A notícia chegou à nossa redacção tão fria como a própria morte: o César e o André, nossos queridos companheiros de redacção, morreram num brutal acidente de aviação. A 11.000 quilómetros de Portugal, quando desfrutavam, no Chile, de 26 dias de umas férias de sonho.Eram 14 e 36 (17 e 36 em Lisboa) de sexta-feira, dia 24, quando o pequeno bimotor “Beechcraft Baron 55”, pilotado por Willy Stone, um experimentado profissional de 47 anos – com 3.500 horas de voo e 20 anos de experiência, dez dos quais naquela zona – descolou do aeródromo Teniente Vidal, da cidade chilena de Coyhaique, cerca de 1.887 quilómetros a sul da capital, Santiago do Chile.Seguiam também a bordo os jornalistas portugueses César Oliveira e André Romeiras, do Record, Maria José Margarido, do “Diário de Notícias”, e Cláudia Magalhães, directora da agência Parceiros da Comunicação, bem como a guia chilena Verónica Poblete.Todos mortosO CC-CAC de uma transportadora turística local seguia na direcção da Lagoa de San Rafael, devendo aterrar cerca de 40 minutos depois, numa pista próxima, mas nunca chegou ao seu destino. Quatro minutos após a descolagem, o piloto fez o último contacto via rádio.Perto das 15 horas, activou-se o ELT – sinal de emergência do avião sinistrado, que emite durante três dias após o momento do embate e possibilita a definição das coordenadas onde se encontra –, tendo o Centro de Controlo Aéreo da região de Puerto Montt activado de imediato o sistema de busca aérea. Um helicóptero particular percorreu então a rota habitual para San Rafael, avistando o bimotor destruído na região de Aysén, em Lago Atravesado, 18 quilómetros a sudoeste de Coyhaique, num desfiladeiro de difícil acesso.Em voos sucessivos, o helicóptero transportou até perto do local do acidente soldados do Grupo de Operações Especiais de Carabineiros que, uma vez em terra, percorreram a pé o caminho até junto da aeronave. E foi o capitão Ilabaca quem confirmou, presencialmente, que todos os ocupantes se encontravam mortos.Só na manhã de sábado foi possível a um helicóptero do Exército do Chile levar até à zona o Serviço Aéreo de Resgate, tendo uma equipa de comandos, com a ajuda de motosserras, procedido ao corte de árvores e improvisado um espaço para aterragem do aparelho junto do local do acidente, seguindo-se então o resgate dos corpos, que foram transportados para o aeródromo Teniente Vidal. O comandante do grupo afirmou que o bimotor teria chocado, 5 minutos depois da descolagem, contra a parede da montanha, “num golpe seco”.Caixa de PandoraSabe-se que chovia à hora em que se deu a queda do avião. O piloto Roberto Léon, que participou nas buscas, disse que o tempo estava “fechado”, mas não o suficiente para atrapalhar o piloto. A região de Aysén, uma complexa mistura de montanhas, lagos e gelos milenares, caracteriza-se por mudanças bruscas de temperatura que dificultam a navegação aérea e já causaram vários acidentes com aviões de pequeno porte nos últimos anos. Em três desses sinistros, as vítimas não puderam ser resgatadas.Em entrevista recente, Willy Stone afirmara: “Somos pilotos de cordilheira, pelo que devemos conhecer bem o terreno e a maneira de escaparmos às turbulências, e voarmos com condições de visibilidade restringida. Toda a zona é uma Caixa de Pandora.”MensagensOs nossos camaradas chegaram no dia 22, às 21 e 30 , ao Hostal Licarayen, em Coyhaique, num jipe de matrícula argentina. “Era um grupo muito unido, alegre e de muito bom trato. Pareceu-me que vieram da Argentina por Puyehue, para continuar desde Chaitén pela estrada austral até chegar a Coyhaique", explicou María Delia Torres, proprietária do hotel.Acrescentou que eles tinham muita vontade de conhecer a Lagoa de San Rafael, que é uma das atracções internacionais da região que integra os Campos de Gelo do Norte."Antes de saírem para o aeroporto, durante o pequeno-almoço, falei com eles. Conversámos muito, pois gosto de conhecer os turistas que por aqui passam, para saber de onde vêm e a que se dedicam. Agora estou muito triste”, concluiu María Delia Torres.Os corpos dos turistas portugueses vão agora ser autopsiados, provavelmente já amanhã, após o que a Secretaria de Estado das Comunidades, que desde cedo ficou em contacto com as autoridades chilenas, tratará dos trâmites legais indispensáveis ao repatriamento, que poderá acontecer na terça-feira.Durante todo o dia, à direcção e à redacção de Record chegaram largas dezenas de votos de condolências das mais diversas proveniências e que muito nos tocaram. Na impossibilidade de um agradecimento individual, aqui fica o nosso comovido obrigado.Nesta hora de dor, a administração da Cofina Media – proprietária de Record e que desde logo colocou ao nosso dispor os meios eventualmente necessários para trazer os corpos para Portugal – e todos os companheiros de trabalho do César Oliveira e do André Romeiras endereçam às famílias enlutadas os sentimentos da mais profunda desolação e do mais sentido pesar.
Data: Sabado, 25 Novembro de 2006
terça-feira, 18 de setembro de 2007
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