domingo, 5 de outubro de 2008

OS DONOS DA PÁTRIA

Por mais desculpas que sejam apresentadas é evidente que em Lisboa existia um mercado privativo de arrendamento, se as casas eram de menor valor serviam para alojar famílias com dificuldades, mas se aparecia um apartamento numa zona mais nobre da cidade entrava num mercado restrito de gente ligada aos responsáveis da autarquia.
Tratava-se de um mercado onde o arrendamento era feito de acordo com a lei, as rendas até eram actualizadas anualmente como mandam as regras. Mas eram alugadas a baixo preço a amigos. Veja-se, por exemplo, o caso da casa que a vereadora do PS teve alugada, foi alugada há cerca de vinte anos por uma renda que rondaria os oitenta contos.

Vistas as coisas desta forma até se pode pensar que na época tal renda era o normal no mercado, mas não é bem assim. Por essa altura eu aluguei um T1 numa zona muito menos valorizada que a Rua do Salitre e pagava oitenta contos de renda mensal, quatro vezes mais do que custava a casa à vereadora. Nesse tempo não só s casas eram tão caras como agora como eram mais escassas. Só que eu nem tinha direito a rendas de amigo nem as casas da autarquia disponíveis para aluguer eram do conhecimento público, portanto haviam os cidadãos de primeira que alugavam as casas da autarquia e eu era um cidadão de segunda.

Mas mais do que estes bombons camarários o que leva a colocar este post é o facto de me parecer absurdo que a autarquia seja um senhorio, ainda por cima um mau senhorio que não só aluga o seu património ao preço da uva mijona como ainda por cima nem sequer sabe muito bem o que possui na cidade. Ao mesmo tempo a autarquia está falida e eu, como todos os outros munícipes, sou obrigado a pagar taxas elevadíssimas para ajudar a recompor as finanças camarárias.

Faz sentido que a autarquia conte com um parque habitacional mínimo com que possa ocorrer a situações mais complexas, todavia, não se compreende que a CML tenha milhares e milhares de fogos mal geridos e, pró quilo que se tem visto, alugados a preços de amigo. Isto custa muito dinheiro aos cidadãos de Lisboa, não só pelo investimento congelado neste património, mas também pela imensidão de custos de manutenção e toda a burocracia necessária para gerir todo este património.

Talvez seja tempo de os autarcas deixarem de querer ser generosos para os amigos e substituir-se à segurança social. O mal não está só na forma como este património está a ser gerido, o mal está no facto de a CML manter todo este património. Eu trocá-lo-ia, por exemplo, por boas escolas. Poupava-se, apostava-se no futuro dos lisboetas e era tudo mais honesto e transparente.

O JÙ

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