Boa parte da população dos EUA está convencida de que o País é hoje a pátria da imagem do político enquanto expressão individual pública de um ideal ético ao serviço do bem comum. Mas esta expressão não passa de hipocrisia teatralizada. Grouxo Marx, Noam Chomsky e Michael Moore estão entre os que atestam esta cultura do puritanismo dramatizado. O caso do governador de Nova York, o democrata Eliot Spitzer, é a encarnação dessa hipocrisia. Fez carreira através de campanhas sistemáticas contra a prostituição. Mas nos últimos anos gastou mais de R$ 130 mil com... prostitutas. Principalmente durante o tempo em que foi procurador geral do Estado. A opinião pública norte americana, que não suportou observar-se no espelho, exigiu a queda do governador. E conseguiu.
A imagem ideal do político nos EUA é uma construção que emerge do dinamismo de uma poderosa máquina de propaganda política montada através da imprensa. O século XXI é palco do auge da propaganda subliminar via jornais. No século XX, a TV absorve essa propriedade midiática para a construção da imagem política publica. O celebre debate entre Kennedy e Nixon em 1960 é emblemático neste sentido. O primeiro explorou a intimidade que a TV propicia. O segundo agarrou-se a técnicas radiofônicas descuidando-se do que o público via. Perdeu feio. O fato gerou a cultura cientifica da gestão da imagem. Hoje, é como se a imagem do líder, homem ou mulher, fosse uma projeção das energias sócio-políticas que permeiam a democracia praticada no país. Há, neste sentido, o Ato de Percepção, de Lyndon Johson, através do qual o político obriga-se não só a ser honesto, mas parecer honesto. Está na lei.
Os norte-americanos alimentam-se espiritualmente de um puritanismo duro. Puritanismo herdado do calvinismo que basicamente professava a existência de um povo escolhido para a salvação entre outros que seriam lançados ao inferno. A doutrina do destino manifesto, expressão que aparece em 1839 na imprensa dos EUA, funde religiosidade, patriotismo e individualismo para cristalizar um modelo de nação. A síntese dessa fusão está incrustada hoje na família perfeita encarnada principalmente, no cotidiano dos governantes.
Nos 10 anos de aniversário do caso Clinton-Lewinsky, talvez o mais barulhento escândalo sexual da política estaduniense, a renuncia de Spitzer é um recado: a opinião pública suporta mentiras presidenciais, como no caso Iraque; desleixo, omissão, dolo governamentais, como no caso do 11 de Setembro; mas não admite a quebra do protocolo familiar que expressa os ideais do destino manifesto dos EUA. A hipocrisia não corre o risco de perder as suas batalhas.
‘Walter Galvão’
quinta-feira, 20 de março de 2008
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