terça-feira, 18 de setembro de 2007

António Barreto faz o retrato de Sócrates.


Magistralmente explicado por António Barreto, o perfil
ditatorial do actual Primeiro-Ministro.

Passe por favor este e-mail, contribuindo assim para a
consciencialização das pessoas do perigo que se avizinha para a democracia
em
Portugal.


Sócrates o ditador

por António Barreto


A saída de António Costa para a Câmara de Lisboa pode ser
interpretada de muitas maneiras. Mas, se as intenções podem ser
interessantes,
os resultados é que contam.

Entre estes, está o facto de o candidato à Autarquia se ter
afastado do Governo e do Partido, o que deixa Sócrates praticamente sozinho
à
frente de um e de outro. Único senhor a bordo tem um mestre e uma
inspiração.
Com Guterres, o primeiro-ministro aprendeu a ambição pessoal, mas, contra
ele,
percebeu que a indecisão pode ser fatal.

A ponto de, com zelo, se exceder: prefere decidir mal, mas
rapidamente, do que adiar para estudar. Em Cavaco, colheu o desdém pelo seu
partido. Com os dois e com a sua própria intuição autoritária, compreendeu
que
se pode governar sem políticos.

Onde estão os políticos socialistas? Aqueles que conhecemos,
cujas ideias pesaram alguma coisa e que são responsáveis pelo seu passado?
Uns
saneados, outros afastados. Uns reformaram-se da política, outros foram
encostados. Uns foram promovidos ao céu, outros mudaram de profissão. Uns
foram
viajar, outros ganhar dinheiro. Uns desapareceram sem deixar vestígios,
outros
estão empregados nas empresas que dependem do Governo. Manuel Alegre
resiste,
mas já não conta.

Medeiros Ferreira ensina e escreve. Jaime Gama preside sem
poderes. João Cravinho emigrou. Jorge Coelho está a milhas de distância e
vai
dizendo, sem convicção, que o socialismo ainda existe. António Vitorino,
eterno
desejado, exerce a sua profissão.

Almeida Santos justifica tudo. Freitas do Amaral reformou-se.
Alberto Martins apagou-se. Mário Soares ocupa-se da globalização. Carlos
César
limitou-se definitivamente aos Açores. João Soares espera. Helena Roseta foi
à
sua vida independente. Os grandes autarcas do partido estão reduzidos à
insignificância. O Grupo Parlamentar parece um jardim-escola sedado. Os
sindicalistas quase não existem. O actual pensamento dos socialistas
resume-se
a uma lengalenga pragmática, justificativa e repetitiva sobre a
inevitabilidade
do governo e da luta contra o défice. O ideário contemporâneo dos
socialistas
portugueses é mais silencioso do que a meditação budista. Ainda por cima,
Sócrates percebeu depressa que nunca o sentimento público esteve, como hoje,
tão adverso e tão farto da política e dos políticos. Sem hesitar, apanhou a
onda.

Desengane-se quem pensa que as gafes dos ministros incomodam
Sócrates. Não mais do que picadas de mosquito. As gafes entretêm a opinião,
mobilizam a imprensa, distraem a oposição e ocupam o Parlamento. Mas nada de
essencial está em causa. Os disparates de Manuel Pinho fazem rir toda a
gente.
As tontarias e a prestidigitação estatística de Mário Lino são pura
diversão. E
não se pense que a irrelevância da maior parte dos ministros, que nada têm a
dizer para além dos seus assuntos técnicos, perturba o primeiro-ministro. É
assim que ele os quer, como se fossem directores-gerais. Só o problema da
Universidade Independente e dos seus diplomas o incomodou realmente. Mas
tratava-se, politicamente, de questão menor. Percebeu que as suas
fragilidades
podiam ser expostas e que nem tudo estava sob controlo. Mas nada de
semelhante
se repetirá.

O estilo de Sócrates consolida-se. Autoritário. Crispado.
Despótico. Irritado. Enervado.

Detesta ser contrariado. Não admite perguntas que não estavam
previstas. Pretende saber, sobre as pessoas, o que há para saber. Deseja ter
tudo quanto vive sob controlo.

Tem os seus sermões preparados todos os dias. Só ele faz
política, ajudado por uma máquina poderosa de recolha de informações, de
manipulação da imprensa, de propaganda e de encenação. O verdadeiro Sócrates
está presente nos novos bilhetes de identidade, nas tentativas de Augusto
Santos Silva de tutelar a imprensa livre, na teimosia descabelada de Mário
Lino, na concentração das polícias sob seu mando e no processo que o
Ministério
da Educação abriu contra um funcionário que se exprimiu em privado. O estilo
de
Sócrates está vivo, por inteiro, no ambiente que se vive, feito já de medo e
apreensão. A austeridade administrativa e orçamental ameaça a tranquilidade
de
cidadãos que sentem que a sua liberdade de expressão pode ser onerosa. A
imprensa sabe o que tem de pagar para aceder à informação. As empresas
conhecem
as iras do Governo e fazem as contas ao que têm de fazer para ter acesso aos
fundos e às autorizações.

Sem partido que o incomode, sem ministros politicamente
competentes e sem oposição à altura, Sócrates trata de si. Rodeado de
adjuntos
dispostos a tudo e com a benevolência de alguns interesses económicos,
Sócrates
governa. Com uma maioria dócil, uma oposição desorientada e um rol de
secretários de Estado zelosos, ocupa eficientemente, como nunca nas últimas
décadas, a Administração Pública e os cargos dirigentes do Estado. Nomeia e
saneia a bel-prazer. Há quem diga que o vamos ter durante mais uns anos. É
possível. Mas não é boa notícia. É sinal da impotência da oposição. De
incompetência da sociedade. De fraqueza das organizações. E da falta de
carinho
dos portugueses pela liberdade.»

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