terça-feira, 18 de setembro de 2007

O Banco dos réus


O BCP agoniza no seu PREC. A "revolução" de 28 Maio, data da última Assembleia Geral, representou a emancipação de Paulo Teixeira Pinto sobre Jardim Gonçalves, mas não a vitória de um ou a derrota do outro. Então, foi pela ameaça, mas não pela acção, que dois projectos de poder se defrontaram.
Hoje há mais uma negociação: o Conselho Geral de Jardim Gonçalves mandou sentar Teixeira Pinto num banco de réus. Neste mês que passou (parece bem mais!) desde a Assembleia Geral no Palácio da Bolsa no Porto, o presidente executivo, que gosta de citar "Quase" de Mário Sá Carneiro, já enlaçou a asa, mas ainda não voou.
Paulo Teixeira Pinto está preparado para esticar a corda - já o estava na Assembleia Geral - e romper definitivamente com os accionistas velhos. Mas neste Verão Quente no BCP, será na Assembleia Geral de Agosto que se delimitarão os campos e listarão vencedores e vencidos. Porque parece cada vez mais improvável o desejo de manter as aparências mais meia dúzia de meses para uma transição suave no fim do mandato desta administração. Há lá dentro gente que já não se suporta. E há gente que, se suportar, perde a face (e o cargo?) a conta-gotas. É por isso que a Assembleia Geral promete ser palco para quebrar em vez de dobrar: a próxima reunião de accionistas pode ser o 11 de Março do BCP. Ou o seu 25 de Novembro. Quando acabou o PREC.
Porque há mais neste folhetim que dois presidentes frente-a-frente. Há um banco vital para o País e uma acção cotada em Bolsa com milhares de accionistas pasmos. Os jornais podem até entreter-se com o que a gestão chama de "custos de agência" (quando há conflitos administradores e accionistas). Mas quem tem acções do BCP a longo prazo e quem lá trabalha precisa de estratégia. E o BCP tem de querer mais do que viver na especulação que tem feito as acções escalarem montanhas inverosímeis: é o banco que mais valoriza na Europa, mesmo que apenas com promessas de futuro e derrotas no passado. E no entanto, a acção move-se. Portugal iniciou ontem a sua terceira Presidência da União Europeia. Esta será a última presidência desta geração política e Portugal não pode queixar-se de falta do que fazer. Ontem arrancou "um semestre alucinante para o Governo", como escreve a jornalista Eva Gaspar, especialista em Assuntos Europeus, no suplemento de 24 páginas que o Jornal de Negócios hoje publica.
Nunca Portugal teve uma agenda europeia tão carregada: negociações para um Tratado europeu, revisão da Estratégia de Lisboa com componente ambiental e energética pós-Quioto, mercado interno; cimeiras com Brasil (a primeira), Rússia (a mais delicada), Índia e China, a "cimeira-cereja" UE/África...
"Fazer" uma boa Presidência é ser mais europeísta que nunca, e não aproveitar para fazer vingar os pontos de vista nacionais, como é habitual sugerir. Por essa razão, não deve medir-se o sucesso desta Presidência por aquilo que Portugal vai conseguir para lá de um nome de uma cidade posto num Tratado ou numa Estratégia. Pela mesma razão, a Presidência também não pode ser o álibi para evitar confrontos, rupturas e decisões difíceis no governo do País.

Pedro Santos Guerreiro

Sem comentários: