terça-feira, 18 de setembro de 2007

Nomes e falácias


É grave, só pode ser grave, a atitude de quem é acusado de violar um dever de lealdade e de confiança elementar. Tão grave, que a acusação foi levada às últimas consequências e fez cair uma coligação. Provavelmente um governo, o que conduz os destinos da maior cidade do país.
É grave, só pode ser grave, a atitude de quem é acusado de violar um dever de lealdade e de confiança elementar. Tão grave, que a acusação foi levada às últimas consequências e fez cair uma coligação. Provavelmente um governo, o que conduz os destinos da maior cidade do país.
Passaram mais de 24 horas sobre a crise que estalou no Executivo da Câmara de Lisboa e a única explicação que permanece sobre o colapso da relação entre Carmona Rodrigues e Maria José Nogueira Pinto é que a vereadora do CDS não votou o nome indicado pelo presidente para liderar a Sociedade de Reabilitação da Baixa Pombalina.
E, em 24 horas, durante o dia de ontem, todas as interrogações foram postas. Lisboa vive com uma súbita crise política em cima da tremenda crise financeira que já tinha? E a equipa de Carmona Rodrigues sobrevive apenas com o apoio da maioria relativa do PSD? E será que o vereador socialista tresmalhado muda de lado, evitando eleições antecipadas?
Parece impossível, mas a maior das perplexidades passa em claro. Um nome é suficiente para fazer cair um projecto? Será a divergência em torno de Nunes Barata tão insanável e fatal, ao ponto de acabar numa questão de honra e de carácter?
Parece impossível, mas infelizmente não é. O país está viciado na discussão dos nomes. As causas perdem-se com a maior das facilidades em egocentrismos. O exercício do poder reduziu-se, com a maior das naturalidades, à desprezível chantagem do "ou estás comigo ou estás contra mim".
Na política como nas empresas. Na Câmara de Lisboa como na administração da Galp. Debaixo de uma complacência geral, em que a maioria assiste e alguns até agradecem, pensando coitados que estes vergonhosos espectáculos ajudam os jornais a vender notícias.
O presidente da Câmara de Lisboa tornou-se, pois, um político banal. E a vereadora Zezinha candidata a vítima. Interessa rigorosamente zero aos lisboetas. A governabilidade autárquica só é importante na medida em que é dificílimo governar bem uma cidade tão complexa como a de Lisboa.
Todos aqueles que estão de passagem pelo governo são, por definição, descartáveis. E é justamente em nome da cidade que deveríamos estar a assistir a uma onda de indignação.
O projecto que Maria José Nogueira Pinto pensou, articulou e concluiu para a revitalização da Baixa lisboeta é a coisa mais importante que aconteceu neste mandato. A razão para o seu afastamento é frouxa, logo uma afronta aos lisboetas.
Carmona garante que salva o projecto de Zezinha. E chama a si a responsabilidade. O projecto da reabilitação da Baixa, assinala ele, não morreu. Como se fosse possível um projecto sobreviver a partir do momento em que perdeu a alma.
O arredondamento das taxas de juro praticadas pelos bancos nos créditos à habitação é uma prática que, segundo a APB, toda a gente conhecia, excepto: a esmagadora maioria dos clientes, toda a classe política, toda a classe jornalística e o próprio governador do Banco de Portugal. E, ficou agora a saber-se, uma prática igualmente lucrativa. Só assim ficou polémica.
O presidente da APB diz que arredondar uma taxa é a mesma coisa que aumentar os spreads. Porque o custo do dinheiro tem de ser suportado de alguma forma. E, acrescenta, o dinheiro não é dos bancos, mas dos depositantes.
De certeza que o cidadão João Salgueiro é o primeiro a revoltar-se com estas explicações da APB. Porque dispensa que alguém lhe explique a diferença entre uma artimanha e uma prática transparente - e arredondar a taxa à socapa é uma artimanha. Mas, sobretudo, porque se o dinheiro dos bancos não lhes pertencem, Salgueiro sabe que os bancos têm donos. E que os lucros são distribuídos apenas aos accionistas, em forma de dividendos. O país precisa de bancos com mais lucros e menos demagogia.

Sergio Figueiredo

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