(4° CENTENÁRIO de NASCIMENTO do GIGANTE da ORATÓRIA SACRA)
De:JVerdasca
Maior orador sacro e escritor lusobrasileiro do século XVII, o Padre António Vieira nasceu em Lisboa, a 06 de Fevereiro de 1608, numa casa da Rua dos cónegos, junto à milenar Sé de Lisboa. Foram seus pais António Vieira Ravasco (filho de um criado da casa dos Condes de Unhão, na vila alentejana de Moura, e de uma tambem serviçal da mesma casa, descendente de escravos africanos) e Maria de Azevedo, filha de Brás Fernandes, armeiro da Casa Real, pelo que o monarca beneficiou a moça com uma Carta de Lembrança, documento que garantia ao seu futuro marido um emprego, na justiça ou na fazenda, aquando do casamento. Deste modo, Vieira Ravasco foi nomeado escrivão das devassas dos pecados públicos da cidade de Lisboa logo após o seu casamento com Maria de Azevedo, e, quando António Vieira já tinha cerca de um ano de idade, transferido para a Relação da Baía, para onde embarcou em 1609.
Em 1614 Vieira Vavasco foi a Lisboa para levar a família para o Brasil, e, uma vez na Baía, o pequeno António passou a frequentar o Colégio Jesuita de São Salvador, onde foi aluno até aos 15 anos de idade, altura em que - como noviço - ingressou na Companhia de Jesus. Aluno brilhante, já no ano seguinte (1624), com apenas 16 anos, foi encarregado de redigir a Carta Anua, relatório em latim, que, anualmente, devia ser enviado pelos provinciais do Brasil a Roma, destinado a informar o Geral da companhia sobre as actividades e ocorrências na Província do Brasil. Continuando os seus estudos, António foi simultâneamente professor de retórica no Colégio de Olinda (Pernambuco), e Lente de Teologia na Baía, quando já tinha redigido um compêndio de filosofia para uso próprio. Em 1633, ainda estudante, o noviço apresentou-se pela primeira vez em público e como orador, pregando o sermão Maria Rosa Mística, destinado a dar ânimo aos moradores e defensores da cidade da Baía, num momento de perigo, quando os holandeses - então já senhores de Pernambuco - ameaçavam a capital do Brasil.
A partir desse momento, iniciou Vieira a sua brilhante carreira de pregador, pelo que - em 1641, quando o Vice-rei enviou o flho a Lisboa, para apresentar ao novo rei D. João IV a solidariedade e lealdade da colónia brasileira - foi naturalmente escolhido para a comitiva, por seu prestígio e saber. Tinha o padre António 33 anos de idade quando - na igreja de São Roque, primeiro, e na capela real, logo depois - deslumbrou os ouvintes que lotavam os templos, com o brilho de sua palavra e o rigor de sua retórica, fruto de um inexcedível talento e de uma incomum erudição, que ilustravam sermões oportunos e vigorosos, objectivos e ousados, sempre humanistas, que atraíam verdadeiras multidões aos lugares onde pregava. Repetia-se, em Lisboa, o êxito que o nosso Santo Antônio de Lisboa, 400 anos antes, tinha obtido em França e, sobretudo, nas cidades estados italianas como a Pádua (Padova) que o adotou e consagrou.
Autor de cerca de 200 sermões, mais de 500 cartas e muitos outros escritos de grande importância - como a sua defesa perante a Inquisição, que o condenou a 4 anos de reclusou, de que cumpriu metade - António Vieira, na Europa e a serviço de Portugal, foi conselheiro do rei, diplomata, negociador, enquanto, no Brasil, foi um dos maiores evangelizadores de sempre, tendo aprendido sete dialetos indígenas, em que redigia os catecismos com que ensinava os índios. Mas a magistral obra que nos legou foram os seus sermões, em que abordou os mais complexos problemas da Vida e do Homem, quando mergulhava fundo nas teses sobre a Existência e Essência do Ser Humano, numa linguagem rica e clara, original e pura, de impecável vernáculo e elegante estilo, que instrui e esclarece, forma e engrandece, eleva e enobrece, e cuja leitura interessada e atenta encanta e delicia o leigo, o estudante, o professor e o erudito. Daí que a todos recomendemos os Sermões de Vieira.
domingo, 12 de outubro de 2008
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