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Um dos maiores escritores britânicos, JG Ballard, escreveu um livro que poderia ser um excelente meio de meditação para todos: “Cocaine Nights.” A acção passa-se num “resort” de ingleses na Costa del Sol em Espanha. Um paraíso onde um crime abana todo o ambiente idílico do local. Isso lembra-nos alguma coisa?
Talvez uma urbanização no Algarve onde os turistas eram ingleses e o responsável também. Como em “Cocaine Nights”, espanhóis e portugueses eram figurantes. Lá, como cá, há a verdade e a ficção: e ambas se cruzam num mundo em que tudo é gerido pelas imagens e pela sua manipulação política e publicitária. Mostrou como a polícia portuguesa vive num mundo sem defesas face ao rolo compressor do complexo mediático/publicitário/político britânico. Como, desde o início, os pais de Maddie conseguiram criar uma mensagem global que milhares de outras crianças (mesmo na própria Grã-Bretanha) nunca mereceram. Sem a bênção política britânica (de Blair ou de Brown, tanto faz), o sorriso perdido de Maddie não teria atingido o coração de todos os que já perderam os seus filhos em todo o mundo. Há, claramente, quem perde tudo neste jogo. A verdade, porque os personagens deste drama estão em Inglaterra. Mas Portugal, o da promoção “Allgarve” à classe política e judicial. O silêncio do Governo e do PGR, para defender a polícia portuguesa, mostra a nossa posição de “velha aliada”. A verdade? Talvez nunca se venha a descobri-la. Porque talvez o sorriso sofrido de Maddie não mereça esse desenlace. Porque a verdade será sempre horrível.
Fernando Sobral
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