segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Regras da bioenergia

A abertura de mercados para a bioenergia poderá inverter a lógica dos programas para a obtenção do etanol da cana-de-açúcar e do milho ou dos biocombustíveis de matérias-primas assim como para as oleaginosas. Tudo isso pela ganância dos países centrais em controlar as novas matrizes energéticas, aprofundando a pobreza das nações dependentes, onde a energia limpa surge como indutora do seu crescimento.Essa preocupação começa a ser manifestada pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO). O diretor-geral, Jacques Diouf, desencadeou mobilização de âmbito internacional para fixar as regras disciplinadoras do mercado bioenergético, ainda conduzido por normas nacionais e não por acordo internacional como requer a dimensão dessa atividade.Os Estados Unidos e a União Européia, embora arautos do livre comércio, impõem tributação de 55% à importação de álcool dos países periféricos. A FAO vem advogando a redução desses obstáculos, a fixação de um sistema de padrões ambientais para a produção de bioenergia e o lançamento de programas de microcréditos destinados a agricultores dos países em desenvolvimento, para a ampliação do leque de pesquisas sobre biocombustíveis locais.Os países periféricos são dotados de climas e ecossistemas adaptáveis à produção de biomassa, de terras agricultáveis disponíveis e de mão-de-obra acessível, além do domínio da tecnologia do plantio. Essas peculiaridades não são encontradas nos países centrais. Ou então, como ocorre com os Estados Unidos, a produção do etanol obtido do milho chega ao consumidor por preço 50% superior ao álcool carburante.De repente, vingou a tese do expansionismo da energia limpa, sem vínculos com o cartel da Opep, nem dependência das áreas de produção do petróleo de origem fossilífera, envolvidas em conflitos multifacetados. Entre 2000 e 2005, dobrou a produção de biocombustível como o etanol obtido do milho na América do Norte, e de biodiesel de sementes oleaginosas na Europa. Essas fontes alternativas representam apenas 1% do combustível usado no transporte rodoviário mundial.A Europa, Estados Unidos e Brasil respondem por 95% da produção mundial de biocombustíveis. Os 5% restantes saem do Canadá e da Índia. Por sua vez, o governo chinês prepara o zoneamento agrícola de seu território para produzir etanol, diversificando as fontes energéticas. Os chineses escolheram importar do Brasil a tecnologia de produção.As elevações de preço do petróleo e a contenção do aquecimento global estão levando também os japoneses a descobrirem os recursos brasileiros no campo da bioenergia, especialmente, o etanol. O ministro de Negócios Estrangeiros, Taro Aso, em visita ao País, redimensionou as relações bilaterais com essa prioridade.O esforço da FAO é para normatizar esses mercados inovadores, abrindo espaços para a produção agrícola familiar, reduzindo, com isso, os índices de pobreza nas áreas rurais dos países periféricos.

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