sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A RECEITA MÁGICA

Numa altura em que muitas das economias da OCDE já entraram em recessão, parece quase inevitável que, mais cedo ou mais tarde, o mesmo irá acontecer à economia portuguesa. É só uma questão de tempo. Ora, como o investimento público costuma ser a receita mais utilizada para combater recessões, à primeira vista poderia parecer que a melhor maneira de estimular a economia passaria pela aposta nos grandes projectos de investimento já projectados. Nada poderia estar mais errado.
Por mais que os nossos políticos nos queiram convencer do contrário, o investimento público não é uma receita mágica para a retoma econômica. Muito menos no Portugal actual.
Desde a nossa adesão à Comunidade Européia todos os governos têm apostado na modernização das infra-estruturas nacionais. Ainda bem, pois Portugal registava atrasos consideráveis em relação a outros países europeus. Hoje isso já não se passa. Bem pelo contrário. No entanto a política de betão tem sido tão utilizada (e abusada) que já começam a haver indícios de um efeito de saturação do investimento público.
Afinal, construir uma segunda auto-estrada entre Lisboa e Porto não tem o mesmo impacto do que a construção da A1. por outras palavras, há claro rendimentos decrescentes associados ao aumento do investimento publico. É exactamente isto que nos indicam vários estudos acadêmicos recentes.
Claro que nem todos os projectos de investimento têm o mesmo impacto. No entanto, antes de continuar a teimar na miragem da Alta Velocidade, convêm lembrar que só a ligação do TGV entre Lisboa e Porto irá custar tanto como o volume de negócios anual do grupo Sonae, um dos maiores do país. Isto na melhor das hipóteses. Será que não conseguíamos arranjar melhores soluções para montantes dessa envergadura? Parece-me que sim. E assim urge perguntar: qual é a alternativa ao investimento público? Ajudar as famílias e as empresas portuguesas, quer apoiando-as directamente na renegociação das suas elevadas dividas junto dos bancos, quer através da introdução de maiores benefícios e reduções fiscais. Igualmente, em vez de embarcar na loucura financeira do TGV, apoiemos os nossos inovadores e empreendedores, e melhoremos os sistemas de incentivos à dinâmica empresarial. Apoiemos os nossos exportadores, não só através da concessão de incentivos e prêmios de desempenho, como também através de generosos incentivos fiscais. Não tenhamos receio de quebrar imposições comunitárias limitadoras da ajuda estatal às empresas inovadoras, pois, nestes tempos recessivos outros estados-membros também o farão.
E mesmo se continuarmos a pensar que a recessão tem que ser combatida com o aumento do investimento estatal, então concentremo-nos em projectos de rentabilidade menos duvidosos.
Construamos mais hospitais, melhores escolas, melhores acessibilidades para o interior esquecido pelo poder central. Utilizemos parte dos 4,5 mil milhões de euros destinados à ligação Lisboa-Porto para atrair mais empresas de alto e médio valor acrescentado para melhorar a competitividade fiscal das empresas, para reciclar os conhecimentos dos trabalhadores desempregados, e para conceder vantagens financeiras às empresas que se localizem nas nossas regiões deprimidas.
Mais do que o Sebastianismo do TGV, mais do que o faraonismo da Alta Velocidade, mais do que a varinha mágica ilusória do investimento público, a crise terá que ser vencida com o condão do empreendedorismo e da inovação nacionais.
Cabe ao estado proporcionar as condições para que tal aconteça.


‘Àlvaro Santos Pereira’

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

UMA LEITURA DESAPAIXONADA DOS RESULTADOS DOS EXAMES

No meio da turbulência recorrente dos resultados dos exames, não tenho pretensões a realizar uma leitura isenta: por mais que me preocupasse em fazê-lo, dificilmente poderia evitar que o leitor a não fizesse. Mas permitam-me que tenha a pretensão de fazer uma leitura desapaixonada, olhando com olhos de ver o que desses resultados é possível extrair. Nem mais, nem menos. Deixo os processos de intenção e as leituras políticas dos resultados para quem, mais competente e mais empenhado do que eu, pretende com eles contribuir para que os exames em Portugal ganhem a credibilidade e cumpram com justiça e equidade a finalidade para que foram criados: avaliar com rigor – em conjunto com outros instrumentos – os desempenhos escolares.
O problema central destes resultados está indissociavelmente relacionado com o que o debate público tem vindo a identificar como intenção “facilitista” de combater o insucesso escolar. Evitei participar nesse debate até que dispusesse da informação indispensável a uma apreciação fundamentada. Só agora o poderei fazer.
Comecemos pelas provas do 9º ano. Se considerarmos os valores médios das classificações na prova de Língua Portuguesa registados desde 2005 é possível identificar uma melhoria que eu classificaria de insignificante.
No caso da prova de Matemática o ano de 2008 apresentou as melhores médias (2,94) e a menor percentagem de “negativas” (43%). Nos três anos anteriores as médias foram sempre inferiores a 2,5 e as percentagens de negativas sempre superiores a 60%.
Será normal ter uma proporção de classificações negativas de 71%, como se verificou na prova de Matemática em 2007? Então porque será tão anormal a média de 43% em 2008? Qual delas será mais “anormal”?
Quem observe um gráfico das freqüências dos cinco níveis de classificação na prova de Língua Portuguesa reparará que, desde 2005, as distribuições tendem a aproximar-se da normal. Ano de excepção foi 2006 com uma anormal incidência de negativas no nível 2. não me lembro de alguém ter falado em “dificultismo”.
Nos casos das provas de Matemática do Básico a observação destes três anos revela-nos uma outra “anormalidade”: perto de 50% dos alunos não vai além do nível 2 (a esmagadora maioria) e a distribuição é enviesada para as notas negativas. Mesmo no corrente ano de 2008 a percentagem de negativas é superior a 40%. Uma situação destas só é normal para o tradicional espírito de carpideira que emerge nestas épocas.
No caso das provas de exames do ensino secundário a situação já é diferente.
Reconheçamos ou não o esforço que os diferentes agentes educativos têm vindo a realizar, há um facto que tem sido esquecido ou desvalorizado. Nos anos anteriores à Reforma do Ensino Secundário os alunos tinham de realizar, pelo menos, cinco provas numa época de exames. Desde 2005 os alunos fazem 4 provas distribuídas por dois anos (11º e 12º), podendo ainda realizar “melhoria de notas”. Só com esta alteração as classificações médias teriam necessariamente de subir.
Dito isto, a surpresa está na prova mais concorrida: Português/Português B, em que as médias têm vindo a baixar nos últimos três anos. Entre 2006 e 2008 a proporção de classificações negativas duplicou, de menos de 20% quase atingiu os 40%.
Na segunda prova com maior número de alunos inscritos, Biologia e Geologia, houve uma ligeira melhoria em comparação com os anos anteriores. Porém, seria bom não esquecer que os resultados de 2007 foram claramente anômalos: mais de 50% de classificações negativas.
Na terceira e última prova que nos interessa analisar o problema é inverso: em Matemática A/Matemática os resultados têm vindo a melhorar desde 2006 e no corrente ano de 2008 podemos mesmo dizer que foram excepcionais.
Quem analisar os resultados num leque diversificado de escolas ou confronte as distribuições pelos diferentes escalões e ao longo dos últimos três anos, só pode concluir que houve uma qualquer “anomalia” nesta prova. Qualquer teste estatístico a identificará facilmente. Só é estranho que idênticas “anomalias” em provas de anos anteriores não tenham sido tão rapidamente denunciadas, especialmente as que motivaram elevadíssimas percentagens de classificações negativas e reprovações.
Concluindo, o que esta leitura rápida dos resultados permite extrair é que há um problema no modelo de concepção das provas. A variabilidade dos resultados de ano para ano e de disciplina para disciplina não confere credibilidade e estabilidade ao actual modelo de avaliação.
Durante muitos anos a opinião publica e publicada só esteve focada na responsabilidade dos alunos e dos professores e raramente pensou na qualidade e na aferição das próprias provas. Com a obsessão de encontrar erros científicos nos enunciados, esqueceu-se de encontrar deficiências pedagógicas e de falta de qualidade de aferição. Este modelo de avaliação – que assenta no que há muito designo por “exame de autor” – gera um problema de equidade e de comparabilidade que ainda não foi resolvido.
É neste contexto que a utilização dos resultados dos exames para sustentar o sucesso ou insucesso das políticas educativas só pode ter uma conseqüência identificável: a descredibilização dos exames como instrumento de avaliação.


‘David Justino’

terça-feira, 18 de novembro de 2008

A Vergonha de não ter vergonha na cara

Há quatro anos, o administrador do Banco de Portugal Manuel Sebastião foi procurador do administrador do Banco Espírito Santo Manuel Pinho na compra de um prédio em Lisboa. Esse prédio era propriedade do Banco Espírito Santo, tendo Manuel Sebastião servido de intermediário numa compra entre o BES e um administrador do BES. Manda a boa prática que um administrador de um banco não se envolva em negócios pessoais com o próprio banco que administra. E manda a lei que o Banco de Portugal supervisione o funcionamento do Banco Espírito Santo.

Manuel Sebastião viria mais tarde a adquirir um apartamento nesse prédio, entretanto remodelado. Em Março deste ano, o ministro da Economia Manuel Pinho nomeou Manuel Sebastião presidente da Autoridade da Concorrência. A lei exige que a Autoridade da Concorrência seja um "regulador independente". A possibilidade de ela entrar em conflito com o Governo é elevada, sendo no mínimo discutível que um ministro nomeie um amigo pessoal - e seu inquilino - para desempenhar tal cargo. Certamente por achar que não havia nada para esclarecer neste caso, o Partido Socialista chumbou, na sexta-feira, a audição a Manuel Pinho e Manuel Sebastião no Parlamento, pedida pelo CDS-PP.

Estes são os factos. Confrontado com eles, o que é que o primeiro-ministro de Portugal decidiu comunicar ao País? Que não encontra no que foi publicado "nada que seja contra a lei". O que até é bem capaz de ser mentira, mas admitamos que possa ser verdade. Só que José Sócrates não ficou por aí. E acrescentou também não ter encontrado "nada que seja criticável do ponto de vista ético". Ora, isto são declarações absolutamente vergonhosas, e só mesmo por vivermos num país onde a mentira na política é aceite com uma espantosa tolerância é que um primeiro-ministro pode dizer uma barbaridade destas e sair de mansinho.

Se José Sócrates encontrasse um dos seus ministros a tentar arrombar um cofre com um berbequim diria aos jornais que ele estava só a apertar um parafuso. Afinal, também no caso da sua licenciatura o primeiro-ministro não viu nada de eticamente duvidoso nem de moralmente reprovável. Ora, o que me faz impressão não é que esta gente que manda em nós atraia a trafulhice como o pólen atrai as abelhas - isso faz parte da natureza humana e é potenciado por quem frequenta os corredores do poder. O que me faz impressão é o desplante com que se é apanhado com a boca na botija e se finge que se andava só à procura das hermesetas. É a escola Fátima Felgueiras, que mesmo condenada a três anos e meio de prisão dava pulinhos de alegria como se tivesse sido absolvida. Nesta triste terra, parece não haver limites para a falta de vergonha.

'João Miguel Tavares'

domingo, 16 de novembro de 2008

15 de Novembro ou A DANÇA das CADEIRAS

O estudo da história forma e informa, porque a história se repete, obra que é do humor dos humanos, ou da HUMANIDADE, que a cada geração se renova - mas - permanecendo sempre igual a si mesma, porque segue os caprichos das gerações, a evolução das opiniões, a força das ambições, o resultado das revoluções, todas elas cíclicas, periódicas, impulsionadas pelos mesmos argumentos e carregadas pelos mesmos jumentos. Já sentenciava Aristóteles: "O historiador e o poeta, com efeito, não diferem pelo fato de um narrar em prosa e o outro em verso. A verdadeira distinção é a seguinte: um narrao que aconteceu, o outro o que poderia ter acontecido". (Aristóteles, in "Poética", 1451-1451b, II). Mas quem definiu a HISTÓRIA com objectividade foi Cícero, o grande orador e causídico romano da época dos triunviratos. Para ele: "A história era ...testemunha dos tempos...luz da verdade...vida da memória...MESTRA da VIDA...mensageira do passado...". (Cícero, in "Do Orador", II, 9). Apresentamos este "intróito" para enfatizar a importância do conhecimento da história na vida humana, na elaboração de estratégias (de Strategus, general na antiga Grécia), na tomada de decisões, no planeamento (Portugal) ou no planejamento (Brasil) dos governos, cada vez mais infiltrados pelo desconhecimento, pela inexperiência, pela ignorância.

O 15 de Novembro de 1889 (QUE SE CELEBRA HOJE NO BRASIL) é a data em que foi PROCLAMADA a REPÚBLICA no Brasil, e, consequentemente, abolido o regimen monárquico, parece que por obra e graça de generalizado descontentamento, traduzido na ação revolucionária de militares e civis, representantes das mais variadas e heterogêneas facções políticas, tendências idealistas e interesses corporativistas. Em boa verdade, entre as forças que promovem as grandes mudanças, sempre se encontram idealistas ingênuos e interesseiros heterogêneos; corporações apartidárias e facções libertárias; capitais desenvolvimentistas e dinheiros ocultistas; interesses nacionais e bençãos dos cardeais. E tal miscelânea de ideias e ideais, de corporações e currais, de interesses e animais, de dinheiros e capitais, sempre estão presentes em todos os movimentos sociais, quer se trate da recente eleição do presidente Norte-americano, do golpe de Estado do 25 de Abril ou do 15 de Novembro de que estamos escrevendo. Então - como agora - havia e há contentes e descontentes, sisudos e dementes, crentes e descrentes, boas e más gentes. E, quando se trata de mudança sem voto, sempre existem forças, tropas ou gente armada dos dois lados, entre os quais cidadãos que piamente acreditam estar com a RAZÃO, portanto de consciência tranquila!!!.

´Daí resulta a "DANÇA das CADEIRAS", a substituição de "líderes", a troca de governantes - aceites, aclamados ou impostos na ocasião - mas que daí a algum tempo já não satisfazem, já não interessam, já não cumprem, JÁ NÃO PRESTAM!!! Isso ocorreu com o grande Imperador Dom Pedro II, homem bom, erudito, amigo das letras e das artes, sério e honesto, deposto no 15 de novembro; aconteceu com HITLER, paranóico esquizofrénico, louco varrido, assassino de 40 milhões de seres, pois tantos foram os mortos da 2ª guerra mundial; e aconteceu com o regime salazarista, implantado por um católico sincero (mas que deu à PIDE o poder de matar), homem materialmente honesto e autoritário, capaz e eficiente mas retrógrado, derrubado - não pelos jóvens capitães - mas pelo apoio dado pela Nação devido ao desgaste da guerra em África, pelas suas misérias, pelas suas mortes, pelos seus sacrifícios, pelas suas desgraças, contra as quais se uniram os pais dos soldados mortos, estropiados e desaparecidos, as jóvens viúvas que perderam os maridos, vendo os filhos órfãos e desamparados. E, se a união contra SACRIFÍCIOS ou em TORNO de INTERESSES leva os povos a grandes mudanças, É DAÍ que resultam as trocas de cadeiras ou, como lhes chamamos, AS DANÇAS. Daqui concluímos que - ETERNIDADE - só a Espiritual.

JVerdasca

Barack Obama ganhou. Eu perdi

Barack Obama ganhou. John McCain perdeu. Eu perdi com ele. Estou acostumado a perder. Meus candidatos quase sempre perdem. Quando um deles ganha, sempre dá um jeito de me envergonhar imediatamente. Por isso, é melhor assim. É melhor perder.
Barack Obama ganhou de John McCain em praticamente todas as categorias sociais: eleitores com mais escolaridade, eleitores com menos escolaridade, negros, latino-americanos, mulheres casadas, mulheres solteiras. Ele só perdeu entre os homens brancos. Alguém muito tolo poderia acusá-los de racismo. Mas nos Estados Unidos o que acontece é exatamente o contrário: é o homem branco votar num candidato mulato apesar de acreditar que o candidato branco se sairia melhor no papel de presidente. Alguém muito tolo poderia imaginar que os homens brancos de Indiana, depois de fechar suas farmácias e suas lojas de ferramentas, colocam um capuz pontudo e saem por aí linchando os negros. Repito: alguém muito tolo. O debate racial nos Estados Unidos está mais para A Mancha Humana, de Phillip Roth, do que para O Homem Invisível, de Ralph Ellison. O que menos importa em Barack Obama é sua mulatice. Ele próprio acredita nisso. Ridiculamente, ele está sendo tratado por todos como um Nelson Mandela, e os Estados Unidos, como uma África do Sul dos tempos do "apartheid". Calma. Muita calma.

Em seu primeiro discurso, na noite em que foi eleito, Barack Obama se comprometeu a resolver todos os conflitos internacionais sem recorrer ao poderio militar americano. Se a Igreja Católica se arrependeu publicamente de ter queimado Giordano Bruno, agora os Estados Unidos se arrependeram publicamente de ter enforcado Saddam Hussein, o herege copernicano das arábias.

A imprensa americana errou na guerra do Iraque, publicando os relatórios passados pela Casa Branca e pelo Pentágono sem checá-los, sem apurá-los, sem investigá-los. Com Barack Obama, ela repetiu o mesmo erro. A imprensa pode apoiar um candidato, como apoiou Barack Obama, mas sem permitir que esse apoio interfira na cobertura dos fatos. O partidarismo dos jornais e das TVs contra os republicanos me incomodou tanto que, a certa altura, eu já estava defendendo apaixonadamente o Criacionismo.

Quando Barack Obama foi eleito, protestei dormindo com um abajur aceso. Pensei que meu ato ajudaria a derreter a calota polar, inundando a sala de estar de um ou dois colunistas do New York Times.
Depois me lembrei que eu também moro no litoral. E desliguei o abajur. Fui derrotado. Outra vez.


Diogo Mainardi

FOI ISSO

Foi isso,exatamente isso,que elegeu Obama e o alçou ao topo do mundo.
Quando dizemos isso,falamos da mídia,mencionamos a cretinice das massas que nela acreditam e por ela se deixam conduzir.
O "isso", propriamente dito é isto que fazemos agora neste nosso espaço "migrantófilo".
Um montão de gente falando,tecendo comentários,prescrevendo ensaios cientificos sobre raças e notoriamente sobre comportamentos humanos.
Nós mesmo estamos participando disso, emitindo um rosário de besteirol, crítico, quando mais sensatamente,ao invés de usarmos esta prosa pretenciosa, deveríamos cantar o tema em versos musicados,numa homenagem ao grande avanço rácico.
Os rios de tinta,a avalanche de palavreado que elegeu Obama, escorre agora neste nosso limitado espaço que, guardadas as devidas proporções, já concentra um razoável numero de opiniões. É nestas horas que mal controlamos a vontade de cantar o parvo estribilho de nosso folclore. la.ri.lo.le.la.


Gabriel Cipriano - RJ

CAPRICHO E SOBERBA

Cento e vinte mil mil professores na rua não emocionaram o Governo. A ministra e Sócrates afirmaram-se renitentes nas decisões tomadas: é assim que dissemos, é assim que fazemos. Capricho, desdém e alarde não constituem excepção neste Executivo, o qual, sem ser, notoriamente, socialista, também não é carne nem peixe nem arenque vermelho. Mas 120 mil pessoas indignadas não são a demonstração de uma birra absurda nem a representação inútil de uma frivolidade. A cega teimosia de Sócrates pode, talvez, explicar que não está à altura do seu malogro, mas sim do seu umbigo. Porque de malogro e de narcisismo se trata. A qualidade de um Governo afere-se pelo grau de comunicabilidade que estabelece com os outros, e pelo sentido ascensional que possui do tempo e do espaço para elevar a vida colectiva. Sócrates esqueceu-se, ou ignora, que o homem é ele e a sua circunstância, como ensinou Ortega. E que num político a circunstância é criada por ele próprio, sem negligenciar os outros.
A verdade é que não conhecemos os seus desígnios criativos, mas sim as variações desafortunadas da sua política. Há tempos, João Lopes, o amigo e o crítico por igual excelente, dizia-me que Portugal tinha falta de compaixão. A palavra "compaixão" adquiria o sentido de simpatia e compreensão pelo outro. É verdade. Ausentamo-nos e negamo-nos, escarnecemo-nos e desprezamo-nos, deixámos de nos ouvir uns aos outros; nem transeuntes somos: trespassamo-nos porque dissipámos a consistência e, acaso, a ternura. Com a nossa desmedida indiferença permitimos o nascimento de gente presumidamente detentora da verdade.
A soberba de Sócrates, ante o protesto dos 120 mil, advém, certamente, desse sombrio e feio convencimento. Em Fevereiro de 1947, quando, em França, se preparavam eleições, Camus escreveu, no Combat, um texto que assim começava: "Os problemas que há dois anos nos excedem vão cair no mesmo impasse. E, sempre que uma voz livre procurar afirmar, sem pretensões, aquilo que pensa, logo uma matilha de cães de guarda, de todas as cores e feitios, começará a ladrar furiosamente, para abafar o eco dessa voz." Em consciência, a impassibilidade de José Sócrates e a crispada frieza de Maria de Lurdes Rodrigues podem abafar o eco de 120 mil vozes, que protestam muitas razões de que não é preciso reter senão as mais importantes? Um Governo que recusa, constantemente, a obrigação de ouvir o outro, admite a possibilidade do direito à desobediência. A rigidez decisória não conduz ao apaziguamento e distancia-se dos verdadeiros interesses, criando rancores e ressentimentos desnecessários e duradouros. Conversar, escutar, dialogar, debater, por vezes com furor e impaciência, é solução muito mais eficaz do que alimentar uma inconsiderada teimosia, de consequências imprevisíveis.


Baptista-Bastos - Diário de Noticias
Escritor e jornalista www.portugalclub.org www.portugalnoticias.com

Confusões nas Escolas

Foi uma grande notícia, nada menos que onze governantes andaram pelas escolas a distribuir 3 mil computadores Magalhães. Onze governantes, três mil Magalhães naquele dia foi notícia. Ficaram outros para distribuir em datas oportunas, para não ser tudo no mesmo dia, para dar ocasião a outras notícias.

Onze governantes, mais motoristas, carros, seguranças, jornalistas para fazerem a cobertura conveniente. Muitos ministros a dar Magalhães. Sinais de um país moderno. O Orçamento paga.

O Magalhães anda por todo o lado. Hugo Chavez, lá de Caracas, relaciona-se com o Magalhães. O Magahães acompanhou o primeiro-ministro às Honduras.

O Magalhães tem tempo de antena. O Magalhães é a reforma do ensino, da modernidade do ensino. O Magalhães mexe. Onde há Magalhães está o primeiro-ministro, estão governantes, estão crianças, porque o Magalhães é computador para modernizar as crianças. O Magalhães vai invadir as escolas, vai ser o grande instrumento para a aprendizagem. Onde há Magalhães, há mercado.

Curiosamente, onde levam o Magalhães, não se vêem professores. Os professores são desnecessários nas exibições do Magalhães. São confusões!

O Magalhães já faz parte da sociedade. O Magalhães deu volta ao mundo. Está a dar a volta ao país. O Magalhães descobriu novos caminhos para o saber e dispensa professores.

Os professores andam pelas escolas desorientados. Não têm tempo para nada. Os jornais, as televisões trazem professores desorientados. Professores lamentam-se de uma carga horária excessiva que não deixa tempo para preparar aulas, para actualizar conhecimentos, para reflectir, tempo para a família.

Queixam-se os professores do excesso de reuniões. Do excesso de papéis, relatórios, fichas. Queixam-se da burocracia que invadiu as escolas, transportada por Decretos, Decretos-lei, Portarias, Despachos e ainda Circulares, Orientações e Recomendações. Por Decisões ordenadas em reuniões. Um mundo de Confusões. Não há tempo para o importante. Não há tempo para os alunos. Não há condições para o exercício da profissão.

Os professores têm o dever do ensinar, de educar, de acompanhar, de ocupar alunos. São professores, são educadores, são mestres de diversão. Ensinam regras de segurança, de civilidade e sexualidade. Educam e outros deseducam.

Os professores andam desorientados, frustrados, revoltados, desvalorizados, ofendidos, agastados. Os professores enchem consultórios médicos. Andam por psiquiatras. Os professores tornaram-se consumidores de antidepressivos.

Os professores não aguentam. São muitos, aos milhares os que pedem reforma antecipada, os que enchem páginas do Diário da República com aposentações desejadas. Reformas antecipadas, mesmo com perdas substanciais da pensão a receber. Professores aceitam penalizações para manterem a sanidade mental. Não aceitam profissão burocratizada.

Nenhuma reforma, na Saúde, no Ensino, no Defesa, na Justiça, onde seja, resulta, se os profissionais não a compreenderem, não a aceitarem.

As reformas têm de ter sentido. As pessoas têm de saber para onde se vai.

Por estas e outras razões, porque o descontentamento é geral, profundo, porque é sentido, porque o desencanto, a inutilidade, porque se sentem indignados, voltam à rua.

Nas escolas, o que agora conta, não são as aprendizagens. Nem a educação das populações futuras.

O que conta nesta politica de Educação são os resultados estatísticos, são os números, são as percentagens para exibir nas notícias.

Antes, o problema era a percentagem de alunos que abandonava a escola sem acabar a escolaridade.

O que antes era problema está agora solucionado. Nos critérios de avaliação dá-se a solução. Nas secretarias, a certificação.

Os maus resultados dos alunos conta para a progressão na carreira? Pois se é isso que se quer, é de concluir que o melhor é facilitar. E a escola de sucesso aparece nas pautas. Aqui está um dos sinais do país moderno em construção.

Assim, fica determinado que o insucesso vai acabar. Esta reforma é para a escola do sucesso, mesmo nas disciplinas consideradas difíceis e trabalhosas, como o Português, Matemática…

E os resultados são conhecidos. Há um ano atrás só 66 por cento das escolas com exames do 9º ano tiveram resultados positivos. Em 2008, um ano depois, 97 por cento das escolas tiveram resultados positivos. Um milagre!...

Não foram os alunos que aprenderam mais. Os resultados medem-se pelas facilidades dos exames, pelos critérios de correcção.

E os responsáveis pela política da Educação põem nos jornais que em anos próximos não haverá chumbos na escolaridade obrigatória.

Não haverá chumbos!...

E o que conta é o sinal que se dá aos alunos e aos pais dos alunos. O que conta são os números que constam nas estatísticas. Não importa o que se aprende. Não importam os hábitos de trabalho, a disciplina.

O importante são os números para as estatísticas.


Manuel Miranda - Coimbra

MEDIOCRIDADE e GANÂNCIA, contraem núpcias

Ontem, olhavamos o noticiário das "24" na RTPi, quando surgiu no video a cara zangada do presidente da Associação das Pequenas e Médias Empresas, portuguesas, protestando contra o novo salário mínimo.
Dizia ele que todos os beneficiados do novo salário serão demitidos. Irão para o desempro. Imaginem o valor do aumento, 24 Euros.
Na sequência o Ministro doTrabalho, apareceu também respondendo e lamentando o desaforo empresarial, no que foi secundado pelo Chefe do Governo, que estranhou a mediocre reação oposicionista, diante da ridicula valorização.
Manuela Ferreira Leite se sentiu tão por baixo,que foi logo dizendo não ter falado, nem comentado nada a respeito do assunto, e o que disse, se disse, foi sobre outra coisa, não sobre o salário mínimo. Como mulher sempre tem um pouco mais de vergonha.
Diante da falta dela, a vergonha, precisamos dizer, aqui de longe - deixem o homem governar, a maré está brava, aliás, bravissima e o melhor representante do PSD, no momento, é Durão Barroso, que chefia a Comissão.
Em Portugal os Socialistas seguem certeiros enfrentando a borrasca que se abateu sobre o mundo e que lá também chegou.
Aqui, entre nós, que falta fazem 24 Euros, a um pequeno ou médio empresário, mesmo que multiplicados por 100 ? E 100 empregados á a soma de duas ou três dezenas de pequenaas empresas, pois a média de cada uma é 5.
Em nossa Pátria, ou fora dela, sempre estamos desunidos, mas as uniões expurias, tipo esta da ganância com a mediocridade, acontece e nos envergonha. la.ri.lo.le.la



Gabriel Cipriano - Rio de Janeiro

UM ESTILO DE VIDA PROGRESSISTA MAS SEM FUTURO

A Crise Financeira é uma Crise do Capitalismo e do Socialismo

Com a crise do sistema financeiro, a globalização do medo real tornou-se um facto palpável. Não há civilização que não esteja implicada nas causas e consequências do furacão que teve origem na Wall Street. Esta crise financeira transforma-se numa crise económica universal que tocará com o preço das matérias-primas, com o bolso dos empregados, com a localização dos centros de produção das grandes multinacionais que privilegiarão as nações de proveniência contra as economias mais fracas. Ai dos países endividados! A recessão em curso atingirá as camadas mais fracas da sociedade ocidental e os países mais carenciados. Tudo isto é a consequência do agir de elites que, num mundo da quimera, trocaram a realidade pelo virtual.

Pouco a pouco também a cidadania se torna virtual e o povo vive em segunda mão. No passado o Homem era a medida de todas as coisas. Agora na era da nova espécie, no tempo do Homem cliente – consumista, e duma elite de Zés Pereiras, tudo vale; não há medidas, não há normas nem há regras. E o Zé Povo, condenado a acreditar, a confiar na fé de construção duma sociedade progressista baseada numa ética barata e oportuna, já não à medida do cidadão mas do proletário. A chanceler alemã, Ângela Merkel, ao afirmar que “o Estado tem de ser o protector da ordem” tocou um ponto nevrálgico da sociedade ocidental. Para se chegar porém a esse facto, pressupõe-se que o sistema partidário descubra primeiro o povo e a nação.

Os Estados estão a saque

Na Europa, os Estados, especialmente depois da queda do muro vermelho (muro da vergonha), passaram a estar cada vez mais a saque de ideologias políticas que ocuparam a ideia de democracia, instalando democracias de cariz partidário autoritário e monopolista, cada vez mais longe da realidade e do povo. Um socialismo rasteiro infiltrou-se nas mentalidades e nos quadros da sociedade ajudado pelo descrédito da velha sociedade do período fascista europeu. Na desordem e na confusão prosperam e legitimam o ilegitimável e os conservadores fracos passam a correr atrás de franco-atiradores.

Ao mesmo tempo a economia divorcia-se da cultura. O globalismo congrega então os interesses dum turbo-capitalismo desregrado e a ideia dum internacionalismo militante contra a terra e contra a cultura. Esta união de forças e de interesses acelera os problemas ecológicos. Não há forças conservadoras com coragem de defender a terra, o povo e a cultura. A política passou a andar ao sabor da ideologia e a economia acabou por depender da ideologia financeira, destruindo-se então a economia social.

O mundo financeiro desligou-se da economia produtiva e consequentemente também o mundo da política se desligou do cidadão considerando-o apenas sob a perspectiva do homo contribuinte. Na nova Europa, a escola e as universidades têm-se vindo a tornar em estaleiros para a indústria e para o comércio. Tudo tem de trabalhar a tempo pleno, correr de empreg para emprego, sem respeitar os tempos sagrados de descanso do Homem nem a sua dignidade. Tudo se sacrifica à produtividade, na banalidade dum factual alheio à realidade da natureza e do Homem.

As elites económicas e políticas tinham-se unido premiando o endividamento do povo, pretendendo criar um homúnculo consumidor e gastador em função das receitas da empresa e do Estado. O seu conceito fazia lembrar uma equipa de futebol em que só os jogadores marcadores de golos têm direito a ganhar, e para melhor em campo sem árbitro! Agora que os avançados se encontram aparentemente atolados na lama, os políticos procuram o assobio entretanto substituído pelo barulho das próprias claques.

A especulação chegou a tal ponto que, em vez de se fortalecer o poder de compra do consumidor, através dum ordenado justo, se despreza o trabalho do operário e se especula com trabalhadores mais pobres ainda doutras terras. Se antigamente as guerras se davam entre povos na defesa dos interesses das elites dos respectivos povos, hoje as guerras são realizadas entre as classes mais baixas dos diferentes povos para que as novas elites de mercenários beneficiem delas, dando-se também ao luxo de marginalizar a classe média, o verdadeiro motor das sociedades.

À semelhança dos fanáticos das montanhas do Afeganistão, também a nossa elite, por nós alimentada e legitimada, se refugia nas suas torres de marfim. Cada um olha do seu alto a realidade do mundo e do cidadão com altivez e desdém! A exploração ideológica e económica nunca andaram tão juntas e nunca foram tão descaradas como são hoje.

A Europa, nos últimos vinte e tal anos, tem destruído a sua personalidade e desmantelado o seu rosto humanista. O turbo-capitalismo e o socialismo uniram-se contra o Homem, contra a natureza e contra os biótopos culturais e humanos. Já não há sagrado, não há pátrias nem família que se não ponham à disposição. Da colonização externa passa-se à colonização interna. Com a morte de Deus morre o Homem, morre a sua interioridade, a sua ipseidade, aquilo que lhe dá dignidade! O Olimpo foi assaltado por novos deuses que nem a alma já respeita da pessoa agora socializada e reduzida a opinião de cliente.

Tudo cede às leis do mercado especulador. A nossa sociedade continua a recusar tornar-se adulta e ainda se arroga a vaidade de se comparar com outras. Prefere viver entre o medo adolescente e a exploração. De facto, nela tudo se torna cada vez mais instável: a vida social, a vida profissional, a vida familiar e a própria vida existencial. Se antigamente se pagava o medo com o Paraíso hoje paga-se com o voto e com o mercado. Viver torna-se num risco cada vez mais presente e consciente porque se opta por uma forma de vida em segunda mão. Se nas sociedades primitivas o Homem tinha medo das feras ameaçadoras hoje tem de recear os monstros que ele mesmo criou. As pessoas, com o medo, fogem à vida, tornando-se vítimas de muitas das ideias e das estratégias de fuga.

Assim, abdica-se da humanidade, no medo de perder o emprego, na insatisfação de ver o custo de vida aumentar e na insegurança duma reforma hipotecada. O Estado e a economia tornaram-se, também eles, nossos rivais. São, por vezes, mais um factor de insegurança do que de segurança. A lei da concorrência, a todos os níveis, parece ter-se emancipado da biologia já de si selectiva para se tornar na prática da concorrência pela concorrência. Cada vez se exige mais, se trabalha mais e se vê menos. Se antigamente o homem lutava primariamente contra as adversidades da lei da natureza, hoje, além desta, tem a luta contra as adversidades das forças institucionais que se apoderaram da cultura.

Também o sistema de saúde, que deveria sanar igualmente o medo dos pacientes, se torna, cada vez mais, no purgatório destes e no paraíso da indústria farmacêutica e de políticas de clientelas elitistas. A sociedade actual, em vez de tentar orientar-se para o fomento duma sociedade média mais estável, alargada e humana, nivela-se pela camada mais precária.

Se queremos a globalização, teremos antes de humanizar a economia e a relação social no respeito pelas ecologias. Agora que o homem vai atingindo uma consciência global torna-se mais premente a necessidade dum governo mundial mas que parta do Homem para o Homem, doutro modo o anonimato das superstruturas farão definhar os vestígios de humanismo ainda presentes nalgumas instituições. Apesar do vírus da rotina e do acomodamento não estará tudo perdido e o Homem encontra sempre uma saída. Há que encontrar primeiro o Homem para depois se recriarem as instituições.

António da Cunha Duarte Justo www.portugalnoticias.com