, aos seus artistas, aos seus escritores.

O Barreiro, sempre diferente, ergueu uma estátua a Alfredo da Silva, um homem do mundo do trabalho e do engenho.

Miguel de Sousa

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