terça-feira, 18 de setembro de 2007

O poker do BCP


Charles Nesson, professor de direito de Harvard, tem um plano para incluir o ensino do poker em universidades e outros níveis de ensino. “O mundo seria melhor se todos jogássemos poker”, afirma o professor, em notícia de primeira página do “Financial Times”, defendo o ensino da “disciplina” aplicado a áreas tão distintas quanto os negócios, o direito, a diplomacia, a estratégia de guerra ou os programas para alunos desfavorecidos.
Se há assunto onde a experiência no poker deve ser uma ajuda preciosa é no caso do BCP. Nas últimas semanas já houve jogadores a fazer bluff, outros a passarem mas a manterem-se em jogo. Está em curso a última rodada de apostas.
Depois da escalada de tensão que precedeu a primeira parte da assembleia geral interrompida, os dois blocos tiveram um tempo de reflexão, que permitiu chegar pelo menos a duas conclusões: ninguém tem condições para esmagar a outra parte nem o BCP tem condições de prolongar o ambiente de crise que já dura desde o início do ano.
É neste quadro que se encaixam as “démarches” levadas a cabo pela Teixeira Duarte, na sua qualidade de grande accionista nacional e histórico do banco, que representam ainda outra mudança significativa. O diferendo saiu das mãos dos administradores e passou a ser gerido directamente pelos accionistas.
Nos últimos dias já esteve tudo em aberto, desde a saída de Paulo Teixeira Pinto e Jardim Gonçalves, ao risco de ruptura das negociações ou à iminente obtenção de um acordo mínimo, que garanta a aprovação da proposta de alargamento do Conselho Geral e de Supervisão, embora com menos elementos, por todos os grupos accionistas, e evite que a assembleia continue no mesmo tom de batalha jurídica da anterior.
A confirmar-se este cenário, que se tornou mais forte nas últimas horas, na próxima segunda-feira não vai mudar nada de substancial no BCP mas ficará claro que uma solução definitiva será possível nos próximos meses, provavelmente ainda antes do final do ano.
Neste cenário, quem ganha e quem perde? Teixeira Pinto reúne condições para levar o mandato até ao fim ou pelo menos até à assembleia que promoverá a alteração de estatutos e evitará uma saída humilhante. Mas deu sinais de falta de liderança, incluindo dos accionistas que o apoiam, e neste momento já é claro que não passa por ele a solução do banco. Jardim Gonçalves consegue também o que sempre defendeu: que os administradores se deveriam manter nos seus postos até ao final do mandato, pondo de lado as respectivas divergências em nome do interesse do banco. Mas com a alteração previsível do modelo de gestão do banco, não voltará a ter a posição de poder que recuperou enquanto presidente do Conselho Geral e de Supervisão. Apesar do seu papel de referência, o futuro no BCP não passará mais por ele.
Do que já nenhum se livra é de passar à história pela forma amadora como lidou com a situação. Jardim avançou com uma proposta de alteração dos estatutos e tão habituado estava à unanimidade quase soviética dos accionistas que não se deu conta que tinha perdido o apoio de parte deles. Teixeira Pinto deixou-se envolver na lógica triunfalista dos seus apoiantes sem perceber que estava longe de reunir os apoios necessários. Os dois contribuíram para o impasse que minou a vida do BCP nos últimos meses.
Assim, a terceira via não passa de uma solução de transição. Charles Nesson diria que talvez tivesse corrido melhor se houvesse bons jogadores de poker no BCP.

Luisa Bessa

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