terça-feira, 27 de maio de 2008

O DRAMA DO PSD

O PSD tem um problema: a eleição do líder através do voto directo dos militantes arrisca-se a dar cabo do partido.
Não quero com isto dizer que o PSD corra o perigo de se extinguir.
O PSD (como o PS) ‘existe’ na sociedade: é um partido de eleitores, cuja principal força não está dentro mas fora das paredes da estrutura partidária.
Há gente – muita gente – pelo país fora que nunca votará no PS (por ser socialista), que nunca votará no CDS (por ser pequeno, instável e errático), e que sempre votará no PSD, qualquer que seja o líder e o momento político.
E, mesmo mal liderado, o PSD terá condições para chegar ao poder, visto que o poder não se conquista – o poder ‘herda-se’.
Um partido ascende ‘naturalmente’ ao Governo quando aqueles que o ocupam se esgotam no seu exercício.
Guterres herdou o poder que Cavaco largou, esgotado; Durão Barroso herdou o poder que Guterres largou, igualmente esgotado; Sócrates ocupou o poder que Santana exauriu.
O problema, portanto, não é esse.
O problema é o ‘dia seguinte’.
Com o sistema de eleição directa do líder, o PSD arrisca-se a cair numa deriva populista incapaz de gerar equipas que possam exercer o poder com eficácia e dignidade.
É absolutamente claro que Luís Filipe Menezes não tinha condições para formar um Governo capaz.
A prova, aliás, já estava feita: o pessoal que o acompanhava era mais ou menos o mesmo que participara no desastre de Santana Lopes.
Ora, ainda assim, o partido parece não ter aprendido – e há quem queira reincidir na asneira.
Isto acontece porquê? Porque o processo de escolha do líder é mau.
Muita gente embandeirou em arco com a mudança de estatutos que levou à eleição directa do presidente do partido pelos militantes.
Era o método mais democrático, dizia-se.
Só que também é o método que permite maior manipulação – e que privilegia os que dominam a máquina partidária em detrimento dos mais capazes para governar.
Com a eleição directa do líder, há o perigo de se cavar cada vez mais o fosso entre o PSD e o país.
Os militantes que votam são em geral os mais interesseiros, os mais inflamados, os mais sectários – e, portanto, aqueles cuja opinião está mais distante dos eleitores ‘normais’.
Dirão os defensores deste sistema: mas não acontece o mesmo na América?
Não é verdade que os candidatos do Partido Democrata e do Partido Republicano são escolhidos pelas bases?
É quase assim.
Só que, nos EUA, cada candidato resulta do voto de muitos milhões de eleitores – pelo que representa, de facto, uma parte importante da América.
Ora o líder do PSD é escolhido por uns escassos milhares de militantes – o que, além de facilitar a manipulação, é muito pouco significativo do sentir dos portugueses.
Com este sistema, portanto, dificilmente o PSD irá lá.
Há o perigo real de se agravar o divórcio entre a elite e as bases, como se viu durante os seis meses do consulado de Menezes.
E o líder tenderá a ser cada vez mais um homem do aparelho, sem dimensão de Estado.
Num país pequeno e com poucos hábitos de participação política, como Portugal, a eleição dos líderes partidários deve ser feita em Congresso e não directamente.
Isso dá à elite do partido outra capacidade de intervenção, permitindo escolhas mais racionais, mais ponderadas, mais fundamentadas, mais consistentes.
Se o processo de eleição do líder do PSD tivesse alguma racionalidade, Santana Lopes nem sequer se teria agora candidatado, com vantagem para todos – para ele, para o PSD e para a própria estabilidade política do país.
A candidatura de Santana à liderança do PSD, neste momento, só pode ser tida, de facto, como uma brincadeira.
Ora Portugal não está em altura de brincar à política e aos políticos.
P.S. – A polémica sobre o cigarro fumado por Sócrates num avião ilustra bem o estado do país. Um tema destes fazer manchetes na imprensa dita ‘séria’ cobre-nos de ridículo.

Publicado por JAS

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