terça-feira, 18 de setembro de 2007

Ambulâncias: transporte em risco


Serviço realizado pelos bombeiros triplicou, nalguns casos, desde que maternidades e urgências fecharam portas. Estão em risco de ruptura, diz a Liga dos Bombeiros, depois de uma avaliação a cerca de 200 associações de voluntários que fazem grande parte do trabalho de transporte de doentes. E ainda fazem partos durante a viagem
Cerca de duas centenas de ambulâncias estão em risco de ruptura. O alerta é dado pela Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), na posse de dados provisórios de um inquérito feito a associações por todo o país que fazem o transporte de doentes. A situação piorou após o encerramento de maternidades e serviços de urgência, o que obrigou ao aumento das deslocações e de tempo médio de viagem.
20 mil quilómetros por dia; mais de sete milhões por ano
Enquanto o serviço muda, o preço por quilómetro pago aos bombeiros continua na mesma: «sem preocupação pelo aumento do gasóleo ou o desgaste a que estão sujeitas as viaturas», conta Rui Santos, secretário-geral da Liga ao PortugalDiário. «As viaturas chegam a durar 10 ou 12 anos e fazem 20 mil quilómetros por dia».
São dados do serviço levado a cabo por mais de quatro mil ambulâncias, que precisam de renovação. «Com muito respeito pelo INEM, mas nenhuma estrutura tem a capacidade dos bombeiros para fazer este serviço», diz Rui Santos. E se todos os dias «fazem o que mais ninguém consegue fazer», agora, vêem-se perto da ruptura, mas prometem «não volta as costas ao problema».
«Avisámos...» «Avisámos que esta era um medida perigosa [a de encerrar maternidades e urgências, sem pensar no transporte dos doentes]. Mas ninguém nos ouviu e a resposta está à vista: não é possível continuar a suportar as despesas, com um aumento de 60 quilómetros ou mais em cada viagem, e esperar ter unidades para esse transporte», sublinha. «Como somos a maior organização de transporte de doentes, esperamos que o Ministério da Saúde nos veja como parceiros - ao lado e não parceiros que estão atrás».
A imagem serve para explicar que é preciso manutenção, equipamento e recursos humanos para realizar um transporte em segurança, sobretudo quando se trata de doentes que necessitam de alguns cuidados: o encerramento de maternidades levou mesmo a que os bombeiros já tenham de ajudar na realização de partos durante a viagem na ambulância.
«O anterior ministro da Administração Interna falava em renovar a frota dos veículos da PSP em quatro, cinco anos. As ambulâncias andam 10 e 12 anos, porque não temos capacidade financeira para as trocar». É que, segundo Duarte Caldeira, presidente da LBP, o quadro de apoio financeiro do Ministério da Saúde mantém-se inalterado há 25 anos». Um preço de quilómetro satisfatório? Entre 60 a 70 cêntimos, explica Rui Santos, que sublinha o trabalho dos voluntários durante a noite, mas a necessidade de ter profissionais durante o dia para realizar o trabalho. «Se alguém tiver um AVC, o que é dizemos? Espere aí?! Ninguém perceberia, mas a verdade é que as pessoas devem saber que o problema está aí». Por isso, segundo Duarte Caldeira, é necessário que as estruturas de bombeiros se organizem, «profissionalizando a gestão e centralizando recursos».
Muitos são as direcções de bombeiros que pedem empréstimos para comprar mais ambulâncias e renovar as frotas, conta Rui Santos, secretário-geral da Liga. Uma situação que parte da «boa vontade e empenho» dos bombeiros, mas que deveria partir do Estado. «É responsabilidade do Estado, e não nossa, assegurar o transporte de doentes».
Situação caricata
As piores situações estão em Barcelos, Felgueiras e no interior do nordeste transmontano, mas em Vila Franca de Xira, por exemplo, a situação é caricata. Quem transportar um doente para o hospital, para um tratamento ou consulta, deve esperar duas ou três horas para fazer a viagem de regresso. Isto porque, se o doente for deixado lá, e durante a duração do tratamento a ambulância fizer outras viagens, o hospital não paga a viagem de volta ao ponto de origem. É uma «auto-regulação» do hospital, conta Rui Santos, que obrigaria à permanência no local de um condutor e um elemento e uma ambulância parados.

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