terça-feira, 18 de setembro de 2007

85 anos de selecção nacional de Portugal

A selecção nacional vai fazer 85 anos na próxima segunda-feira. São 459 jogos que dariam seguramente para contar 459 histórias. É da primeira de todas elas que nestas páginas se fala um pouco.


No dia 18 de Dezembro de 1921, a selecção nacional de futebol entrou em campo pela primeira vez. A estreia aconteceu em Madrid, Portugal perdeu por 3-1 e o primeiro golo da turma das quinas foi marcado por um jogador do Benfica chamado Alberto Augusto. Desde esse dia distante, um domingo, já passaram 85 anos. Ou melhor, irão completar-se esta segunda-feira 85 anos.
Nos tempos que correm, a realidade da selecção nacional poucos traços em comum terá com o grupo de jovens que, de véspera, fez a viagem de Lisboa à capital espanhola a bordo do comboio que ligava as duas cidades.O critério de escolha dessa equipa provocou acesa discussão na altura. Mas dificilmente seria questão pacífica formar uma Selecção do País numa altura em que nem sequer existiam competições de âmbito nacional.
O campeonato, como hoje o conhecemos, só apareceria na década de 30.
A Selecção de 1921 foi, por isso, quase integralmente formada por atletas de clubes de Lisboa.Jogadores e técnicos da Associação do Porto decidiram boicotar a iniciativa, por terem entendido que havia demasiada influência de Lisboa na formação da Selecção. Artur Augusto, do FC Porto, foi a excepção e a questão dividiu também a Imprensa da época, com os jornais do Porto a criticarem fortemente as opções do chamado Comité da Selecção. Feita quase em cima do joelho e com critérios regionais, a selecção nacional, pode dizer-se, nasceu torta.
Apesar de tudo, a equipa nacional bateu-se bem. A Espanha, cuja selecção também gatinhava por essa altura, era tida como uma forte formação. Pouco tempo antes batera por 2-0 a Bélgica, medalha de ouro dos Jogos Olímpicos de 1920, no certame que certificava o campeão do Planeta. O jogo entre portugueses e espanhóis foi marcado para o Estádio Manzanares, ao qual compareceram cerca de 12 mil pessoas.Portugal entrou muito mal no jogo. Num campo sem relva, explicam os jornais do dia seguinte que a dureza do terreno era excessiva. Aos dez minutos, a Espanha já vencia por 2-0. Aos poucos, contudo, os homens da turma das quinas, equipados com calção branco e camisola preta (inspiração do actual equipamento alternativo), adaptaram-se às condições de jogo. Levaram o 2-0 para o intervalo, mas não evitaram o terceiro golo aos 60 minutos.Aos 75 minutos, aconteceu o golo português, histórico por ser o primeiro. O espanhol Pagasa meteu mão à bola na área e Alberto Augusto, popularmente conhecido por Batatinha, transformou em golo a respectiva grande penalidade.
Os últimos 20 minutos, de resto, foram de forte ascendente português.
A Imprensa espanhola não poupou algumas críticas aos seus jogadores.Por cá, o ambiente foi de festa à chegada da Selecção. Se para Madrid a viagem ocorreu de véspera, o regresso foi mais demorado. Apenas aconteceu no dia 21, no comboio rápido das 15h40. Muita gente foi esperar a equipa em ambiente apoteótico, como se de uma vitória se tratasse.
Foi há 85 anos.
De então para cá, a história já muito mudou.
COMO ERA- Viagens eram feitas de comboio - Escolhas feitas por um comité- Associações notificavam os clubes- Camisola era preta- Convocados onze jogadores (não havia substituições)COMO É- Hoje, as viagens são feitas de avião- Escolhas feitas pelo seleccionador nacional- Federação notifica os clubes- Camisola tem cor grená- Convocados em média 20 jogadores (há três substituições)
NÚMEROS E FACTOS DA SELECÇÃO NACIONAL
Primeiro jogo: Espanha, 3 – Portugal, 1 (18/12/1921)
Primeira vitória:Portugal, 1 – Itália, 0 (18/6/1925)
Primeira vitória fora de casa: Espanha, 1 – Portugal, 2 (28/11/1937)
Jogador com mais jogos: Figo (127)
Total de jogadores utilizados: 522
Jogador com mais golos: Pauleta (47)
Jogador mais vezes capitão: Fernando Couto (47)
Maior derrota da selecção: Inglaterra, 10 – Portugal, 0 (25/5/1947)
Seleccionador com mais jogos: Luiz Felipe Scolari – 55
Jogador mais jovem na estreia: Gralha (Casa Pia) 16 anos, nove meses e cinco dias. Espanha, 3 – Portugal, 1 (18/12/1921)
Jogador mais veterano: Vítor Damas (Sporting)38 anos, oito meses e três dias. Marrocos, 3 – Portugal, 1 (11/6/1986)
Jogos realizados: Total- 459Vitórias- 206Empates- 103Derrotas- 150
Total golos marcados: 732
OITO MOMENTOS PARA A HISTÓRIA DA SELECÇÃO
Os primeiros tempos da selecção nacional não foram fáceis. As derrotas era frequentes.
1966 marca um ponto de viragem.
Contudo, foi preciso esperar mais três década, para se tornarem constantes as presenças da equipa de Portugal em fases finais de Europeus e Mundiais.
INGLATERRA 1966.A primeira presença da selecção nacional na fase final de um Mundial continua a ser a mais bem sucedida. Portugal ficou em terceiro lugar e o Mundo aprendeu a soletrar o nome de Eusébio.
FRANÇA 1984.Primeira participação em fases finais de Europeu. Um trajecto brilhante apenas interrom-pido pela França de Platini (a jogar em casa), numa meia-final dramática. Terceiro lugar.
MÉXICO 1986.A Selecção viajou para o México com uma guerra aberta entre jogadores e dirigentes. Portugal ganhou à Inglaterra, mas depois perdeu com a Polónia e Marrocos, e regressou a casa, sem glória.
INGLATERRA 1996. Foi a primeira participação da chamada ‘geração de ouro’ num grande evento, neste caso um Europeu. Portugal chegou aos quartos-de-final, onde perdeu com a República Checa.
BÉLGICA/HOLANDA 2000.Nova presença num Europeu e, tal como em 1984, Portugal perde com a França nas meias-finais, após prolongamento. Alguns jogadores perderam a cabeça após o penálti de Zidane.
COREIA/JAPÃO 2002.Portugal é eliminado na primeira fase deste Mundial. A Selecção nunca se recompôs dos três golos marcados pelos EUA, em 35 minutos, logo no primeiro jogo. Um desapontamento.
PORTUGAL 2004.A jogar em casa (primeiro Europeu organizado pelo País), a Selecção entra mal mas rapidamente acerta o passo. Chega à final e perde com a Grécia. Apesar de tudo, a honra de um 2.º lugar.
ALEMANHA 2006.De volta a um Mundial, Portugal chega, com grande brilhantismo, às meias-finais. Pela terceira vez, a França barra a passagem para o jogo decisivo. Portugal termina em quarto lugar.
A EQUIPA DE TODOS NÓS (Opinião de Gilberto Madaíl, Presidente da FPF)
Oitenta e cinco anos de história, 459 jogos disputados e muito outros momentos para recordar.
Uns felizes, outros nem tanto, mas todos reflectindo esse desejo inicial de, através do futebol, procurar dignificar e fazer chegar bem alto o nome de Portugal e dos Portugueses a todos os cantos do Mundo.
A Selecção nunca perdeu, ao longo destes 85 anos, a sua identidade.
Representa, ainda hoje, o futebol no seu estado mais puro. Um ‘refúgio’, onde os atletas encontram o prazer de jogar pelo amor à camisola e pelo orgulho próprio de quem defende o seu País.
Nos últimos dez anos – período durante o qual vivi de forma compreensivelmente mais intensa este percurso –, a Selecção foi uma verdadeira ‘equipa de todos nós’, tal como um dia a apelidou o jornalista Ricardo Ornellas.
Estivemos no Euro’96, na Inglaterra, falhámos por muito pouco o apuramento para o Mundial 98 (França), mas reaparecemos de forma magnífica no Europeu da Holanda e da Bélgica, em 2000, um certame em que revivemos a glória de 1966, quando os eternos ‘Magriços’ trouxeram de Inglaterra um brilhante terceiro lugar.
Depois da infeliz participação no Mundial 2002, a Selecção teve a capacidade de se regenerar e renovar, escrevendo uma das mais belas páginas da sua história ao garantir a presença na final do ‘nosso’ Euro’2004.
O quarto lugar alcançado no Alemanha 2006 surgiu como corolário lógico do bom trabalho desenvolvido.Hoje, a Selecção Nacional – Clube Portugal é a imagem de um País que se quer afirmar além-fronteiras, que se orgulha do que é, do seu passado e olha com ambição o futuro. Mas é, também, um motivo de inspiração para muitos milhões de fãs que, por todo o Mundo, vibram com o talento dos nossos atletas e, com eles, aprendem a respeitar e admirar o nosso país.
Mário Pereira

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