segunda-feira, 31 de março de 2008

Continuidade da vida

Por Thiago Romero
Agência FAPESP – Antes da esperada decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o futuro das pesquisas com células-tronco embrionárias humanas no Brasil, o britânico naturalizado norte-americano Oliver Smithies, ganhador do Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia em 2007, esteve em São Paulo e aproveitou o importante assunto.
Segundo o professor da Escola de Medicina da Universidade da Carolina do Norte, há um grande mal entendido em relação ao significado de uma célula-tronco embrionária estar viva ou morta.
“Assim como sabemos se uma planta ou um animal estão vivos, também podemos identificar vida em uma célula-tronco embrionária humana e, quando a descartamos, estamos condenando o potencial da célula e outras pessoas à morte. No momento em que a reutilizamos, podemos reconstituir tecidos e outras partes dos seres humanos, fazendo com que a célula cumpra seu papel de doadora de vida”, disse.
Smithies ministrou, em São Paulo, a palestra de abertura do 1º Simpósio Brasileiro de Tecnologia Transgênica, promovido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Aos 82 anos, Smithies afirmou que ficaria muito contente se, quando morrer, partes de seu corpo puderem ser utilizadas para salvar outras vidas. “Da mesma forma, se em vez de serem descartados, os embriões humanos forem usados para fins terapêuticos, eles contribuirão para manter a vida.”
“Acredito que, em breve, o uso das células-tronco embrionárias será naturalmente aceito e fará parte do cotidiano da ciência”, apontou Smithies, que, ao lado de Mario Capecchi e Martin Evans, recebeu o Prêmio Nobel por ter desenvolvido uma técnica conhecida como “nocaute genético”, que permite apagar genes para a modificação do genoma de células-tronco embrionárias de camundongos.
A partir do conhecimento de que determinados genes causam doenças humanas específicas, por meio da técnica é possível modificar esses mesmos genes em uma célula-tronco embrionária de cobaia e criar um novo camundongo transgênico com uma modificação genética que imite a doença, de modo que sejam testadas, por exemplo, novas drogas para seu tratamento.
“A técnica consiste no isolamento das células dos embriões dos animais para a posterior alteração dos genes de interesse. Com isso, identificamos genes-alvo e os perturbamos até eles desaparecerem, visando à geração de outros animais modificados que servirão de modelo para o estudo de doenças humanas”, explicou.


Modelos animais
Smithies lembrou que esses avanços tiveram início em uma iniciativa ousada de Evans que, em 1985, isolou pela primeira vez células-tronco embrionárias de um camundongo e as levou, no bolso, até o laboratório do grupo. “Foi quando começamos a estudar esse tipo de célula. Desde então, conseguimos os primeiros camundongos com os genes alterados”, lembrou.
Para João Bosco Pesquero, diretor do Centro de Desenvolvimento de Modelos Experimentais para a Medicina e Biologia (Cedeme) da Unifesp, com a técnica de Smithies e colaboradores será possível gerar animais transgênicos com modificações de interesse medicinal em seu genoma.
“Os modelos animais podem auxiliar no entendimento de como certas doenças surgem, se propagam e devem ser tratadas”, disse o organizador do simpósio. Nesse caso, não estaria descartado o tratamento de pacientes com algum tipo de disfunção genética utilizando terapias celulares que modificam genes dos indivíduos.
Smithies, que trabalha com biologia molecular desde antes de 1953, quando ainda não era demonstrado que o DNA era responsável pela transmissão de características hereditárias, atualmente utiliza células-tronco embrionárias para desenvolver outras cobaias que são usadas no estudo de doenças como fibrose cística, hipertensão e problemas renais.
Por Thiago Romero
Mais informações sobre o 1º Simpósio Brasileiro de Tecnologia Transgênica: http://proex.epm.br

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