terça-feira, 18 de setembro de 2007

Pontapé na Europa


Portugal deve agarrar com unhas e dentes a Nova Política de Energia lançada por Durão Barroso e colocar-se na linha da frente. Se há esforço económico nacional que valha a pena, se há um mercado que irá crescer exponencialmente e criar milhares de empregos, é o da energia.
Se mais nada de interessante vier a acontecer, o mandato de Durão Barroso à frente da Comissão Europeia há-de valer pelo lançamento das bases de uma política energética europeia comum. Porque esta, apesar de tímida, tem a virtude de arrumar o pensamento europeu e de estipular objectivos, porque é ambiciosa nos seus desígnios e rigorosa no seu diagnóstico.
É certo que nada teria acontecido sem a pressão do preço do petróleo, sem a pressão energética da China e da Índia, sem o tendencial esgotamento das reservas e sem o aumento da consciência mundial acerca do aquecimento global do planeta e do efeito estufa.
Sem estas pressões, nunca Durão Barroso poderia ter superado o colete de forças dos grandes e urgido à criação de uma temida entidade europeia reguladora da energia e à obrigatoriedade de se vir a separar claramente a actividade de produção da actividade de distribuição.
Pode argumentar-se que, nesta matéria, a Comissão Europeia corre o risco de ser derrotada pelos Estados membros e tudo se ficar pelas boas intenções. Mas, ao contrário de outras vezes, Barroso fez um enorme trabalho preparatório e atingiu um elevado nível de concertação política praticamente em todos os domínios.
Energia nuclear, redução de CO2, compromisso pós-Quioto, metas até 2020, poupança e eficiência energética, produção a partir de energias alternativas e renováveis, consumo automóvel, política externa, concorrência e preços, elevados financiamentos à investigação e desenvolvimento, sobre todos estes aspectos a Comissão Europeia elaborou doutrina, estipulou metas, definiu o papel de Bruxelas e o papel de cada Estado.
Obviamente falta fazer tudo o que agora se enunciou. Mas o que mais falta é que os Estados membros explorem rapidamente as novas balizas europeias e disso tirem partido.
Sobretudo Portugal pode retirar um enorme proveito. Porque a sua situação energética é absolutamente dramática.
O País tem uma dependência energética primária do exterior de 85% que é decomposta em 13% de carvão, 13% de gás natural, 71% de petróleo e 3% de electricidade. O que se traduz simultaneamente num consumo altamente poluente de energia e numa enorme sensibilidade à variação dos seus preços. E que custa, além do mais, um terço do défice externo.
E mesmo olhando apenas para a energia primária produzida em Portugal, a situação é igualmente inquietante. Apenas um quarto da produção é feita com energia limpa. O restante é uma enorme chaminé de CO2.
Chegou por isso a hora de apostar tudo no aumento da produção nacional e sobretudo em energia limpa. Há todo um mundo de novas tecnologias por explorar (marés, hídricas, eólicas, hidrogénio, solar, biofuel e biomassa), há um enorme trabalho de eficiência energética por fazer (transportes, empresas, residências), há uma grande receptividade dos consumidores e há consideráveis verbas disponíveis para investigação.
O que não faz sentido é continuar a ser um País que paga das energias mais caras da Europa, tem uma economia baseada numa fraca intensidade energética e se dá ao luxo de andar num esforço doido a aumentar as suas exportações para pagar o petróleo e o carvão que, além disso, nos intoxica.
Eduardo Moura

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