terça-feira, 18 de setembro de 2007

Cirurgia milenar é a nova arma contra a Aids

SYDNEY (Reuters) - O surgimento de novos medicamentos, a engenharia genética e a antiga prática cirúrgica da circuncisão são as mais recentes armas na luta contra a Aids, disseram especialistas na conferência da International Aids Society na terça-feira.
Uma nova leva de drogas para conter o avanço da Aids e células geneticamente modificadas que impedem a progressão da infecção estão para ser lançadas ou testadas, disseram médicos presentes na maior conferência mundial sobre a doença.
"É um momento extremamente excitante em termos do desenvolvimento de drogas. Temos drogas melhores nas classes existentes, bem como classes de drogas totalmente novas", disse o professor David Cooper, presidente da conferência de 2007, em Sydney.
Mas a maior novidade para os países mais pobres, os mais afetados pela doença, e incapazes de adquirir de imediato as novas drogas, é um procedimento feito pelo menos desde 2.300 a.C. no Egito -- a circuncisão.
Estudos africanos demonstram que a circuncisão masculina pode reduzir a transmissão do HIV de mulheres para homens em cerca de 60 por cento, segundo Robert Bailey, da Escola de Saúde Pública da Universidade de Illinois, em Chicago.
A circuncisão universal poderia evitar 2 milhões de novas infecções e 300 mil mortes ao longo de dez anos na África Sub-Saariana, segundo ele. A África é o continente mais afetado pela epidemia.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) atualmente recomenda a circuncisão como medida preventiva, mas Bailey disse que incentivar a prática será difícil.
"A circuncisão não é simplesmente um procedimento cirúrgico. Está ligado a uma complexa teia de práticas e crenças culturais e religiosas", afirmou.
Medicamentos novos ou aperfeiçoados podem se tornar mais eficazes e também ajudar pacientes que já se tornaram imunes a drogas anteriores, segundo médicos participantes da conferência.
Pesquisas recentes mostram que novas classes de anti-retrovirais, que incluem vários inibidores, geram benefícios superiores a pacientes com um HIV altamente resistente, segundo Joseph Eron, da Universidade da Carolina do Norte.
"Acho que, embora vá levar algum tempo, alguns desses novos agentes também serão muito úteis no mundo em desenvolvimento caso estejamos vendo o surgimento de um vírus resistente", disse Eron.
A pesquisa de ponta contra a Aids envolve a engenharia genética, com pesquisas em humanos prestes a começar sobre a possibilidade de modificar geneticamente as células-tronco sanguíneas e as células-T de um paciente com HIV para então reintroduzi-las no organismo, de modo a combater melhor a infecção.
"Trata-se de uma modificação permanente das células. Desde que as células persistam no paciente, elas serão resistentes a uma maior infecção", disse John Rossi, chefe do departamento de Ciências Biológicas no Instituto de Pesquisas Beckman, dos EUA.
"Percebemos que não é um tratamento que seja aplicado universalmente", disse Rossi, acrescentando que o tratamento permitiria que os pacientes reduzam a dosagem de seus medicamentos.
Rossi e Eron defenderam que os laboratórios vendam medicamentos mais baratos aos países mais pobres.
Na segunda-feira, a ONG Médicos Sem Fronteiras disse que, embora tenha havido grande redução no preço dos remédios contra Aids, as novas gerações de drogas, recomendas pela OMS por serem menos tóxicas, tornaram-se mais caras. A entidade disse que em alguns casos o tratamento por paciente subiu de 99 para até 487 dólares.
Por Michael Perry

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