terça-feira, 18 de setembro de 2007

Sérvia - Apesar de terem sido o partido mais votado - Ultranacionalistas fora do governo


Os ultranacionalistas do Partido Radical sérvio (SRS) vão ficar fora do próximo governo, apesar de terem sido a formação política mais votada nas eleições de domingo na Sérvia. O partido de Tomislav Nikolic não obteve a maioria necessária para governar sozinho e deverá, mais uma vez, ficar remetido à oposição. A nova coligação será formada pe-lo bloco nacionalista do presidente Boris Tadic e do primeiro-ministro Vojislav Kostunica.


“É duro ser o maior partido e não ter o poder”, lamentou o líder ultranacionalista, que pela segunda vez consecutiva se vê arredado do poder apesar de vencer as eleições. “Não temos parceiros para formar uma coligação, não vamos apoiar nenhum governo e não pediremos apoio para um governo minoritário”, afirmou Nikolic, vaticinando que o futuro governo será de “curta duração”. “Teremos eleições antes do fim do ano”, afirmou.

Com 62,6 por cento dos votos contados, o Partido Radical, de Nikolic, lidera folgadamente a contagem com 28,3 por cento, seguido pelo Partido Democrata (DS) do presidente Tadic, com 22,7 por cento, e pelo Partido Democrata da Sérvia (DSS, nacionalista moderado) do primeiro-ministro Kostunica, com 16,4 por cento.

Face à incapacidade dos ultranacionalistas para formarem governo, caberá agora ao DS e ao DSS a formação de uma coligação maioritária com uma ajuda do pequeno partido reformista G17, que conquistou 6,8 por cento dos votos. Esta coligação conta com o apoio formal da União Europeia, que minimizou a vitória dos ultranacionalistas, optando por saudar o facto de as forças pró-europeístas deterem a maioria dos votos no seu conjunto. “Os radicais venceram as eleições, mas dois terços do Parlamento ficarão nas mãos das forças democráticas. Acredito que serão estas a base de um governo que certamente aproximará o país da Europa”, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, que detém a presidência rotativa da UE.

Bruxelas, recorde-se, suspendeu no ano passado as conversações sobre a adesão da Sérvia à UE devido à recusa do governo de Belgrado em entregar o antigo comandante sérvio-bósnio Ratko Mladic, procurado por genocídio e crimes de guerra. A UE considera ainda que apenas um governo reformista poderá fazer avançar as discussões sobre o futuro estatuto do Kosovo.

KOSOVO DIVIDE REFORMISTAS

Os parceiros de coligação do futuro governo sérvio têm posições opostas no que diz respeito à questão do Kosovo, o que poderá constituir um sério obstáculo ao entendimento no seio da coligação. Enquanto os democratas do presidente Tadic reconhecem que o Kosovo “já está perdido”, os nacionalistas moderados liderados pelo primeiro-ministro Kostunica garantem que nunca abrirão mão do que consideram o berço da nação sérvia. O enviado da ONU ao Kosovo, Martti Ahtisaari, deverá divulgar sexta-feira a sua proposta para o futuro estatuto da província, que deverá passar pela independência. O primeiro-ministro do território, Agim Ceku, apelou ontem à “resolução rápida” da questão.

REACÇÕES

DURÃO BARROSO

O presidente da Comissão Europeia congratulou-se com a maioria alcançada pelo conjunto das forças democráticas, que considerou favorável a uma maior aproximação da Sérvia à UE. “Mais uma vez, quero dizer aos sérvios que pensamos que o seu lugar é na Europa, connosco na União Europeia, se conseguirem pôr o seu passado nacionalista para trás”, afirmou.

JAVIER SOLANA

O alto representante para a Política Externa da União Europeia ressalvou o facto de as forças democráticas deterem a maioria no Parlamento e manifestou esperança na formação de um governo “pró-europeu e democrático”.
Ricardo Ramos com agências

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