Apesar de a Organização dos Estados Americanos (OEA) haver promovido a distensão do conflito entre a Colômbia e o Equador, ainda se estende sobre a América do Sul amplo painel de reflexões. O ataque ordenado pelo governo de Bogotá a uma base das Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (Farc) em território do Equador expôs em quadro de maior evidencia um dos mais graves problemas do subcontinente. A invasão violou os direitos de soberania do Equador, embora o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, pudesse acrescentar à sua coleção de troféus a cabeça de Raúl Reys. Ele era o segundo na linha de comando das Farc.
A questão é que, apesar de enfraquecidas, conforme confessou o comandante Ivan Rios (escritos encontrados em seu computador), morto por um guarda costas, as Farc ocupam cerca de 35% do território colombiano. Malgrado com mais riscos do que antes, movimentam-se nas planícies localizadas na base da Cordilheira dos Andes e nas selvas do sudeste. Chegam a operar na fronteira com o Brasil. Não há registro, todavia, de que tenham, em alguma ocasião, se homiziado em território brasileiro da Amazônia.
Mas, afinal, o que são e o que pretendem as Farc? Criadas em 1964 como braço político do Partido Comunista, formavam contingente guerrilheiro portador de proposta ideológica bem definida: a tomada do poder para instalar na Colômbia o regime marxista, sob inspiração das revoluções chinesa e cubana. Com a dissolução da então URSS, União Soviética em 1991, e o fim da experiência comunista ali, a guerrilha viu-se exposta a incontrolável crise de identidade.
Sem perspectiva ideológica e ao desamparo de um mundo cada vez mais consagrado aos regimes abertos, afluentes, democráticos, s Farc se converteram em um bando anacrônico, muito longe dos ideais que as inspiravam há 44 anos. Privaram-se de qualquer razão doutrinária para justificar a existência. Hoje, consagram-se ao narcotráfico em conúbio com os gangues colombianos, aos seqüestros, ás chantagens e à disseminação do horror entre populações civis acuadas.
Ao lado do Chile e da Argentina o Brasil se apoiou na tradição conciliadora da diplomacia brasileira para desarmar a exacerbação de ânimos entre a Colômbia e o Equador, insuflada pelo espírito belicista do presidente venezuelano Hugo Chávez. Falta-lhe, contudo, reconhecer que as Farc são excrescência insurrecional perigosa para o equilíbrio político na América do Sul, sobretudo quanto à estabilidade da região Amazônica.
E tal iniciativa é justificável mesmo sem dar credibilidade ao temor de que Chávez, com apoio dos pupilos Rafael Correa do Equador e Evo Morales da Bolívia, pretenda utilizar as Farc em seu projeto para instalação do “socialismo do século XXI” no antigo traçado geográfico da Grã-Colômbia. De qualquer modo, as Farc são indesejáveis tanto do ponto de vista político quanto das atividades criminosas que desenvolvem.
‘In Jornal o Norte – Paraíba – Brasil’
quinta-feira, 20 de março de 2008
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