terça-feira, 18 de setembro de 2007

A FELICIDADE


1. Foi uma surpresa e talvez tenha pecado por tardia, mas a nomeação do «cidadão anónimo» para personagem do ano pela revista Time parece ser a escolha lógica e consensual, mesmo que para se perceber a dimensão e os motivos da distinção se tenha de ler com atenção o artigo. A consolidação do processo da denominada «democracia digital» global não é uma imagem directa para o comum dos mortais, mesmo para os que possuem o hábito de ler a Time, com maior ou menor frequência, em todo o mundo.
O dito «you» - rapidamente adaptado para «você» - que enche a capa da prestigiada publicação não é tão mediático como Bono ou o casal Gates. Pelo contrário, constitui quase um ser «anónimo», com o seu quê de incógnito, mas vital para a construção do mediatismo.
A construção de espaços públicos e da opinião pública, temas sociológicos eternos, resultam do triunfo dos blogs, de sites como o YouTube e MySpace ou de portais e motores de busca como o Google. À escala portuguesa, encontramos semelhanças no êxito do Sapo e de projectos editoriais como o Público.pt e inclusive este órgão, o Diário Digital. Talvez esta distinção internacional ajude algumas mentes curtas nacionais a abrir de vez os olhos para a realidade do espaço online em Portugal. Seria uma excelente notícia para 2007.
2. Apesar da importância desta distinção, destaco uma outra, realizada pela que será possivelmente a melhor publicação mundial. Digo «possivelmente» para não alimentar demasiadas polémicas, mas o trabalho e a qualidade da The Economist (e do seu centro de estudos e pesquisa) constituem um exemplo que devia ser seguido por todos os profissionais dos media.
O que a The Economist traz na mais recente edição é a temática da «Felicidade». Como medi-la? Que impactos tem a nível psicológico, social e económico? E aqui, nestas vertentes, no debates das mesmas, virá possivelmente o futuro.
Com o mundo a crescer economicamente a um nível superior a 3% desde 2000 - a um ritmo que a manter-se trará a década de maior impacto nos últimos séculos -, a The Economist questiona se realmente o mercado capitalista, com tudo o que de bom traz e com os níveis de desenvolvimento que tem sustentado a nível mundial, estará a fazer bem o seu trabalho. Em termos muitos simples: Isso basta ao Homem? Somos mais felizes? Ou, em termos nacionais: A vida começa no Produto Interno Bruto (PIB) e acaba no défice?
Ao ir-se para lá dos indicadores de confiança dos consumidores, fica a questão: é mais importante o PIB ou a noção de «boa qualidade de vida» ou de «bem estar global»? Há quem defenda a introdução de indicadores económicos capazes de medir estas sensações, criadoras de algumas leituras paradoxais - quanto melhor é o nível de vida, menos prazer parece retirar-se das coisas.
Como se, ao ter-se oportunidade de ter ou gozar de alguns prazeres antes inacessíveis, estivéssemos a desvalorizar as coisas. Por vezes, os desejos e os sonhos, quando concretizados e vividos, tornam-se efémeros, menores, desinteressantes e incapazes de criar magia ou alegria.
O dossier do The Economist sobre a temática estende-se por várias páginas. E é um convite à reflexão. Mas, sendo certo que o défice e o PIB não são tudo na vida, tê-los controlados e acrescidos do aumento da produtividade será sempre uma ajuda extraordinária para a melhoria da felicidade dos portugueses.
Aos nossos leitores e colaboradores, os desejos de festas felizes, com os votos de boas despedidas de 2006.
filipers@diariodigital.pt

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