Não há petróleo sob o Fórum Picoas. Mas o preço sobe. Mesmo que Paulo Azevedo tenha mandado ler nos seus lábios que só um louco pagaria acima de 10 euros por acção. Os Azevedos enlouqueceram.
Tudo foi, portanto, "bluff" negocial. Não há petróleo sob o Fórum Picoas como não há diamantes na RTP, onde Belmiro de Azevedo jurou que jamais aumentaria o preço da sua oferta, excepto se algo de inimaginável ocorresse. Não ocorreu. Mas o preço sobe. Mesmo que Paulo Azevedo tenha mandado ler nos seus lábios, em entrevista à Reuters há um par de meses, que só um louco pagaria acima de 10 euros por acção. Os Azevedos enlouqueceram.
A Portugal Telecom vale de facto mais hoje do que valia há um ano, quando a oferta pública de aquisição foi lançada. Todo o sector das telecomunicações se valorizou entretanto: nos últimos doze meses, o índice Dow Jones que reúne as empresas cotadas de telecomunicações europeias escalou 16,4%.
Mais: a Sonaecom lançara a sua oferta quando as acções das empresas de telecomunicações estavam excepcionalmente baixas, depois da France Télécom ter sobreavaliado o prejuízo que o negócio da voz sobre Internet teria nas suas contas. A administração da PT esteve aliás perto de considerar a OPA não só hostil como oportunística.
Mas a PT vale mais sobretudo por causa das suas próprias contas. Primeiro, porque o engenheiro Zeinal Bava esmiuçou todas as soluções para insuflar as contas com resultados extraordinários, que douraram a folha anual de uma PT debaixo de fogo.
Não é crime: como Henrique Granadeiro costuma dizer, o primeiro produto da PT é a gestão financeira do "cash". Mas, além daquilo que Paulo Azevedo chamou de "propaganda", a PT melhorou no terceiro e sobretudo quarto trimestres de 2006 a sua actividade operacional, ganhou clientes, abateu custos, deu a volta no Brasil. E fê-lo numa camisa-de-forças, com a administração absorvida pela gestão da OPA e a ver oportunidades de expansão passar debaixo do seu nariz, inibida que está de tomar decisões estratégicas de alcance. Granadeiro é, portanto, um justo vencedor desta noite.
Mas esta foi uma noite de muitos vencedores: vencem todos os accionistas da PT, desde os mais antigos (BES, Telefónica...), aos mais recentes (Carlos Slim, Nuno Vasconcellos...), incluindo os especuladores (Joe Berardo, "hedge funds"...); vencem os bancos financiadores (comandados pelo Santander) e demais assessores.
E vencem os Azevedos. Sim, Belmiro e Paulo vencem, pois estão mais perto de comprar a PT, provavelmente cumprindo um plano que desde o princípio admite esta revisão de preço. Terem jurado que não aumentavam é um pecadilho moral menor: que outra coisa poderiam dizer até ontem? Também Paulo Teixeira Pinto diz que jamais pagará mais pelo BPI e ainda veremos como essa OPA acaba. A não ser que a CMVM entenda que as juras falsas manipularam o mercado, o que se passou até aqui foi negociação. Com 200 mil accionistas ao mesmo tempo.
Ao anunciar agora esta revisão do preço em vez de esperar pela data-limite, a Sonaecom reage ao seu último "road show" e ganha tempo para fazer publicidade, para angariar accionistas para a Assembleia Geral que lá vão desblindar estatutos.
Porque a OPA não está ainda ganha. Granadeiro tem trunfos guardados, a PT vai reagir, vai pedir mais dinheiro, quer mais que este preço-canhão. Ou preço de paz, chama-lhe a Sonae.
A OPA não começou agora. Mas não acaba aqui. Avança a 10,5 euros por acção. E de loucura estamos conversados. Agora vamos aos negócios.
- "Pedro Santos Guerreiro" - Publicado 15 Fevereiro 2007
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