
O acaso fez-me escrever sobre o Brasil de 1982. Na semana do 25.º aniversário da “tragédia de Sarriá”, como o Brasil se refere à derrota com a Itália, no dia 5 de Julho de 1982, em Barcelona. O Sarriá, demolido em 1997, já não existe, mas sobrevivem muitos dos que estiveram lá. Nesse dia e naquele estádio, eu fui um dos 44 mil espectadores que viram a eficaz Itália vencer o talentoso Brasil, uma equipa fadada para ser campeã do mundo. O Brasil que jogava um futebol requintadamente perfumado. A equipa de Zico, Socrates e Falcão, de Junior, Cerezo e Eder. Que vencera a URSS (2-1), a Escócia (4-1), a Nova Zelândia (4-0), a Argentina (3-1) e que, precisando, apenas, de empatar com a Itália, se manteve em perseguição do golo, apesar de por três vezes ter estado em vantagem, coisa que não era capaz de saber gerir. O resultadismo não estava no sangue brasileiro de então.Naquele dia, há 25 anos, em antecipação do futuro, o futebol-arte caiu aos pés do futebol-resultado e a burocracia futebolística foi-se estabelecendo, com os técnicos seduzidos pela teoria da vitória a qualquer preço e dispostos a sacrificar tudo, até a arte, essa antiga essência sagrada do jogo.25 anos depois, no entanto, prevalece a memória da beleza daquele Brasil, que Carlos Drummond de Andrade, passando “a mão pela cabeça de Telé Santana e de seus jogadores”, eternizou, no delicado poema com que, logo no dia 6 de Julho de 1982, consolou o Brasil e os adeptos do seu futebol: “A Copa do Mundo de 82 acabou para nós, mas o mundo não acabou. Nem o Brasil, com as suas dores e bens. E há um lindo sol lá fora, o sol de todos nós…”
David BorgesJornalista
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