A viagem de quatro dias que o presidente da República Islâmica do Irão efectuou por países da América Latina foi oficialmente anunciada como uma iniciativa para aprofundar laços de cooperação e relações bilaterais na região. Este périplo incluiu vários protocolos de cooperação (estratégica) e um noticiado acordo para o petróleo com Chávez, em Caracas; a implementação de relações bilaterais - que mais tarde serão aprofundadas - com Daniel Ortega, em Manágua; a comunhão de interesses proclamada por ocasião da posse de Rafael Correa, em Quito, onde Mahmoud também se entrevistou com Evo Morales (da Bolívia).
Mahmoud Ahmadinejad terá até reservado espaço de agenda - nestas paragens - para cumprir a oração da tarde numa mesquita de uma cidade hispânica.
Ali, não muito distante para uma ave de altanaria, George W. Bush jogava a cartada decisiva (para o resto do segundo mandato e, quiçá, para o seu lugar na história) com uma derradeira new wave que os marines vão cavalgar para tentar «pacificar» o Iraque. Entretanto, o engenheiro iraniano - qual pequeno jocker do eixo do mal - protagoniza uma astuciosa manobra diplomática adentro da fronteira física do inimigo americano.
Enquanto o presidente dos EUA é contestado internamente e a administração acusada institucionalmente pela poderosa Human Rights Watch a propósito da manutenção da prisão e das violações de direitos humanos em Guantánamo, as movimentações do pequeno Mahmoud e comitiva pela Venezuela, Nicarágua e Equador terão justificado muitos bites de registos por parte da agência central de informações.
É sabido que o anti-americanismo recalcadamente declarado dos actuais líderes da Venezuela, Bolívia e Nicarágua apenas tem sido amenizado por líderes mais moderados (Brasil, Chile e Paraguai). Em Cuba, a História está suspensa, o México é um caso à parte e a Colômbia tem as suas especificidades.
Apesar de se constituir como dado de geopolítica analisado há já algum tempo, a intensificação do anti-americanismo na região (folclore à parte), sobretudo com Chávez e Morales ganha agora um novo adepto com a nova liderança no Equador, embora este país seja o mais pequeno entre os andinos e com a economia mais fragilizada.
Por fim, ao procurar fortalecer laços com pretensos aliados anti-americanos, Ahmadinejad (subestimado como um mero islamista radical) revela tacto, senão criatividade diplomática.
E, mesmo que aparente estadismo de figurino, e sem o purismo conceptual de Clausewitz - aprendido pelos pupilos de Calvet de Magalhães - a diplomacia que animou o «voo andino de Mahmoud» distingue-se da guerra mas também serve objectivos de política externa.
É certo que o capital de desconfiança que o sistema internacional nutre por Ahmadinejad não lhe deixa muitas possibilidades de parceria. É igualmente certo que a diplomacia de Teerão não conta com uma crispação extrema da situação na América Latina.
Mas, também é certo, que os próximos meses da «nova onda» em Bagdad ajudarão a perceber um pouco mais do alcance estratégico do voo do líder iraniano sobre os Andes.
antonioferreira@dinheirodigital.pt
terça-feira, 18 de setembro de 2007
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