terça-feira, 18 de setembro de 2007

Next stop is Vietnam


Cavaco Silva não queria que a sua viagem à Índia fosse nem "passeio turístico nem peregrinação histórica" e conseguiu. Porque, acompanhando as etapas da visita desde Nova Deli a Bangalore, pôs os portugueses a falar da Índia e a descobrir um país longínquo que está no centro do crescimento económico mundial.
Apenas por isso já teria valido a pena.
Mas o Presidente da República colocou a fasquia mais acima. Ao aparecer acompanhado de uma delegação de seis dezenas de empresários e gestores, entre os quais os líderes de algumas das maiores empresas nacionais, e ao promover encontros empresariais em cada uma das paragens, assumiu que estava a fazer diplomacia económica. E o objectivo da diplomacia económica é contribuir para fazer negócios.
Desse ponto de vista, o modelo da visita tem limitações que importa corrigir para iniciativas futuras. Reunir meia centena de empresários, com um back ground de experiência diverso em relação ao mercado indiano e tratar tudo por igual não é uma boa receita. Empresários que já operam na Índia, que precisam de desenvolver os seus contactos, têm necessidades diferentes de outros que estão a olhar para o país pela primeira vez. E não faz sentido ter os presidentes de grandes empresas a receberem contactos que não querem, na maioria dos casos, senão vender-lhes propostas de consultoria legal, porque o ICEP não foi capaz de fazer a triagem necessária.
O desajuste do modelo é reconhecido mesmo entre quem tem responsabilidades na organização. Mais preparação técnica inicial e mais acompanhamento do dia seguinte são as necessidades identificadas.
Independentemente dos negócios que se possam vir a fazer, com as tecnológicas activamente no terreno, o turismo a espreitar as oportunidades que parecem mais firmes e as construtoras na defensiva, porque apesar do "boom" anunciado de investimentos em infraestruturas não lhe foi dado ver projectos concretos, a missão empresarial serviu para confrontar uma boa parte da classe empresarial com a realidade indiana. E o choque não podia ser maior.
A passagem pelas empresas "high tech high growth" de Bangalore, os números do crescimento económico em directo não podem ter deixado ninguém indiferente. As vantagens do custo da mão de obra qualificada (um engenheiro com experiência custa na Índia 1,7 dólares/hora) associados a semanas de trabalho de seis dias resultam numa significativa vantagem competitiva, que as empresas indianas não param de aproveitar. Mesmo que o crescimento económico continue a deixar milhões à margem e apesar de estar praticamente tudo por fazer em termos de infraestruturas e de recuperação ambiental, é evidente que a Índia vai desempenhar um papel crescente na região e no mundo. O mundo bipolar, dominado pelos Estados Unidos e pela Europa, tanto em termos políticos como económicos, está claramente ameaçado. E o novo mundo multipolar terá um dos seus pólos no subcontinente indiano.
Os empresários portugueses já tinham despertado à força para a China. Levaram agora com a Índia. É bom que se preparem para os choques futuros, como o Vietname, de que falou o Presidente da República, que tem uma população de 85 milhões, metade dos quais com menos de 25 anos, e que está a registar taxas de crescimento económico da ordem dos 8%.
Empresários e gestores estão na primeira linha da mudança porque deles depende a organização das empresas e em parte a saúde económica do país. Mas não podem ser apenas eles a preparar-se. Cidadãos em geral, responsáveis da administração pública e sindicalistas têm de compenetrar-se da grandeza do desafio.

Luisa Bessa

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