terça-feira, 22 de abril de 2008

VISTOS POR DENTRO...

Já passaram 20 anos. Mais, até. Como muitos no jornalismo político, já gostava da política antes do jornalismo. Era de esquerda e não me revia nem no PS "cata-vento" de Soares nem na ortodoxia leninista do PCP (tinha tido contacto directo com essa ortodoxia nas guerras das associações de estudantes na escola secundária que frequentava, Belém-Algés). Tentei a militância nos "Verdes". E as coisas são como são: a figura envolvente da deputada Maria Santos (entretanto dissidente) não foi alheia à tentação. A "coisa" começou com um amigo de escola, o Pedro. Foi a minha "ligação". E os tempos eram muitos interessantes: algures no segundo semestre de 1985, período de intensa campanha eleitoral para as presidenciais que viriam, em Fevereiro do ano seguinte, a eleger Mário Soares. Já me sabia um eleitor de Maria de Lurdes Pintasilgo. Os "Verdes", sendo uma extensão do PCP, apoiavam Salgado Zenha. Entrei no partido com a firme convicção de que seria possível mudar o seu sentido de voto, levando-os a apoiar Pintasilgo.

Os"diálogos" foram mais ou menos assim:

- Sobre as presidenciais...

-Isso já está decidido! Vamos apoiar...

- ...Mas julgo à mesma que deveríamos discutir! Se bem percebi nada foi discutido...

- Foi! E está decidido! Vamos apoiar...

- Eu sei quem vão apoiar! Trata-se de um erro grave para os Verdes apoiarem esse candidato! Se...

- Está decidido, não há nada para discutir!

- É um erro grave! As pessoas em Portugal sensíveis à questão ecológica não se revêem de todo em Salgado Zenha. Se alguém representa...

- Está decidido!

- Não acabei! Se alguém representa a parte do país mais sensível à questão ambiental, esse alguém é a candidata Maria de Lurdes Pintasilgo!

- Está decidido! É o Zenha!

Saí tão depressa como entrei. Convicto, finalmente, que os "Verdes" eram mesmo, como dizia a maledicência, os "melancias": verdes por fora e vermelhos por dentro. Rumei a outras paragens. Até chegar ao jornalismo.

‘João Pedro Henriques’

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