terça-feira, 18 de setembro de 2007

O MILLENNIUM HORRIBILIS

A tentação de olhar para o que se passa no BCP como um duelo entre dois senhores dicotomiza a previsão: ganhará um ou o outro. Mas na Assembleia Geral de Agosto outra coisa pode acontecer: ganharem os dois. E logo não ganhar nenhum.
O BPI vai mesmo à Assembleia Geral para votar e só há uma coisa mais improvável do que ver Ulrich votar ao lado de Jardim: votar ao lado de Teixeira Pinto. E a EDP já encontrou justificação para votar a favor do alargamento do Conselho de Supervisão.
Há quatro pontos essenciais em discussão na assembleia geral, e por esta ordem:
1) Os aliados de Teixeira Pinto querem destituir os órgãos sociais e precipitar eleições.
Esta proposta parece condenada ao fracasso, logo passa-se para 2), os mesmos aliados querem destituir os cinco administradores adversários de Teixeira Pinto (que, embora presidente, é minoritário no Conselho de oito administradores).
O sucesso desta proposta está ameaçado, pois muitos accionistas (incluindo a Caixa, provavelmente a EDP e o BPI, e talvez os maiores accionistas estrangeiros) não querem votar “contra” a instituição.
Isto remete para a hipótese 3), Teixeira Pinto quer incluir na agenda o alargamento da administração, de forma a diluir o peso dos cinco adversários. O presidente da Assembleia já disse que não aceitará esta nova proposta, por aparecer fora de horas, logo ela poderá nem ser votada.
Independentemente de 2) e de 3), será sempre votado 4), o alargamento do Conselho Geral e de Supervisão, presidido por Jardim, o que permitiria a Teixeira Pinto infiltrar aliados no órgão de “oposição”. Ora, é provável que esta proposta vença.
Neste cenário (provável a quinze dias da reunião), a Assembleia pode resultar num golpe de teatro: Paulo Teixeira Pinto não ganha o controlo do Conselho de Administração mas ganha-o no Conselho Geral. Os dois presidentes ficam minoritários nos seus conselhos. E o banco fica ingovernável.
Como Lisboa, uma câmara presidida pela esquerda e uma assembleia municipal liderada pela direita. Mas também porque a lista de candidatos arrolada por Teixeira Pinto é uma lista de cedências, para agradar a quase todas as forças em jogo.
Quando, na Assembleia de há dois meses, Jardim retirou o ponto 8 de que sairia derrotado, manteve a agonia no banco; a 6 de Agosto, a agonia pode persistir. Há de facto razões para que as acções do BCP tenham o maior risco de toda a banca europeia.

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