terça-feira, 18 de setembro de 2007

Antígua e Barbuda


Diversificar a carteira de destinos das exportações portuguesas é um velho sonho. A dependência em relação às encomendas vindas dos parceiros da União Europeia é elevada. E reduzi-la chegou a ser uma prioridade política. Identificaram-se novos mercados-alvo e organizaram-se viagens de diplomacia económica, com largas comitivas de governantes e empresários.
Feito o balanço, ter-se-ão consumido doses apreciáveis de croquetes e gin tónico, mas a situação pouco mudou. Em matéria de venda de bens e serviços ao exterior, Portugal continuou a colocar quase todos os ovos no cesto europeu.
A explicação é simples. Se, na sua essência, o capitalismo não for mais do que as pessoas e as empresas a tentarem desenrascar-se, como afirma o economista João César das Neves, nem uns, nem outros consideraram, na altura, que houvesse incentivos para alterar os hábitos. As indústrias tradicionais do país estavam protegidas, a globalização ainda não tinha começado a mostrar as suas garras e a ameaça chinesa estava longe de causar terror.
No boletim do Banco de Portugal em que foram divulgadas as previsões dos principais indicadores económicos para o ano corrente e o próximo, a análise ao comportamento das exportações revela sinais de uma nova realidade. Vestuário e calçado estão em perda. Produtos de maior intensidade tecnológica estão em alta. Quanto aos mercados de destino, também há novidades. Angola e Malásia estão a dar contributos mais relevantes para o aumento das vendas ao exterior.
Na lista, até há lugar para um toque de exotismo. Sucede através da presença de Antígua e Barbuda, o país caribenho que tem como traço distintivo as suas praias, dignas de figurar num postal evocativo de umas férias de sonho. Palmeiras e coqueiros, enquadrados num cenário de areias brancas e mar azul turquesa, não são, porém, a visão mais adequada à mensagem do banco central.
Portugal está melhor do que há um ano e pior do que aquilo que se espera para 2008, de acordo com as previsões da instituição liderada por Vítor Constâncio. O investimento regressa, lentamente, a um comportamento positivo e a taxa de crescimento prevista para este ano encontra-se praticamente em linha com as perspectivas do Governo. Mas o percurso para alcançar um ritmo superior aos dos parceiros europeus, que permita diminuir a distância que separa a economia portuguesa das médias da UE, está longe da meta. O perfil do investimento suscita dúvidas sobre a sua capacidade para reduzir o desemprego e as reestruturações de empresas estão a produzir os efeitos desejados na produtividade, mas sem criar mais postos de trabalho. O choque tecnológico parece estar em curso mas também tem um custo.
No terreno das exportações, nota-se que entre o grupo das quatro principais potências emergentes - Brasil, Rússia, Índia e China – apenas o "país-irmão" aparece colocado entre os "mercados com maior contributo positivo" para a evolução positiva registada. E, ainda assim, no último lugar. O que os números parecem querer dizer é que há oportunidades que não estão a ser aproveitadas. Ou empresas que não estão a saber desenrascar-se. Antígua e Barbuda podem ser um destino apetecível. Mas a grande fatia do bolo global ganha-se noutras paragens.

João Cândido da Silva

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