terça-feira, 18 de setembro de 2007

Com bases mantidas, italianos almejam temporada ‘tranqüila'


São Paulo (SP) - O mais polêmico dos principais campeonatos europeus começa neste sábado com uma intenção: ser responsável apenas por manchetes positivas nos jornais do mundo inteiro. Nas temporadas mais recentes do Campeonato Italiano, o desempenho das equipes dentro de campo ficou em segundo plano em decorrência dos escândalos que aconteceram no país da Velha Bota desde 2004.
A competição que se inicia também marca o retorno de sua maior campeã na história, a Juventus, que havia disputado a divisão de acesso no ano passado. No entanto, o clube dono de 25 títulos na história entra na disputa um patamar abaixo dos favoritos Internazionale, Milan e Roma, que mantiveram a base da época passada e ainda conseguiram alguns reforços importantes.
A última temporada do futebol italiano ficou marcada pelas brigas entre torcidas e a falta de segurança nos estádios. Tudo teve início em 2 de fevereiro de 2007, com o dérbi da Sicília entre Catania e Palermo, no Estádio Angelo Massimino. No trágico dia, o policial Filippo Raciti, de 38 anos, foi acertado por uma bomba disparada das arquibancadas no gramado por torcedores do Catania e morreu. Cerca de 14 pessoas envolvidas no tumulto foram presas, inclusive nove menores de idade.
O fatídico acidente forçou uma paralisação do torneio. Além disso, a Federação Italiana de Futebol (FIGC) decretou que apenas os estádios que estivessem dentro das normas de segurança poderiam receber público. As partidas que fossem realizadas em arenas inadequadas de acordo com a legislação não receberiam torcidas. Assim, até o final de maio, muitas partidas aconteceram com portões traçados.
As épocas 2004/05 e 2005/06 também não escaparam de manchetes negativas. Em junho do ano passado, a polícia italiana descobriu um esquema de combinação de resultados envolvendo árbitros e os clubes Juventus, Milan, Lazio, Fiorentina e Reggina. A principal prejudicada com o Calciocaos foi a Velha Senhora, que teve os títulos das duas temporadas cassados pela Justiça, foi rebaixada para a Série B e iniciou a campanha na Segundona com 17 pontos a menos. As demais equipes tiveram pontos deduzidos na última edição do Italiano e tiveram que pagar multas significativas, mas permaneceram na primeira divisão.
Mesmo depois de sofrer um desmanche por conta da queda para a segunda divisão, a Juventus conseguiu dentro de campo ratificar o retorno à elite do Italiano, vencendo a Série B com apenas quatro derrotas sofridas ao longo de 42 jogos. O time de Turim trouxe consigo o antes perigoso e agora pouco expressivo Napoli e também o Genoa, respectivos segundo e terceiro colocados.
Mas se antes a Juve contava com craques como Fabio Cannavaro, Lilian Thuram, Patrick Viera e Zlatan Ibrahimovic e era sempre favorita ao scudetto, agora a situação do clube é diferente. Embora ainda conte com os nomes do goleiro Gianluiggi Buffon, dos meias Pavel Nedved e Mauro Camoranesi e dos atacantes Alessandro Del Piero e David Trezeguet, a diretoria já se conscientizou de que dificilmente o grupo irá em busca do título. Por ora, a meta é a reestruturação ao longo desta temporada.
O elenco da Velha Senhora foi reformulado. Muitos atletas deixaram o clube, como os zagueiros croatas Robert Kovac e Igor Tudor, mas muitos chegaram. As principais contratações para a temporada foram o volante português Tiago, negociado pelo Lyon por 15 milhões de euros (R$ 40,6 milhões em cifras nacionais). Outro lusitano que chegou ao Delle Alpi foi o zagueiro Jorge Andrade, ex-Deportivo La Coruña, por 10 milhões de euros. Já o atacante Vicenzo Iaquinta trocou a Udinese pela Juve ao receber uma proposta de 11,3 de euros. O meia bósnio Hasan Salihamidzic , por sua vez, não custou nada aos cofres do time, uma vez que estava sem contrato depois que deixou o Bayern de Munique.
Apesar da chegada de muitos jogadores, a ‘bicampeã’ em 2005 e 2006 (títulos que foram cassados pela Justiça, sendo que o segundo foi dado à Intenazionale) não entra com o favoritismo que tinha nas outras edições. O clube deverá ocupar um papel secundário nesta edição do Calcio, tentando entrar na briga por uma vaga na Champions League da próxima temporada. Neste ano, a Juventus entra como a mais frágil das quatro grandes equipes italianas, atrás de Internazionale, Milan e Roma.
Para conseguir defender o título conquistado com soberania na temporada passada, a Inter aposta na base campeã, com apenas um revés sofrido no nacional. Os neroazurri mantiveram o grupo vencedor em 2006/07 e ainda tiveram como principal reforço o versátil zagueiro e lateral-esquerdo romeno Cristian Chivu, contratado junto à Roma por 23 milhões de euros (ou R$ 62,1 milhões – o maior valor pago por um clube italiano para esta edição do Calcio). No ataque, o time ainda manteve o argentino Hernán Crespo, que deverá formar dupla com Ibrahimovic. O brasileiro Adriano, que confessou ter exagerado no consumo de bebidas alcoólicas na última temporada, terá que mostrar ao técnico Roberto Mancini que superou o ano conturbado e está preparado para retomar a titularidade.
As Serpentes vêem de perto a ameaça do arqui-rival Milan, que terminou apenas na quarta colocação em 2006/07, mas tem a seu favor o título de campeão europeu da última temporada. Respaldado pela conquista, o elenco rossonero foi mantido, com exceção do atacante brasileiro Ricardo Oliveira, emprestado ao espanhol Zaragoza. Para repor a perda, o clube contratou a principal revelação do futebol brasileiro em 2006: o jovem Alexandre Pato, que deixou o Internacional por aproximadamente 15 milhões de euros. Outro brasileiro contratado foi o volante Émerson, em baixa no Real Madrid e negociado por 5 milhões de euros.
Com as duas caras novas no San Siro, o Milan continua como o principal reduto brasileiro no Campeonato Italiano, tendo oito jogadores verde-amarelo no elenco. Além de Pato e Émerson, também vestem a camisa do clube o goleiro Dida, os laterais Cafu e Serginho, o zagueiro Digão, o meia Kaká e o atacante Ronaldo.
Vice-campeã na última temporada, a Roma entra embalada no Calcio por ter a seu favor dois triunfos recentes contra a Inter: a Copa e a Supercopa da Itália, ambas conquistadas em cima do clube milanês. Mesmo assim, dos três virtuais favoritos, o time comandado por Luciano Spaletti foi o que mais se reforçou para a temporada. Embora tenha perdido Chivu, os Lobos deram o troco na Inter e contrataram o volante chileno David Palácio. Outra contratação do clube da capital foi o zagueiro brasileiro Juan, que custou 6,5 milhões de euros para deixar o Bayer Leverkusen, que agora terá a companhia do lateral-direito Cicinho, ex-Real, que custou 8,5 milhões de euros. Já o meia francês Ludovic Giuly chegou ao Olímpico por 4,4 milhões de euros.
A Roma, por sua vez, não fica muito atrás do Milan. Se os rossoneri têm oito brasileiros no elenco, os representantes da capital passaram a ter seis após a chegada dos reforços. Agora, Cicinho e Juan terão as companhias dos goleiros Doni e Júlio Sérgio e dos meias Mancini e Rodrigo Taddei.
Outra equipe grande italiana que deverá brigar pelo menos por uma vaga na Champions League é a Lazio. Embora não tenha nenhum jogador de grande destaque internacional no seu elenco, o clube romano manteve a base que terminou na terceira colocação na última temporada, segurando no clube o zagueiro Luciano Zauri e o atacante macedônio Goran Pandev.
A Fiorentina, por sua vez, terá em seu encalço a Sampdoria na briga pela ‘sexta força’ da Velha Bota. Isso porque o clube de Florença perdeu seu principal jogador, o atacante Luca Toni, para o Bayern de Munique. Em contrapartida, comemorou a chegada do centroavante veterano Cristian Vieri, além do zagueiro promissor belga Anthony Vanden Borre.
A Zamp, por sua vez, entra reforçada com a dupla de ataque que ajudou a Roma a faturar o scudetto em 2000/01. Por empréstimo, chegaram ao Estádio Luigi Ferrari o veterano Vicenzo Montella e o polêmico Antonio Cassano, que não convenceu a diretoria do Real Madrid e perdeu espaço no clube merengue. Como reserva da dupla ainda aparece o grandalhão Andrea Caracciolo, ex-Palermo, agora co-propriedade dos dois clubes.
Mesmo perdendo Caracciolo, as Águias da Sicília, que pleitearam a participação na principal competição interclubes da Europa, também devem ser levadas em consideração. O Palermo segurou seus dois principais jogadores – os tetracampeões mundiais Andrea Barzagli e Cristiano Zaccardo – na equipe e ainda se reforçou com o atacante Fabrizio Micolli, cujos direitos federativos pertenciam à Juventus, mas que estava emprestado ao Benfica.
Caso não haja nenhum imprevisto extra-campo, o campeão italiano desta temporada deverá ser conhecido no dia 18 de maio de 2008, quando acontece a 38ª e última rodada. No total são 20 clubes que brigarão pelo título do Italiano, que ainda distribuiu três vagas para a Copa dos Campeões da Europa (contando com o campeão) e mais quatro para a Copa da Uefa.

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