terça-feira, 18 de setembro de 2007

OS LUCROS DO MILENIO



O BCP apresentou ontem os piores resultados líquidos dos últimos nove trimestres. E o pior segundo trimestre desde 2003. A queda de 22% nos lucros semestrais é exclusivamente devida aos custos da OPA: a factura dos 65 milhões afundados na tentativa de comprar o BPI foi agora cobrada.
Mas mesmo sem esse efeito, o crescimento de 3% comparável é pior que o dos últimos anos; pior do que os analistas previam; pior do que se espera que os concorrentes BES e BPI apresentem hoje e sexta-feira. É uma evidência: os resultados do BCP estão a ressentir-se da crise no banco.
Não há milagres. O “momento difícil” em que o banco vive – citando o eufemismo usado ontem por Paulo Teixeira Pinto – descentra necessariamente a administração do negócio bancário. E, sobretudo desde que os conflitos deixaram as salas de reuniões e se tornaram públicos e publicados, o efeito propagou-se à organização. Foi depois da certidão de óbito da OPA sobre o BPI que as divergências se tornaram públicas, numa crescente espiral de conflito. E foi, também, no segundo trimestre que os resultados mais se ressentiram. Anulando, inclusivamente, o brilharete que Teixeira Pinto tinha feito há alguns meses, quando apresentou pela primeira vez resultados líquidos anuais (de 2006) sem um grama de receitas extraordinárias.
Nada disto seria excessivamente grave se fosse um epifenómeno localizado que viesse a ser rapidamente sanado; e se as acções do BCP não estivessem nesta montanha-russa.
Seja qual for o desfecho da próxima assembleia geral de 6 de Agosto, é demasiado improvável que a pacificação aconteça e seja rápida. O esforço de contagem de espingardas de um lado e do outro obrigou a sacrificar a estabilidade accionista, havendo demasiada gente antagonizada e estando a pulverização accionista a um tal nível que dificilmente será possível agregar interesses dos que compraram acções para se alistarem com Teixeira Pinto ou com Jardim Gonçalves. Ninguém investe, nem investiu, por simpatia ou fidelização – haverá uma altura em que esses accionistas quererão o retorno do seu investimento. E aí não haverá aliados. Haverá dinheiro, cargos, créditos... A pacificação na administração exige uma clarificação accionista e isso passa por muita gente reforçar e outra gente vender. O que demora tempo. E custa dinheiro.
Sobretudo porque muitos investiram com os olhos na mais--valia rápida e especulativa. Há accionistas interessados neste muro das lamentações que tem sido o BCP, gasolinando a especulação e fazendo as acções treparem para valores bem acima dos preços-alvo, como ontem avisou Teixeira Pinto.
As acções do BCP subiram tão vertiginosamente até à semana passada (entretanto já caíram 9%) não porque houvesse negócio ou negócios que o justificassem, nem porque houvesse iminência de OPA, mas porque houve uma bolha na procura, com muitos institucionais a comprar títulos para enfileirarem os exércitos que vão à assembleia geral votar uns contra os outros. Mas ainda ontem, dois estudos, do Espírito Santo e do Dresdner, vieram recomendar a venda das acções.
A crise no BCP não se extingue nos seus accionistas nem se contém na sua administração. Ela desce na hierarquia, por questões motivacionais mas também porque há quem tenha tomado parte nas direcções centrais e vá a ser confrontado com as suas opções. O “momento” no BCP ainda vai ter de ficar mais difícil antes de ficar mais fácil.

- "Pedro Santos Guerreiro" -

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