segunda-feira, 17 de setembro de 2007

OS PARVOS, OS ILUSIONISTAS E OS IGNORANTES


Quando se quer convencer alguém que está muito bem informado, argumenta-se com factos. Quando o assunto é tecnicamente complicado ou há assimetria de informação em desfavor daquele que se quer convencer, argumenta-se com opiniões. Na OPA à PT, é isso que está a acontecer: grita-se, acusa-se, hiperboliza-se. É uma OPA musculada.



Quando se quer convencer alguém que está muito bem informado, argumenta-se com factos. Quando o assunto é tecnicamente complicado ou há assimetria de informação em desfavor daquele que se quer convencer, argumenta-se com opiniões. Na OPA à PT, é isso que está a acontecer: grita-se, acusa-se, hiperboliza-se. É uma OPA musculada.
O clamor tornou-se ensurcedor. As críticas passaram a ser insultos, as comparações passaram a ser demagogia, a utilização da informação passou a ser sectária e convenientemente omissa.
Veja-se o sumário das declarações de ontem:
Henrique Granadeiro diz que quem defende (como Paulo Azevedo e Carlos Tavares defenderam) o fim de desblindagens de estatutos não é apenas liberal, "é parvo". Fontes do BES e da Ongoing acusam a Sonaecom de criar "falsas ilusões" aos accionistas.
Nuno Vasconcelos diz que "falta transparência", Jorge Neto acrescenta que "falta segurança". Joe Berardo diz que a proposta da Sonae "é impossível", a CMVM diz que Berardo é ignorante. E Paulo Azevedo diz que os accionistas que não venderem são cábulas, porque não estudaram bem as propostas. Ettore Scola não escolheria melhor, no seu "Feios, Porcos e Maus"...
Repare-se: estamos na véspera da assembleia geral da década, o próximo e dificílimo obstáculo da OPA à Portugal Telecom. Será aliás mais difícil que a oferta passe na assembleia geral do que conquiste mais de 50% das acções se chegar ao mercado. Não somos nós quem o diz, é o mercado, que não confia em opiniões nem se impressiona com acusações, medindo factos e probabilidades, com que calcula preços de acções. E nesta véspera de assembleia magna, os grandes accionistas não estão empenhados em informar os pequenos accionistas, mas em confundi-los.
Como no "Triunfo dos Porcos", há accionistas da PT que são mais iguais que outros. 34% dos presentes na assembleia chegam para vencer 66%. Mesmo que todos os inscritos estejam presentes (e é possível que não compareçam todos os que registaram essa intenção), isso significa que 20% do capital da PT é a minoria de bloqueio suficiente para que a OPA morra já na sexta-feira.
Pode ser pouco liberal mas, usando a expressão de Henrique Granadeiro, de parvos estes accionistas não têm nada. Nem o BES e a Ongoing, fiéis a um projecto próprio; nem Joe Berardo, fiel ao dinheiro que lhe pagarem; nem a Telefónica, fiel às contrapartidas da Sonaecom no Brasil; nem Carlos Slim, fiel em combater o poderio da Telefónica; nem o Governo, fiel ainda não se sabe bem a quê; nem a Caixa Geral de Depósitos, fiel ao álibi perfeito dado ao Estado para que decida contra o politicamente correcto, se for caso disso.
E nem a Sonaecom é parva. Os dois últimos lances desta partida de xadrez (o aumento da remuneração dos accionistas, primeiro pela PT, depois pela Sonaecom) foram ambos boas jogadas. E é um exercício difícil (nesta edição fazemo-lo) comparar os 5,7 mil milhões propostos pela PT com os 5,7 mil milhões propostos pela Sonaecom. Até porque a conversa é inquinada, omissa e desviante.
Quanto vale uma acção da PT? Depende também de quem a tem. Mas já vimos que vale mais do que a palavra de alguns dos seus accionistas.


Pedro Santos Guerreiro - Publicado 1 Março 2007

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