quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Portugal não é um país, mas três

A blogosfera política não vê um país: vê uma inextrincável teia de compromissos e de projectos de poder e descreve aquilo que pretende que seja visto como a realidade em cada momento e consoante a visão do respectivo projecto de poder.
A mediaesfera faz mais ou menos a mesma coisa, mas com a desvantagem de já estar previamente alinhada em duas barricadas. Os noticiários mostram a “realidade” do sangue, miséria e desgraça — com a omnipresente polícia que todas as semanas faz a maior apreensão de sempre.
Resta depois o país real, do qual quase nada sabemos. Crise económica? Mas os indicadores desmentem. A sociedade à beira de uma ruptura? Bem sei o quanto alguns desejam vingança sobre o buzinão da ponte, mas à parte a contestação profissional, que é paga para isso e ainda bem, não se vêem sinais de fumo. As duas questões deprimentes de Portugal têm décadas de existência, não decorrem deste governo — e não há quem não saiba disso.
Agora, não nos falta informação — nos media como nos blogues — sobre que país a classe em exercício dos cronistas políticos & similares gostava de ter. Como escreve Vital Moreira em Wishful thinking: “Por mais que os média ajudem, é impossível manter durante muito tempo a invenção de uma país à beiro do abismo. Quem está à beira de um ataque de nervos é quem procura à força tomar os desejos por realidades”.
‘Claro’

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