domingo, 16 de setembro de 2007

NO (DES)CONFORTO DAS PREVISÕES

As palavras do governador do Banco de Portugal indicando uma previsão de crescimento «moderado, mas consistente» da economia podem ser assumidas sem descrença e com toda a razoabilidade.
Porém, com os sinais da inflação (por cá tudo aumenta: educação, água, luz, batata) e a subida das taxas de juro, a perspectiva de evolução do rendimento disponível nas famílias é menos acomodável do que a esperança do governador Vítor Constâncio quanto à solvência dos portugueses.
Animado pelo bálsamo das recentes estimativas sobre o desempenho das finanças públicas em 2006 e a aceitação, por Bruxelas, do PEC português actualizado em Dezembro, este governo - que, segundo o reputado gabinete de análise EIU (The Economist), tem característica «genuína» - vai marcando passo em áreas fundamentais da política económica, segundo diagnóstico e prioridades apontadas esta semana pela OCDE (relatório Going for Growth 2007).
Por isso convém não alucinar (como fez o secretário-geral da CGTP quando foi colocado perante a falta de flexibilidade das leis do trabalho em Portugal) e ir aceitando que os tais «direitos adquiridos» também se revogam.
Entre algum deslumbramento (à falta de uma oposição capaz) e um certo ar de folga face aos resultados do esforço demonstrado na consolidação orçamental (seis para 4,6% do PIB em dois anos), com as medidas anunciadas para reforma da administração pública (e já empolada modernização), o governo sabe que muito está por fazer, que o caminho ainda é longo e que o atraso na implementação de reformas vai passando factura.
Um crescimento «moderado» de 1,8% (que se espera tenha maior contribuição do investimento), acompanhado de uma taxa de desemprego praticamente estagnada nos 7,4%, tornam legítimo exigir mais acção e rapidez na governação. A ideia de que as mudanças levam tempo não aproveita aos portugueses.
Com mais dois anos de mandato pela frente e um ambiente de convivência institucional (interno e externo) de que nenhum outro governo beneficiou tanto, nada se diz sobre a dinamização do investimento e do emprego, nem sobre a implementação efectiva de medidas de redução (ao invés de contenção) da despesa pública.
Para lá de medidas e programas sonantes (eficiência energética, simplex, etc.) sobram desafios decisivos como o objectivo do défice para este ano (3,7%) e o aviso de que o pipeline da eficiência fiscal não resolve tudo.
antonioferreira@dinheirodigital.pt

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