quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Martins quer tudo na net


O advogado de Carlos Silvino, José Maria Martins, pediu autorização ao tribunal que julga o caso de pedofilia na Casa Pia para publicar todo o processo na internet e as transcrições das escutas telefónicas juntas aos autos, designadamente conversas de José Sócrates, interceptadas nos dias anteriores à detenção de Paulo Pedroso, que diz serem “vergonhosas”.

“As escutas telefónicas têm de ser dadas a conhecer aos portugueses e ao Mundo”, defende o advogado, alegando que demonstram a existência de tráfico de influências e manobras de pressão sobre o Ministério Público. Para fundamentar as suas acusações, José Maria Martins recorda que o antigo procurador-geral da República, Souto Moura, afirmou que “acusar Farfalha [pedófilo açoriano] não era a mesma coisa que acusar Carlos Cruz”.

“Este processo pode ser qualificado como a maior vergonha que Portugal viu nascer e crescer”, escreveu ainda Martins num requerimento onde desfia acusações contra várias personalidades – como José Miguel Júdice e Proença de Carvalho – , envolve a Maçonaria e o Opus Dei e faz referência ao processo Dona Branca.

A Ordem dos Advogados é o principal alvo das críticas de Martins, sendo acusada de proteger os “seus” causídicos e de “encabeçar” os “ataques ao Ministério Público”. No rol das acusações nem os juízes que julgam o caso escapam: “O tribunal tem dado largueza à defesa de Carlos Cruz, apertando as vítimas até à exaustão.”

A demora do processo também é assinalada por Martins. “O arrastar do processo só beneficia os arguidos”, afirma o causídico, enumerando algumas situações que diz só serem possíveis no julgamento de pedofilia.

O advogado de Carlos Silvino classifica o seu cliente como “um desgraçado” que “não deve ir para o Inferno sozinho”. “O Estado português deve ir também”, acrescenta, afirmando que a Casa Pia “era um aviário onde os pedófilos se iam abastecer”.

DISCURSO DIRECTO

"V. Ex.ª sabe que o teor das escutas telefónicas, até as conversas de José Sócrates são vergonhosas."

"A Casa Pia era um aviário onde os pedófilos se iam abastecer."

"V. Ex.ª sabe que o arguido é um desgraçado a quem marcaram a personalidade, e que não deve ir para o Inferno sozinho."

"O arguido não tem partido e está empenhado na descoberta da verdade."

"A Ordem dos Advogados indicou advogados para as vítimas e para a Casa Pia."

Requerimento de José Maria Martins

MARLUCE VAI HOJE A TRIBUNAL

O julgamento do processo Casa Pia é hoje retomado no Tribunal de Monsanto, após o período de férias judiciais de Verão. Para a 323.ª audiência estão agendadas várias testemunhas, entre as quais a ex-mulher de Carlos Cruz, a brasileira Marluce, mãe de Marta Cruz.

A maioria das 920 testemunhas arroladas já prestaram depoimento, mas falta ainda ouvir cerca de 230 pessoas, entre as quais os ex-ministros Paulo Pedroso – que chegou a ser arguido no processo – e Paulo Portas, chamado pela defesa de Carlos Cruz.

O tribunal, no entanto, espera que até ao fim do ano toda a prova seja produzida para que a leitura do acórdão possa acontecer no início de 2008, mais de três anos após o início do julgamento, o mais longo da história da justiça portuguesa e provavelmente o mais caro. Só em despesas com material informático e de papelaria, adaptação de espaços, limpeza e encargos com viaturas, o Ministério da Justiça garante ter despesas no valor de 76 mil euros. No entanto, os custos reais ascendem a mais de um milhão de euros. O processo conta já com mais de 47 mil folhas, 202 volumes e 505 apensos.

SAIBA MAIS

322 audiências já foram realizadas nos 34 meses de julgamento do processo Casa Pia, que teve início a 25 de Novembro de 2004. Hoje, realiza-se a 323.ª sessão.

76 mil euros é quanto o Ministério da Justiça garante ter gasto com o processo em material informático e de papelaria, adaptação de espaços e viaturas.

ESCUTAS

Antes da detenção de Paulo Pedroso, em Maio de 2003, o actual deputado esteve sob escuta e foram interceptadas conversas com Ferro Rodrigues, António Costa e José Sócrates, entre outros políticos.

RECUSA

As críticas de Martins aos juízes não são novidade. O advogado chegou a pedir o afastamento de Ana Peres, mas não teve sucesso.
Ana Luísa Nascimento

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