domingo, 16 de novembro de 2008

Confusões nas Escolas

Foi uma grande notícia, nada menos que onze governantes andaram pelas escolas a distribuir 3 mil computadores Magalhães. Onze governantes, três mil Magalhães naquele dia foi notícia. Ficaram outros para distribuir em datas oportunas, para não ser tudo no mesmo dia, para dar ocasião a outras notícias.

Onze governantes, mais motoristas, carros, seguranças, jornalistas para fazerem a cobertura conveniente. Muitos ministros a dar Magalhães. Sinais de um país moderno. O Orçamento paga.

O Magalhães anda por todo o lado. Hugo Chavez, lá de Caracas, relaciona-se com o Magalhães. O Magahães acompanhou o primeiro-ministro às Honduras.

O Magalhães tem tempo de antena. O Magalhães é a reforma do ensino, da modernidade do ensino. O Magalhães mexe. Onde há Magalhães está o primeiro-ministro, estão governantes, estão crianças, porque o Magalhães é computador para modernizar as crianças. O Magalhães vai invadir as escolas, vai ser o grande instrumento para a aprendizagem. Onde há Magalhães, há mercado.

Curiosamente, onde levam o Magalhães, não se vêem professores. Os professores são desnecessários nas exibições do Magalhães. São confusões!

O Magalhães já faz parte da sociedade. O Magalhães deu volta ao mundo. Está a dar a volta ao país. O Magalhães descobriu novos caminhos para o saber e dispensa professores.

Os professores andam pelas escolas desorientados. Não têm tempo para nada. Os jornais, as televisões trazem professores desorientados. Professores lamentam-se de uma carga horária excessiva que não deixa tempo para preparar aulas, para actualizar conhecimentos, para reflectir, tempo para a família.

Queixam-se os professores do excesso de reuniões. Do excesso de papéis, relatórios, fichas. Queixam-se da burocracia que invadiu as escolas, transportada por Decretos, Decretos-lei, Portarias, Despachos e ainda Circulares, Orientações e Recomendações. Por Decisões ordenadas em reuniões. Um mundo de Confusões. Não há tempo para o importante. Não há tempo para os alunos. Não há condições para o exercício da profissão.

Os professores têm o dever do ensinar, de educar, de acompanhar, de ocupar alunos. São professores, são educadores, são mestres de diversão. Ensinam regras de segurança, de civilidade e sexualidade. Educam e outros deseducam.

Os professores andam desorientados, frustrados, revoltados, desvalorizados, ofendidos, agastados. Os professores enchem consultórios médicos. Andam por psiquiatras. Os professores tornaram-se consumidores de antidepressivos.

Os professores não aguentam. São muitos, aos milhares os que pedem reforma antecipada, os que enchem páginas do Diário da República com aposentações desejadas. Reformas antecipadas, mesmo com perdas substanciais da pensão a receber. Professores aceitam penalizações para manterem a sanidade mental. Não aceitam profissão burocratizada.

Nenhuma reforma, na Saúde, no Ensino, no Defesa, na Justiça, onde seja, resulta, se os profissionais não a compreenderem, não a aceitarem.

As reformas têm de ter sentido. As pessoas têm de saber para onde se vai.

Por estas e outras razões, porque o descontentamento é geral, profundo, porque é sentido, porque o desencanto, a inutilidade, porque se sentem indignados, voltam à rua.

Nas escolas, o que agora conta, não são as aprendizagens. Nem a educação das populações futuras.

O que conta nesta politica de Educação são os resultados estatísticos, são os números, são as percentagens para exibir nas notícias.

Antes, o problema era a percentagem de alunos que abandonava a escola sem acabar a escolaridade.

O que antes era problema está agora solucionado. Nos critérios de avaliação dá-se a solução. Nas secretarias, a certificação.

Os maus resultados dos alunos conta para a progressão na carreira? Pois se é isso que se quer, é de concluir que o melhor é facilitar. E a escola de sucesso aparece nas pautas. Aqui está um dos sinais do país moderno em construção.

Assim, fica determinado que o insucesso vai acabar. Esta reforma é para a escola do sucesso, mesmo nas disciplinas consideradas difíceis e trabalhosas, como o Português, Matemática…

E os resultados são conhecidos. Há um ano atrás só 66 por cento das escolas com exames do 9º ano tiveram resultados positivos. Em 2008, um ano depois, 97 por cento das escolas tiveram resultados positivos. Um milagre!...

Não foram os alunos que aprenderam mais. Os resultados medem-se pelas facilidades dos exames, pelos critérios de correcção.

E os responsáveis pela política da Educação põem nos jornais que em anos próximos não haverá chumbos na escolaridade obrigatória.

Não haverá chumbos!...

E o que conta é o sinal que se dá aos alunos e aos pais dos alunos. O que conta são os números que constam nas estatísticas. Não importa o que se aprende. Não importam os hábitos de trabalho, a disciplina.

O importante são os números para as estatísticas.


Manuel Miranda - Coimbra

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