quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Impulso mercadológico

As terapias com células-tronco não são apenas uma esperança para a cura de diversas doenças: elas são também uma promessa de desenvolvimento econômico. A opinião é de Paul Sanberg, diretor do Centro de Excelência para o Envelhecimento e Reparação Cerebral da Universidade do Sul da Flórida, Estados Unidos.

Sanberg, que também é editor-chefe da revista Cell Transplantation, apresentou nesta terça-feira (19/2), no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas, a palestra “Terapia celular em problemas cardiovasculares e neurológicos: da bancada às aplicações clínicas”.

De acordo com o pesquisador, que é autor de cerca de 500 artigos e tem mais de 25 patentes de produtos voltados para tratamentos com células-tronco de medula óssea e de sangue de cordão umbilical, a pesquisa no setor está entrando em uma nova fase.

“Os avanços são muito promissores e há novos produtos em diversos graus de desenvolvimento. A interação entre academia e indústria tem sido importante. O desafio agora é conseguir recursos para passar para o estágio de testes clínicos de grande escala”, disse Sanberg à Agência FAPESP

Segundo ele, nos Estados Unidos e em diversos países asiáticos a comunidade científica e os governos perceberam o potencial econômico das novas terapias. “A Califórnia, sozinha, investe US$ 3 bilhões por ano em pesquisas sobre terapias celulares e células-tronco. A idéia é que a produção dessas tecnologias se torne economicamente tão importante quanto a do Vale do Silício”, disse.

Sanberg, que é diretor executivo da Sociedade Norte-Americana para o Reparo e Transplante Neural, diz que atualmente as pesquisas na Universidade do Sul da Flórida são focadas em modelos animais pré-clínicos.

“Tentamos responder a questões sobre como injetar as células-tronco, quais as doses ideais, quais são os tipos de células mais eficazes para determinadas doenças e quanto tempo depois da manifestação da doença se deve começar a terapia. Todo esforço é focado em trazer as terapias para perto do paciente”, destacou.

Segundo ele, já existem produtos em estágios diversos de desenvolvimento, mas, a partir de agora, a cooperação entre academia e indústria se tornará crucial. “É absolutamente importante ter uma visão do conjunto e poder trabalhar o processo desde a bancada até o produto. A pesquisa no laboratório é fundamental, mas precisamos também trabalhar com as empresas, porque elas nos levam ao próximo nível”, afirmou.

Para o cientista, nem governo, nem universidades têm capacidade para comercialização e realização de testes clínicos de longo alcance. “Isso não é feito nem mesmo pelas pequenas companhias. Elas fazem uma fase, com 200 ou 300 pacientes e licenciam para os grandes laboratórios, que vão colocar grandes investimentos nos testes clínicos finais”, disse.


Explosão de spin-offs

Sanberg lembra que há cerca de 15 anos houve, nos Estados Unidos, um acirramento da mentalidade empreendedora entre os cientistas. “Isso ocorreu, paradoxalmente, quando os investimentos do governo diminuíram. A escassez de recursos acabou transformando os cientistas em homens de negócios, que precisaram aprender a ter um olhar comercial e a diversificar a busca de fontes de financiamento.”

O quadro gerou uma política de estímulo ao trabalho conjunto entre pesquisadores e empresas, a construção de parques tecnológicos pelas universidades e uma explosão no número de empresas spin-off.

“Na Flórida fomos especialmente estimulados depois dos atentados de 11 de setembro de 2001. A economia daquele estado vive do turismo e, como naquela época ficou muito difícil viajar, ela quase entrou em colapso. A universidade foi estimulada a assumir um novo papel no desenvolvimento econômico. Nesse contexto, nossa área se mostrou especialmente promissora”, apontou.

O grupo de Sanberg, que conta com 25 pesquisadores, trabalha atualmente na aplicação de células-tronco do sangue de cordão umbilical no tratamento de derrame e de esclerose lateral amiotrófica.

“Temos a primeira patente norte-americana mostrando que células-tronco da medula óssea podem ajudar na reparação de danos na coluna vertebral e a primeira para uma terapia com células do sangue de cordão umbilical para tratamento de doenças do cérebro”, afirmou.

'Fábio de Castro'

Sem comentários: