terça-feira, 18 de setembro de 2007

Dias da Cunha e o Apito Dourado


Dias da Cunha vai ser ouvido pela equipa de Maria José Morgado na sequência das declarações feitas, na semana passada, pelo ex-jornalista Marinho Neves, que assumiu ter trabalhado para o Sporting durante o mandato do ex-presidente (2000 a 2005).



Marinho Neves garantiu que, durante seis anos, enviou para Alvalade relatórios detalhados sobre eventuais ligações entre dirigentes e árbitros que visavam beneficiar algumas equipas e prejudicar outras. Uma das equipas a prejudicar, segundo Marinho Neves, seria o Sporting, pelo que em alguns relatórios dava sugestões sobre a forma como os jogadores se deviam comportar para não serem expulsos.

Afirmou ainda que tinha conhecimento, com 15 dias de antecedência, dos árbitros que iam apitar jogos do Sporting e dos jogadores que iam ser provocados.Nas declarações que efectuou aquando do relançamento do livro ‘Golpe de Estádio’, Marinho Neves assegurou que muitas das informações que enviou para o clube não chegavam ao treinador José Peseiro e que alguns relatórios foram parar ao “Norte”.

Assim que Filipe Soares Franco sucedeu a Dias da Cunha, Marinho Neves deixou o Sporting.

Segundo apurou o CM, a audição de Dias da Cunha, que deverá ser conduzida pessoalmente por Maria José Morgado, tem ainda a ver com o conhecimento do ex-líder dos leões sobre o futebol português, dado que nos seis anos em que liderou o clube, e após afastar-se de Pinto da Costa sempre se pronunciou contra aquilo a que chamava de “sistema”.

O ex-presidente do Sporting foi um dos poucos dirigentes desportivos que, em 2002, apoiou Maria José Morgado, quando a magistrada disse que o “futebol é um mundo de branqueamento de dinheiros sujos”. Dois meses depois, Dias da Cunha afirmou que havia “muitos sacos azuis, muita contabilidade criativa e muito dinheiro sujo no futebol”. E acrescentou: “Aquilo que a procuradora disse corresponde à verdade, mas isso não mata o futebol na sua verdadeira dimensão [...]”.

O CM tentou, sem êxito, contactar Dias da Cunha.

Maria José Morgado não presta declarações.

LARGOS DIAS TEM SEIS ANOS

2000 - António Dias da Cunha assume a presidência do Sporting.2001 - Dias da Cunha e Pinto da Costa têm relações cordiais e alinham estratégias no âmbito do chamado ‘Movimento dos presidentes’.

2002 - Dias da Cunha e Pinto da Costa, em sintonia, não apoiam a recandidatura de Valentim Loureiro à presidência da Liga (ao contrário do Benfica).

2003 - O ano da ruptura. Soares Franco e Pinto da Costa trocam ‘mimos’ na imprensa e Dias da Cunha solidariza-se com o seu vice--presidente.

2004 - Em entrevista na RTP, Dias da Cunha identifica Pinto da Costa e Valentim Loureiro como os rostos do sistema. Passadas poucas semanas começa o megaprocesso ‘Apito Dourado’.

2005 - Dias da Cunha deixa a presidência do Sporting.

PROCURADORA TEM PLENOS PODERES

O procurador-geral da República, Pinto Monteiro, deu plenos poderes a Maria José Morgado para dirigir e coordenar a investigação de todos os inquéritos já instaurados ou a instaurar que estejam relacionados com o processo ‘Apito Dourado’.

Depois de ter inquirido Carolina Salgado, a magistrada reabriu o processo do ‘Caso das Prostitutas’, em que são arguidos, entre outros, Pinto da Costa e o árbitro Jacinto Paixão.
Octávio Lopes

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