segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Multi-resistência preocupa

Tuberculose: Ligação ao HIV e multi-resistência preocupam

A tuberculose multi-resistente (TB- XDR) e a prevalência de infecção do vírus da SIDA entre os tuberculosos são as principais preocupações das autoridades portuguesas relativamente a uma doença que registou 3.092 novos casos em 2006.
Na véspera do Dia Mundial da Tuberculose, o diagnóstico da doença em Portugal foi feito pelo coordenador do Programa Nacional de Luta Contra a Tuberculose, António Fonseca Antunes, que ilustrou a grandeza dos números com um alerta: durante a sua exposição morreriam em todo o mundo 60 pessoas, na sua maioria jovens adultos.
A juntar-se aos mais de 3.000 novos casos registados em Portugal no ano passado, houve 241 retratamentos, 188 dos quais foram reincidentes. A incidência no sexo masculino foi duas vezes superior e a média de idades dos doentes situa-se nos 45 anos.
No panorama mundial, no qual se registam nove milhões de doentes com tuberculose, a realidade portuguesa apresenta uma incidência média, com 29 novos casos anuais por cada 100.000 habitantes.
Segundo o especialista, a diminuição média da ocorrência da doença é de 6% por ano, mas o país continua a «sofrer a herança social e económica da década de 60».
«Tem havido uma descida consistente, mas mais lenta do que seria desejável», precisou Fonseca Antunes, referindo que nos últimos 10 anos houve uma redução de 31% à custa dos adultos jovens.
Esta descida reflecte um dos objectivos programáticos da luta nacional contra a doença, que é desviar a mediana das incidências para idades mais avançadas e consequentemente travar novas infecções.
Sinal da regressão de novos casos é também a dispersão geográfica e a descida de 60% em quatro anos do número de doentes pertencentes ao mesmo agrupamento. A maior incidência geográfica regista-se nos distritos de Lisboa, Porto, Viana do Castelo e região Sul.
No seio da União Europeia, a realidade portuguesa surge no quinto lugar, continuando, porém, a apresentar a mais elevada incidência entre os países da UE antes do alargamento de 2004.
Na comparação com outros países, Portugal revela, todavia, uma das mais elevadas taxas de detecção e de tratamento, acima das metas globais da Organização Mundial de Saúde, 70 e 85%, respectivamente.
Em 2006, 373 doentes (11%) em Portugal eram estrangeiros, o que traduz uma proporção mais baixa do que a maioria dos países da União Europeia e, em números absolutos, revela uma diminuição de 34%.
A grande maioria destes casos foi encontrada nos distritos de Lisboa e Setúbal.
Dez vezes mais elevados são os riscos dos toxicodependentes contrariem a doença, tendo-se registado no ano passado 424 doentes, o que corresponde a um decréscimo de 39% nos últimos cinco anos.
Apesar da diminuição dos números, a nova face multi-resistente a um elevado número de medicamentos da tuberculose e a relação entre a doença e a SIDA concentram as atenções.
Para os especialistas, a prevalência da infecção VIH nos tuberculosos «é só por si uma epidemia distinta»: a taxa destes doentes no ano passado foi de 13%, «o número mais alto de longe da Europa».
No entanto, o número destes casos tem diminuído 40% nos últimos quatro anos, continuando as regiões do país com situações mais preocupantes a ser Lisboa, Porto e Setúbal.
No que respeita à tuberculose multi-resistente, a sua incidência nacional situa-se em 1,9%, significando 0,2% de todos os casos de tuberculose.
«Mas poderá tornar-se numa ameaça grave para a saúde pública», avisou o especialista Miguel Villar, sublinhando existir uma «estreita margem de manobra para lidar com a TB-XDR» devido às graves restrições nas opções terapêuticas«.
«Se a ameaça não for contida atempadamente haverá consequências fatais a nível mundial», observou.
No plano de combate está já planeada a criação de um centro de referência para TB-XDR, com linhas orientadoras para o tratamento e assessoria da Direcção-Geral de Saúde.
O aumento desta nova face da tuberculose deve-se ao facto de o seu tratamento se prolongar por três a quatro anos, contra os seis meses da tuberculose vulgar, o que conduz a uma acumulação de casos e consequentemente a um aumento da prevalência e risco de infecção.
Ao Programa Nacional de Luta Contra a Tuberculose, datado de 1995, as autoridades têm vindo a juntar diversas actualizações de acordo com a realidade actual.
Assim, os objectivos para 2006/07 são diminuir para metade a média de 75 dias necessários para diagnosticar a doença, continuar a estreitar as metas de colaboração de combate entre especialistas de tuberculose e SIDA e a criação do centro de referência para a TB-XDR.
A longo prazo, até 2015, as autoridades portuguesas pretendem seguir as linhas orientadoras da Organização Mundial de Saúde, onde se incluem sete áreas e 16 medidas.
Diário Digital / Lusa
23-03-2007

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