terça-feira, 18 de setembro de 2007

Santana acusa Cavaco de aliar-se a Sampaio para derrubar Governo


O ex-primeiro-ministro social-democrata Pedro Santana Lopes acusa o actual Presidente da República, Cavaco Silva, de se ter aliado ao seu antecessor, Jorge Sampaio, e a dirigentes do PSD para derrubarem o seu Governo.


A revelação é feita no livro «Percepções e Realidade», à venda a partir de hoje, em que Santana relata os bastidores da sua nomeação para primeiro-ministro, em Julho de 2004, e da queda do seu Governo, a 30 de Novembro, dia em que o Presidente Jorge Sampaio anunciou a antecipação das legislativas.
«O que aconteceu entre Junho e Novembro de 2004 foi uma conjugação de esforços para deitar abaixo essa coligação e substituí-la pela Governação do PS. Houve, de facto, uma diferença de caminhos. Cavaco Silva queria fazer tudo para ser eleito Presidente. Marcelo Rebelo de Sousa tinha o mesmo caminho», escreve Santana Lopes.
Logo nas primeiras páginas do livro, o ex-líder do PSD refere as resistências internas à sua escolha e nomeia alguns nomes: Manuela Ferreira Leite, Marques Mendes, Rui Machete, António Borges e Marcelo Rebelo de Sousa.
Essa era a «frente interna», no PSD, que se opunha à sua nomeação, havendo ainda a «frente externa», que Santana Lopes identificou com Jorge Sampaio e os partidos que o apoiaram para as presidenciais - PS e PCP.
«E, noutro plano, Cavaco Silva. De facto, Cavaco Silva corria o seu próprio caminho, que era também objectivamente contrário à minha liderança no partido e no Governo», argumenta.
Para Pedro Santana Lopes, Jorge Sampaio não teria tomado a decisão, a 30 de Novembro de 2004, de dissolver a Assembleia da República e antecipar as legislativas «se não houvesse o factor das eleições presidenciais».
O antigo primeiro-ministro, que na apresentação do livro, segunda-feira, em Lisboa, atribuiu a queda do seu executivo a «uma conjugação objectiva de interesses de diferentes origens partidárias», concretiza melhor a acusação nas páginas de «Percepções e Realidade».
«Juntaram-se duas componentes: a das eleições legislativas e a outra, a de quem seria o próximo Presidente da República. Jorge Sampaio, como se sabe, e eu sei, nunca teve proximidade com António Guterres. (...) Ouvi-lhe, por várias vezes, comentários elogiosos à pessoa de Cavaco Silva, e nunca incomodado com a hipótese de o seu ex- adversário [em 1996] vir a ser Presidente», salienta.
Segundo Pedro Santana Lopes, Jorge Sampaio «preferia Cavaco Silva» em Belém a Mário Soares ou Manuel Alegre.
Mas além destes dois factores, havia um terceiro - os erros do Governo e da sua liderança.
«Não atribuo tudo o que se passou a movimentos externos. Houve debilidades da nossa parte. Houve falhas próprias», lê-se no livro.
Na «conjugação objectiva de interesses de diferentes origens partidárias» para o desgastar ou derrubar, Santana Lopes aponta o dedo aos «cavaquistas».
«Desde o início que o sector cavaquista considerou que, estando nós no Governo, com as medidas difíceis que tínhamos de tomar, se complicariam as hipóteses de vitória de Cavaco Silva [nas presidenciais]», considera.
«Preferiram deitar abaixo um Governo seu para que Cavaco Silva pudesse chegar a Belém», descreve.
Os acontecimentos políticos posteriores, alega, confirmam que «existiu uma grande convergência entre diversos protagonistas» - a vitória do PS nas legislativas e a candidatura presidencial de Cavaco Silva, que venceu as eleições já em 2006.
E anota que «entre Jorge Sampaio e Cavaco Silva passou também a haver essa convergência muito forte, que teve consequências ao nível da evolução política no ano 2004-2005».
Ao longo das 420 páginas do livro - em que também faz um balanço da actividade do seu Governo - Pedro Santana Lopes critica a opção de Jorge Sampaio de dissolver o Parlamento - «não faz sentido que o Chefe de Estado dissolva o Parlamento havendo uma maioria que apoia o Governo» - e acusa-o de ter mudado de opinião «da noite para o dia», de 29 para 30 de Novembro.
Se nos dias anteriores Santana afirma que Sampaio lhe garantiu, por três vezes, que não estava nos seus planos dissolver a Assembleia, no dia 30 o antigo primeiro-ministro confessa que foi surpreendido.
A 30 de Novembro, Jorge Sampaio anunciou a dissolução do Parlamento e antecipação das legislativas, dias depois de um ministro de Santana Lopes, Henrique Chaves, se ter demitido alegando falta de lealdade do primeiro-ministro, pondo fim a semanas de agitação política em torno do caso Marcelo/TVI e de notícias sobre a alegada falta de coordenação no Governo de aliança PSD-CDS.
Diário Digital / Lusa
14-11-2006

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