António Preto, deputado do PSD, ainda com um processo a correr nos tribunais contra ele, por fraude fiscal e falsificação, no ‘caso da mala’ de dinheiro, foi nomeado pelo Parlamento relator do novo projecto de transposição da directiva europeia de combate ao branqueamento de capitais. Parece brincadeira de Carnaval, mas é apenas a descarada realidade do nosso poder político-partidário com assento parlamentar.
A Câmara de Isaltino Morais entretém-se a pressionar, com pequenos processos e embargos a obras triviais na sua habitação, o juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal (munícipe acidental de Oeiras para azar seu) que tem em mãos a investigação judicial a Isaltino e que o pronunciou pelos crimes de participação económica em negócio, corrupção e branqueamento de capitais. Parece um episódio terceiro-mundista, mas é apenas a mesquinha realidade do poder autárquico que temos.
A nova ministra da Saúde tem pendente sobre si, com 19 outros antigos responsáveis da Administração Regional de Saúde de Lisboa, um processo de milhões de euros a pagar ao Estado por alegada gestão danosa e pagamentos indevidos à sociedade gestora do hospital Amadora-Sintra, do grupo Mello, nos anos de 1996 a 2002. O processo por eventuais responsabilidades criminais foi arquivado, mas a ministra vai a julgamento no Tribunal de Contas. Admite-se que venha a ser totalmente ilibada, mas até lá persiste a sombra de um indisfarçável incómodo não resolvido. Apesar disso, o primeiro-ministro não teve problemas em convidá-la para o Governo e Ana Jorge não se escusou a aceitar o convite. Parece falta de sentido de Estado, mas é apenas um Estado que não se respeita a si próprio.
A esta sucessão de casos poderia acrescentar-se, entre muitos outros, o da autoria dos projectos de engenharia e arquitectura de José Sócrates. Que levanta legítimas dúvidas, mas que o 1.º-ministro reduziu utilitariamente a um insulto.
O poder político brinca com o fogo ao ignorar o efeito corrosivo das suspeitas que deixa generalizar, ao minar a confiança nos eleitos e nas instituições democráticas, ao desacreditar o papel e o funcionamento da Justiça.
Instalaram-se práticas de permissividade e de promiscuidade onde devia vigorar a noção de integridade e a exigência ética. Depois admirem-se de ver o discurso do populismo justiceiro contra os políticos corruptos ganhar apoios e fazer o seu caminho.
jal@sol.pt
Publicado por JAL
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