segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Temperatura de Lisboa será como a de Rabat


As ondas de calor serão cada vez mais frequentes e intensas e vão tornar-se ao longo deste século a maior ameaça à saúde pública nos países do Sul da Europa. Portugal não foge à regra. Com o aumento médio da temperatura de três a cinco graus Celsius previsto pelos cientistas para as próximas décadas, Lisboa terá, em 2080, uma temperatura média anual idêntica à que existe hoje em Rabat, Marrocos, no Norte de África.As previsões são dos cientistas do IPCC, o Painel Intergovernamental das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, e são coincidentes com as dos portugueses do projecto SIAM, que nos últimos anos avaliaram o impacto das alterações climáticas em Portugal. Mas esta nova visão geográfica desse aumento da temperatura média na Europa é do investigador francês Stéphane Hallegatte, do Centre Internationale sur l'Environnement et le Developement, em Paris. Para situar Lisboa em Rabat, Hallegate considerou "apenas o aumento médio previsto para a temperatura", como explicou ao DN. "Lisboa terá, felizmente, precipitações mais elevadas do que as normalmente registadas em Rabat", sublinhou ainda.O mapa climático da Europa dentro de 70 anos, visualizado pelo investigador francês, tem um impacto psicológico inquestionável. Não surpreende por isso que o jornal britânico The Guardian o tenha publicado ontem, quando faltam poucas semanas para a cimeira do G8. Nesse encontro dos oito mais ricos, que se realiza em Junho na Alemanha, o primeiro-ministro Tony Blair pretende justamente obter compromissos dos seus parceiros para a diminuição das emissões de dióxido de Carbono (CO2), que estão a provocar o aquecimento global.Quanto a Hallegatte, a ideia para a transformação das previsões dos climatologistas num mapa como este acabou por surgir de forma natural. "Estava a tentar explicar a especialistas em urbanismo o que significa o aumento médio da temperatura previsto para daqui a algumas décadas, mas para as pessoas que não lidam com este tipo de informação, como é caso da maioria dos europeus, é difícil ter uma ideia clara. Lembrei-me então de transformar essa informação num mapa, que torna tudo evidente", explica Hallegatte.E se os países do Norte da Europa até acabam por ser beneficiados pela mudança no clima, os países do Sul, como Portugal, vão ter que enfrentar problemas vários, que vão do aumento da médio da temperatura, à escassez hídrica e problemas de saúde.

FILOMENA NAVES

LEONARDO NEGRÃO (foto)

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